03 May
03May

Rumores e versões alternativas podem sim, se tornar estratégias muito bem programadas de marketing. Sidney Sweeney e Glen Powell fazem dos clichês e da mesmice as melhores armas para fazer de adaptação shakespeariana sucesso de crítica e de bilheteria. Dirigido por Will Gluck, adaptação de Muito Barulho Por Nada, de 1600, um dos textos mais estimados do autor inglês, comédia abraça todas as suposições cômicas e se entrega às risadas numa história de amor-quase-amor regada a encenações baratas e amizades grotescas. Desde ao meet cute (aquele encontro fofo, o primeiro contato, sem planejar nada)namoro de mentira, triângulo amoroso e o mal-entendido, narrativa também abraça o enemies to lovers (quando o casal se desentende no começo, mas depois se aproxima) na maior cara de pau. Mas, tem quem goste, e, neste caso, muitos gostaram. 

Sweeney é Bea, uma jovem universitária em advocacia que, sempre foi vista pelos pais como uma jovem que precisa de rédeas curtas afim de não se perder na vida. E Ben é um T.I., analista de dados, também jovem que não tem grandes ambições de futuro. Já de cara, o meet cute entre os dois já nos causa estranheza, a ponto de quase desistirmos de acompanhar a jornada. Contudo, ao passar o primeiro ato e inserir o segundo, as coisas começam a ganhar outro teor e é aí que percebemos que o roteiro pretende jogar na nossa cara todos os clichês possíveis, mostrando que, quando bem colocados, podem nos causar boas impressões. 


Não existe amor à primeira vista... será? 

O novo trabalho de Gluck é uma sucessão de causalidades que não se encaixam e que não tem como todas elas funcionarem numa mesma linha narrativa. E isso nos desconforta a ponto de não querer desistir do filme e acaba nos prendendo a cada cena. Até o clichê operação cupido aparece na história, contudo, o roteiro nos surpreende ao não nos entregar aquele clichê modesto e convencional como sempre vimos, aqui, ele ganha nova roupagem e o público acaba se divertindo com os personagens e o carisma de Sweeny e Powell. Aqui vemos o quanto foi criativo contemporaneizar a comédia de Shakespeare. O uso da metalinguagem, por exemplo, foi um recurso sagaz ao satirizar o conto original. 

Quem nunca quis subir na proa de um barco e repetir uma das cenas mais românticas do cinema assim como Jack e Rose em Titanic? Os clichês aqui ainda não foram o bastante, Bea e Ben reproduziram a cena como “uma cartada final”, no namoro de mentirinha. O humor é elevado em mais um grau, trazendo o cômico para o primeiro plano da narrativa. Claro que ver Powell nu no alto do penhasco e Sweeney de cócoras olhando de baixo pra cima pra entre as pernas dele foi uma das cenas mais hilárias do filme – e constrangedoras. 

O que mais vale nesta obra é ver o crescente sucesso de Sidney Sweeney em tela. Seu terror, Imaculada, de Michael Mohan também está em cartaz e está sendo sucesso de bilheteria. A atuação desta jovem atriz está ganhando nossa atenção e queiramos que também os holofotes das gigantes da indústria. Glen Powell também é um grande ator que merece ser reconhecido por gêneros maiores. Todos Menos Você é um filme que pode te fazer raiva, visto o óbvio que ele se propõe a contar, ou pode te render boas risadas, pela forma que o óbvio é apresentado de maneira criativa e inteligente.



Por Dione Afonso  |  Jornalista

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