“Estar na linha de frente, diante de uma pandemia não tem sido fácil. Há pouco mais de um ano, temos trabalhado de forma incansável (mas estamos sim cansados!) em prol da vida. Que Deus continue a nos dar forças e que não percamos nossa fé diante das adversidades diárias”.
[Viviane Fonseca, CTI COVID do Hospital Odilon Behrens, BH]
Há um ano, a OMS declarava que estávamos dentro de uma pandemia. O anúncio da Organização Mundial de Saúde ocorreu três meses após o primeiro caso surgir em Wuhan, na China. O vírus já havia chegado em Portugal e pouco mais de 4 mil pessoas haviam morrido.
Ao completar um ano, a marca de óbitos atinge os mais de 2,6 milhões em todo o mundo. O Brasil ultrapassa os 270 mil. “Cabe a cada país – diz a declaração da OMS – mudar o curso dessa pandemia quando forem detectados (casos), testarem, tratarem, isolarem, rastrearem e mobilizarem as pessoas na resposta. Estamos nisto juntos e precisamos fazer com calma aquilo que é necessário”.
Bianca Costa Diniz, técnica em enfermagem numa Unidade de Atendimento localizada num município pequeno, em Minas Gerais, conta um pouco sua experiência nessa luta na “linha de frente” no combate à Covid-19:
“Um dia atendi um paciente com dor na coluna e a ironia foi muito grande, pois ele foi questionado pelo médico o porquê de estar ali, numa pandemia tão forte, apenas por causa de uma “dor simples” que poderia ser medicada em casa. O paciente nada respondeu ao médico e quando o encaminhou a mim o paciente me disse que se o covid estivesse mesmo matando profissionais da saúde, eu não estaria ali trabalhando. Admito que agi com grosseria na resposta dada. Sou uma profissional da linha de frente. Se eu e os outros não colocarmos a nossa vida em jogo para cuidar da vida dele, quem irá?
Hoje, (15 de março) houve superlotação aqui na Unidade. Não tinha onde atender mais pessoas e um paciente foi muito grosso e mal-educado com a enfermagem. Ele até procurou o prefeito pra falar que nós negamos atendimento. Ninguém queria que alguém fosse embora para casa sem atendimento. Mas, a situação era muito delicada.
Por favor!
Se puder, fique em casa; não saia; não aglomere. Se precisa ir trabalhar, tenha sempre contigo um pouco de álcool; no mínimo duas máscaras limpas. Não quero mais ter chorar por nenhuma família. É desolador ver um corpo num saco preto e não poder ser velado pela família. Não poder se despedir, e isso dói muito. Só quem esteve nessa condição, sabe. Se precisar sair, proteja-se; proteja sua família”.
Para concluir essa matéria e esse relato da Bianca, nosso poeta do Blog Cicatriz expressa em palavras, versos, rimas e poesia um pouco do que vivemos nesse ano de uma “era” que mesmo sabendo que vai ficar gravada nos anais da história, nós gostaríamos que ela pudesse ser esquecida de nossas memórias:
A dor de uma “Era”
Era uma festa com os amigos,
Mas virou um suicídio coletivo!
Era uma celebração com mais pessoas na igreja,
Mas virou um funeral sem ninguém no cemitério!
Era um aniversário só com os familiares,
Mas virou uma nota de pêsames à todos os conhecidos!
Era uma visitinha,
Mas virou uma despedida!
Era uma ida ao mercado,
Mas se transformou em uma ida à funerária!
Era um aperto de mão, uma simples saudação,
Mas virou um boletim médico, uma terrível intubação!
Era um abraço pra matar a saudade,
Mas, foi o “toque de despedida”, pois ignorou-se o “toque de recolher”!
Era um beijo de amor,
Mas virou uma certidão de óbito!
Era uma gripezinha, um espirro, uma alergia,
Mas deixou sequelas e marcas em tantas famílias!
Era um novo vírus desconhecido lá na China,
Mas se espalhou mundo afora, e aos 20 anos do Novo Milênio transformou-se numa terrível pandemia!
Por Christian Maia | PUC Minas
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Por Mínison Domingos | Matipó-MG
16 de março de 2021
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