16 Jun
16Jun

Quem comanda o mais novo sucesso de views do streaming é o cineasta francês Xavier Gens. Mesmo a história parecendo ser real, nunca se ouviu falar de tubarões nos rios da França. Contudo, a ambientação do trabalho de Gens aproveita da temporada esportiva que o país irá sediar: as Olimpíadas. Por conta do evento, alguns dias antes, durante o verão europeu, Paris realiza a competição de Triatlo que acontece no Rio Sena e neste ano, o evento inaugura o cartão-postal do país para as próximas Olimpíadas. A parte dos tubarões fica por conta da imaginação parisiense já típica da cidade mais desejada do mundo por turistas e românticos. Apesar do filme ter seus pontos altos e muito bem posicionados. A narrativa que envolve experimentos científicos e comportamento biológico dos seres aquáticos não carimba com sua exatidão e tudo fica um pouco sem confirmação. 

Por outro lado, a pauta sobre política ambiental que se levanta acaba ganhando peso, contudo, sustenta-se apenas no primeiro ato do filme. Os arcos dos personagens são muito bem construídos, até mesmo daquele que sobrevivem por pouco tempo. Sob as Águas do Sena acompanha a oceanógrafa Sophia Assalas (Bérénice Bejo) que, três anos após perder seu marido e equipe num ataque de tubarões em pleno oceano, decide sair de cena das grandes investidas de mergulho e catalogação. Neste passado, sua equipe acompanhava o desenvolvimento de Lilith, um tubarão fêmea que acaba adentrando o Rio Sena de água doce, bem no centro de Paris. Neste momento, aparece o sargento Adil (Nassim Lyes) que depois de tanto ignorar, decide dar ouvidos à Assalas. 


Uma ficção com traços de realidade 

Mesmo o fato de ter tubarões nos rios da França ser uma possibilidade, mas que nunca, até hoje, foi constado na história, o suspense francês não consegue sustentar sua proposta. Percebe-se que o roteiro que Gens assina junto de Yannick Dahan e Maud Heywang não tiveram ousadia em abraçar o absurdo narrativo, afim de nos conquistar com, pelo menos, uma pitada de veracidade. Um fato real: Paris sediará as Olimpíadas de 2024 nos próximos dias, no mês de julho. Uma competição de natação é realizada às vésperas do grande evento mundial no Rio Sena. O absurdo ficcional: na mesma época um tubarão gigante surge no meio da capital francesa e começa a engolir os cidadãos misteriosamente. 

Na medida em que o filme vai desenvolvendo sua narrativa, outro fato real que perdeu sua força no roteiro, foi a poluição dos rios e oceanos com a imensa onda de plásticos descartáveis que a população lança nas águas. Mesmo Gens tendo levantado uma importante e atual pauta ambientalista, ela perdeu sua força ao ser substituída por um grupo de jovens bitolados que, mesmo desejando salvar os tubarões de uma possível onda de caça predatória e ilegal, não se encaixaram no politicamente correto. Este foi o maior pecado do roteiro, pois o fanatismo político mata e destrói relações humanas que deveriam ser pautadas na boa diplomacia e governança pública. 

Hoje, a política ambiental não tem ganhado a força que deveria na sua busca por proteção do planeta e cuidado com nossas águas e a terra. O filme perdeu uma chance de ouro em levantar esta bandeira e deixar uma lição. Enquanto a prefeita de Paris (Anne Marivin) está preocupada com um evento que investiu bilhões e que garantirá o seu sucesso partidário-político, o filme precisa lidar com uma negligência humano-política que despreza o bem-estar e a vida das pessoas. 

Por fim, o filme tinha dois caminhos para seguir: ou abraçaria o absurdo ou avançaria num discurso mais sério ou dramático. Infelizmente ele não seguiu nem pra um lado e nem pro outro o que nos deixou um vazio de desinformação que não acrescentou muito pro conhecimento geral. O filme ganha em sua estética, tem boas atuações, um elenco bem escolhido e efeitos visuais incríveis. O ninho de tubarões nas catacumbas subterrâneas da cidade francesa no proporcionou os melhores cenários debaixo d’água que o filme produziu.



Por Dione Afonso  |  Jornalista

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