28 Jun
28Jun

Solos (Sozinhos) é aquela ficção-científica que vai além dos experimentos tecnológicos e das loucuras que um Black Mirror faz afim de mostrar que a inteligência e a criatividade humanas podem ir muito além que a nossa mera consciência. Criada por David Weil, a história toca no mais sensível da vida humana e nos faz emergir em monólogos imprevisíveis e de total solidão. Weil não se importa em explicar o porquê dos aparatos científicos ali presente, ele só quer nos ajudar a nos libertar. 

Em tempos de isolamento social imposto pela pandemia da covid-19, Solos vem quebrar a ideia de que estamos isolados de todo o resto. Mesmo tentando ser antissocial, nem que seja nossa memória, há uma certa conectividade entre nós e o mundo, a natureza, as pessoas e tudo o que existe e vive. Os episódios funcionam como histórias individuais e até mesmo contando histórias totalmente diferentes, de pessoas diferentes e totalmente distantes uma das outras, há algo que os une na temporada completa: a dor, a doença, a fraqueza e o medo humanos. (atenção: há spoilers da primeira temporada) 


Por que fugir? E para onde fugir? 

Por que assistir Solos? Primeiro, porque a série reúne Anne Hathaway, Helen Mirren, Uzo Aduba, Dan Stevens, Morgan Freeman, Anthony Mackie, Constance Wu e Nicole Beharie. Com esse elenco reunido numa mesma produção de rápidos 7 episódios curtos, isso já é o bastante para nos convencer. Mas, mais do que isso, Solos, uma ficção-científica, vai além do seu propósito. Não procure assistir aos episódios na tentativa de se encontrar com elementos de alta tecnologia nas quais você irá sonhar com um futuro fantástico. Não. Para isso você tem outras séries. Mas, Solos quer nos reconectar com o que há de mais sagrada na nossa vida: nós mesmos. 

Até em que ponto a humanidade pode se deixar interferir com os avanços da tecnologia? A autorreflexão é o caráter básico dos episódios que tiveram grande apreço nos monólogos extensos, mas muito profundos. Em nenhum momento a conversa deixou de ficar interessante. Mesmo sendo curto, não é o tipo de temporada que se esgota numa maratona. É preciso assistir, levantar, pensar, refletir, depois voltar pra continuar o próximo episódio. 

Um outro elemento interessante e divertido são as referências que vão desde De repente 30, a Vingadores Ultimato. Isso, sem contar nas mais divertidas referências de grandes nomes da música. 


O que nos conecta? 

Os episódios carregam uma identidade: LEAH (Anne Hathaway); TOM (Anthony Mackie); PEG (Helen Mirren); SASHA (Uzo Aduba); JENNY (Constance Wu); NERA (Nicole Beharie) e, STUART (Morgan Freeman). Identidade, ou seja, não importa qual é a sua dor, qual sua fraqueza, o que te faz sentir pequeno e impotente, mas esse é você. Leah, por exemplo queria fugir da dor de perder sua mãe pra uma doença que não tinha cura, Tom estava doente, pai de dois filhos, não queria se despedir de sua família, então, um clone o substituiria. Peg, uma idosa que já se sofreu muito na vida, não quer morrer sem viver uma aventura... todos estão conectados ou pela doença, ou pela dor. Sasha escolheu se isolar numa casa de vidro e não ter mais contato nem mesmo com a natureza, pois julga-a contaminada por um surto viral (qualquer semelhança com o coronavírus é mera coincidência, ou não). 

Solos é mais sobre os homens que sobre as máquinas; mais sobre as relações que os cabos; mais sobre quem eu amo do que quem me odeia; mais sobre eu e tu do que alguém só. Alguns atores, já consagrados na carreira, com um episódio que beira os 30 minutos conseguiram entregar o melhor de sua carreira com monólogos perfeitamente encenados e de profundidade. 

Em tempos de solidão, dor, morte, tristeza e isolamento, a série consegue tocar na nossa ferida, naquela que falta um toque especial de humanidade. Estamos com medo. Temos medo. E um medo que jamais tivemos em outros tempos. Mas não estamos sozinhos. Talvez isolados, por necessidade e precaução, mas, nunca sozinhos. 




Dione Afonso  |  Jornalismo PUC Minas

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