22 Nov
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Novo filme da Netflix que traz no papel protagonista o incrível Andrew Garfild é um musical inovador que canta e emociona a juventude, os sonhos, os dramas, a doença, o amor, a diversidade, as dúvidas, a luta por visibilidade, a profissão e a amizade. Tick tick...Bom! é escrito por Lin-Manuel Miranda e conta a história do incrível Jonathan Larson que escreveu o mais famoso musical da Broadway, Rent, em 1996 e que está em cartaz até hoje. 

Tick, tick...Bom! é o segundo musical escrito por Larson, mas o primeiro que foi a público e que encheu plateias do teatro para admirar a história que Larson contava atrás das letras de suas músicas. Sabemos que um filme do gênero musical tem a sua roda de preferências, um público bastante específico, no entanto, Tick, tick...Bom! parece fugir a essa regra e traz um musical que nada tem a ver com esplendorosas coreografias e grandes timbres vocais ou figurinos espetaculares. Não, vai mais fundo que isso. Larson escreve sobre o que vivia e transformava tudo aquilo em melodia, para não só cantar, mas, sonhar e viver. 

Junto de Andrew Garfield vivendo Jonathan Larson, temos também Alexandra Shipp, Vanessa Hudgens, Robin de Jesús, Jordan Fisher, MJ Rodriguez, entre outros. Miranda, então, decide escrever uma história colocando no centro os dilemas de um jovem que, mesmo atingindo o sucesso que sempre sonhou, sua trajetória curta e passageira foi marcada por dilemas de vida mais concretos e difíceis de superar. (Atenção: há spoilers a partir daqui).   


A crise dos 30 

Há um certo tom humorístico também nessa transição da juventude para a vida adulta de Larson. Nas vésperas de seus 30 anos, o jovem vive o dilema de sempre buscar, a qualquer custo, o seu grande sonho de poder apresentar nos palcos da Broadway o seu musical. Larson, que passa oito anos escrevendo e reescrevendo sua primeira peça, a Superbia, compreende que, mais do que compor sobre a vida, é preciso compor sobre aquilo que vive e que tem contato diariamente. 

“Pergunte aos pássaros o que eles preferem: gaiolas ou asas?”, entoa um dos versos de suas canções. E é bastante sobre isso: gaiolas ou asas? Amor ou medo? Amizade ou trabalho? O ambiente em que a vida de Larson, no roteiro de Steve Levenson é contextualizado nos insere naquela Nova York que sofreu o surto de HIV e a escassez de tratamento, sobretudo à população mais carente. Larson começa a ver seus amigos partindo um a um. A cena em que, desolado, com medo, confuso, Larson começa a tocar o piano debaixo de chuva numa praça no centro de Nova York é de nos fazer soluçar de angústia, sem saber se choramos ou se sentimos dor, revela o quanto o estigma social daqueles que carregam uma doença que não tem cura, segrega-os. 

Quando ele conta no musical Tick, tick...Bom! que nos últimos meses ele enterrou três de seus melhores amigos, a música é um soco no estômago da gente e, a partir daí, percebemos que Larson, a sua vida inteira, mesmo que curta, nunca quis que cantássemos, mas que vivêssemos. Por isso o soar do tick, tick, tick, tick... a vida está passando, tick, tick, tick... seus amigos estão indo embora... tick, tick, tick... os boletos estão se acumulando, tick, tick, tick... seus relacionamentos estão ficando em terceiro, quarto, quinto planos, tick, tick, tick... os pássaros ganharam asas, e você? Tick, 

...tick, 

...tick... 

Boom! 


Jonathan Larson e a cultura musical 

A metalinguagem que Miranda assume em Tick, tick... Boom! De narrar a história de um musical, contando sobre um outro musical, ou seja, o musical “tick, tick...Boom!”, conta a história do processo de criação do musical “Superbia”¸que nunca foi para os palcos. Logo depois, num final desolador e solitário, o musical Rent, o último que Larson escreveu, mas que nunca teve a chance de vê-lo cantado e vivido nos palcos, por conta de sua morte repentina causada pela dissecção da aorta. Aos 35 anos, Larson inaugurou um novo conceito de musical com suas produções originais que se preocupavam em abordar temas mais vivenciais e de contexto atual.

Levar para o palco e para as músicas a cultura da homossexualidade, elevar humanamente a comunidade LGBTQIA+, o próprio filme de Miranda ter uma transgênero no elenco, MJ Rodriguez, famosa por Pose. Revelar, com repúdio e dor, o descaso da política novaiorquina pelo alto índice de jovens que morriam com o HIV, jovens sem acesso ao tratamento eficaz e rápido que eram jogados na sarjeta social e não eram vistos como um ser humano com os mesmos direitos que outros. Larson viu tudo isso acontecer na sua casa, na vizinhança, com seus amigos. O jovem atendente num restaurante servindo mesas e escrevendo essas histórias não parecia também ser promissor... 

Tick, tick...Boom! é sobre superação, amizade, resiliência e, acima de tudo, o grande drama dos jovens que sentem estar vendo o tempo passar enquanto eles se estagnam numa condição de zero perspectiva de futuro. Jonathan Larson (1960-1996), viveu por 35 anos, seu primeiro musical “tick, tick...Boom!” inaugurou um novo conceito dentro dos musicais da Broadway. O musical “Rent, é a produção da Broadway com mais tempo de cartaz e a mais bem sucedida na história do teatro. Assistir Tick, tick... Boom!, é se debruçar sobre uma vida que é passageira, cheia de sonhos, e repleta de amores, prazeres e amizades que, uma hora, são colocadas diante de um sacrifício necessário, afim de ter de escolher entre gaiolas ou asas...




Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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