03 May
03May

Os elogios que cercam o novo romance de comédia Uma Ideia de Você dar-se-ão por conta do que o filme é: adaptação literária escrita por Robinne Lee sobre uma fanfic envolvendo um romance entre um jovem de uma boy band e uma mulher mais velha. Por outro lado, as críticas não tão favoráveis que atormentam a obra dirigida por Michael Showalter ressaltam o desafio que o gênero ainda enfrenta em tentar superar narrativas já tão gastas na história do cinema. O trabalho de Showalter e de Lee que assinam juntos o roteiro é, de certa forma, bom. Não é primoroso, mas é digno de nossa atenção. Contudo, estamos assistindo uma era em que estúdios independentes estão injetando na indústria do audiovisual novas – e muito boas – artes que têm ganhado nossa admiração com mais intensidade. 

Anne Hathaway e Nicholas Galitzine constroem uma química em cena que nos pega de surpresa. O que ajuda nessa construção apaixonante dá-se, também, pelo fato de serem dois atores de diferentes gerações: Hathaway tem seus 30 anos de atuação e vencedora de Oscar. Na tela ela protagoniza uma mulher com a mesma faixa etária e experiência profissional. Galitzine é o oposto, também na vida e no personagem que interpreta. Ambos se revelam ótimos profissionais quando entregam a ingenuidade dele com a experiência de vida dela. As aventuras sonhadoras dele com a marca e as aventuras que ela já viveu um dia. 


Os desafios de se apaixonar 

Em vias subjetivas e de pouco raciocínio lógico – até porque a maioria acredita que o amor é esta coisa revolucionária que não tem hora e nem lugar – apaixonar-se por alguém nunca é algo que faz parte de nossa agenda de compromissos. Solène (Hathaway) e Hayes (Galitzine) experimentam isso nesta narrativa. Duas pessoas de mundos diferentes: ela, uma curadora renomada de arte moderna e ele, um vocalista de uma das bandas mais seguidas pelos jovens da atualidade. Enquanto ela é uma mulher que gosta de prevê tudo, cronometrar tudo e cumprir com uma agenda; ele nem sequer, precisa cuidar de sua própria agenda. 

Mas, o coração do filme é outro. Não é nem o dela e nem o dele. O coração deste filme bate mais forte quando uma história de amor precisa ser interrompida pelo o que chamamos de pré-julgamentos determinados pela vida social. Hayes é um homem público. Está todos os dias nos tredding topics do X; está todos os dias na TV; toca todas as horas no Spotify e, a cada minuto, um jovem prega um poster dele na parede do quarto. Solène, de nacionalidade francesa e muito tradicional à sua cultura; é uma mulher que tem uma filha de 16 anos – quase a mesma idade de Hayes – um negócio para gerir, um divórcio para superar e uma vida normal, sem grandes eventos. 

O trabalho de Showalter ganha a nossa atenção quando a narrativa dá voz aos que estão à volta do mais novo casal que se formou diante dos holofotes dos sugadores de plantão com suas câmeras filmadores em busca de um deslize que possa provocar certo escândalo e viralizar nas redes sociais. Uma paixão que vira escândalo e tira a paz de todos ao redor. Uma relação que virou notícia pelo motivo mais sórdido que existe e provocou uma série de perturbações na ordem social e familiar. 


Uma Anne Hathaway amadurecida 

Este filme é todo dela. Hathaway abraça a história com tudo. Podemos afirmar que não só o coração, mas os pulmões desta obra estão com ela. Galitzine não perde seu mérito quando atua também respeitando a grandiosidade da mulher que o abraça – literalmente – mas, sua atuação ganha respeito e admiração. O ato final da obra de Showalter nos pega de surpresa quando a narrativa decide abandonar toda a magia que o longa construiu gradativamente e nos entrega um desfecho não muito encantador. Contudo, é uma conclusão mais realista, talvez, mais próxima do que podemos encontrar no agora de nossas vidas quando assistimos a esta mesma história na rua de onde residimos.

Nicholas Galitzine além de ser um bom ator, ele é cantor, e seu talento começou a ganhar os holofotes em 2014 quando estreou The Beat Beneath My Feet, e Hathaway não é a única vencedora do Oscar que dividiu tela com ele. Em Mistério no Bosque, filme de 2017, o jovem ator teve a honra de trabalhar ao lado de Anjelica Huston. As atenções dos streamings para Galitzine talvez tenham ganhado força por conta desta trinca: Cinderella (2021 – de Kay Cannon); Continência ao Amor (2022 – de Elizabeth Allen Rosenbaum); e, Vermelho, Branco e Sangue Azul (2023 – de Matthew López). Três adaptações que não fogem deste padrão comum e que coloca o jovem promissor ator numa seara que pode alavancar sua carreira.



Por Dione Afonso  |  Jornalista

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