17 Nov
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Os longas de bang-bang, de faroeste e dos cenários de época com duelos a tira roupa, roupas de cowboy e os luxuosos saloons onde as belas damas ofertam muito mais que bela voz e coreografia, estão de volta por trás das minuciosas lentes do cineasta James Samuel que também assina o roteiro, a produção e a trilha sonora. Diga-se, de passagem, e que trilha sonora. Um espetáculo de músicas e coreografias que embalam perfeitamente a trama e a poeira do Velho Oeste.  

O elenco? Melhor que esse desconhecemos: Idris Elba e Jonathan Majors é a dupla de protagonista e antagonista. Junto a eles soman-se, Regina King, Zazie Beetz, Lakeith Stanfield, RJ Cyler, Delroy Lindo e Edi Gathegi. A trama envolve um crime na qual o pequeno Nat Love (Majors) assiste o líder de gangue Rufus Buck (Elba) assassinar seus pais na sua frente. Anos depois Nat Love empreende uma busca desenfreada em busca de vingança contra Buck o que concomita todo o roteiro final dessa história. Menos laços de amor e paixão (o que são estereótipos já consagrados nesse estilo de filme), o longa de Bullitts aposta muito mais nos combates sangrentos, menos em situações familiares, e mais em dramas e sequências de fuga. 

A fotografia de Mihai Malaimare Jr. não deixa a desejar e nos apresenta planos gerais de tirar o fôlego, sobretudo quando as lentes se fecham até focar naquele detalhe que pode mudar toda a narrativa. O longa lançado pela plataforma de streaming Netflix consegue aplacar uma história de pessoas reais numa narrativa fictícia regada a boa música e um elenco negro representando um Velho Oeste livre de uma certa supremacia branca. (Atenção: há spoilers a partir daqui). 


Idris Elba contra Jonathan Majors 

“Embora os eventos desta história sejam fictícios... Essas pessoas existiram”. O letreiro que abre a experiência de Samuel apresenta uma dupla interpretação muito importante para os amantes da Sétima Arte. Essas pessoas existem e existem até hoje. O protagonismo negro visto no Velho Oeste torna-se entre Elba e Majors, um diferencial significativo para o sucesso da obra. Também o de mulheres negras como King e Beetz que protagonizam o melhor duelo de todo o longa. Não são personalidades femininas amparadas pelo macho hétero autoritário, muito pelo contrário, elas narram suas histórias, inclusive, superadas à dos seus parceiros. 

Vingança e Castigo é aquele produto que sabe o que quer nos entregar e entrega com expectativa merecedora. A trilha sonora sabe onde entrar e onde deve aumentar ou sumir da cena. No mesmo ritmo da bala de uma arma ou de um rifle, são as notas musicais que entram e saem de cena de forma grandiosa. Mesmo não tendo uma narrativa familiar fortemente presente em toda a trajetória do roteiro, as cenas finais apresentam uma virada inesperada e que emociona. 

Por fim, Elba e Majors entregam suas melhores atuações para um filme de Velho Oeste no qual o objetivo primeiro não é o de entreter ou o de fazer rir com coreografias superficiais e história fraca. Nesse caso, Samuel entrega uma história emocionante sobre um drama familiar que não ficou no passado, mas que nos assombrou como espírito fantasmagórico, o nosso presente. É por isso a vingança. E, o castigo, seria o de ter que enfrentar o próprio trauma familiar gerado quando criança pela violência do pai e, depois, no presente, já adulto, pela arma do próprio irmão.




Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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