Um ícone nacional! É assim que até hoje, 30 anos depois de sua partida, vemos quem foi Ayrton Senna. Um piloto de Fórmula 1 que mais ergueu a bandeira brasileira no esporte. Assim como Senna era o nome nas corridas, Pelé o foi no futebol, Guga Kuerten ascendia no tênis... enfim. A minissérie de 6 longos episódios tenta mostrar como que aconteceu a rápida ascensão de um adolescente que já praticava seu esporte favorito quando criança em pistas de kart, até se tornar um dos maiores pilotos no Grande Prêmio da F1. Biografia é construída ancorada em memórias reunidas pela família e narra um pouco de sua vida pessoal, sem exceder nas intimidades até sua vida profissional, na qual é super agitada e movida pelo grande sonho de Senna.
Gabriel Leone é quem dá vida ao protagonista, e o jovem ator é tímido tal qual foi Senna. Leone consegue transmitir a nós a jornada de um jovem que não se deixou levar pelo desânimo e pelas barreiras que a política esportiva colocava. Junto dele, a família Senna contou com Nicolas Cruz, como Leonardo Senna; Camila Márdila como Viviane Senna; Marco Ricca foi Miltão, o pai e a mãe, dona Neyde Senna foi interpretada pela Susana Ribeiro. Depois o elenco conta com Pâmela Tomé, que deu vida a Xuxa Meneghel; Julia Foti como Adriane Galisteu; Gabriel Louchard foi um Galvão Bueno de arrepiar e Matt Mella se destacou muito bem como o piloto e grande amigo de Senna Alain Prost. A minissérie também resolveu se ancorar na personagem ficcional, a jornalista Laura Harrison, que foi interpretada por Kaya Scodelario.
A qualidade de produção a série é inigualável. Vicente Amorim, Julia Rezende e Marcelo Siqueira dirigiram e executaram a ideia com muito profissionalismo e respeito pela imagem de quem foi e ainda é toda a família Senna. Muito jovem, sem saber nada de inglês, Ayrton Senna da Silva – no início tentaram emplacar o nome Ayrton da Silva – parte para a Europa tentar uma vaga nas grandes corridas do mundo. Recém-casado com Lílian, o casal parte para o que deveria se tornar uma calorosa aventura, contudo, vemos como que uma carreira de sucesso e a vida profissional necessita de muito jogo de cintura para não ferir a pessoal e a familiar. Com um casamento que não dura mais do que dois anos, também, muito cedo, Senna se vê encarando um divórcio.
O papel de Kaya Scodelario como a jornalista esportiva Laura Harrison nos chama muito a atenção – talvez até mais do que deveria – mas sua presença como atriz e até mesmo a sagacidade jornalística que Harrison imprime na série consegue com que nossa atenção se volte para ela. Senna, já de imediato, consegue compreender que nem sempre a mídia está interessada em divulgar o que, de fato, aconteceu. Manchetes sensacionalistas, ou com títulos chamativos e com expressões de impactos também afetaram a vida profissional do piloto. Senna consegue, entre uma entrevista e outra, criticar a postura de fotógrafos e jornalistas que são capazes de qualquer coisa para obter o maior número de leitores e de assinantes nos maiores portais de notícias. Harrison, nesta minissérie, é uma personagem que foi criada para representar toda a mídia que circundou a trajetória de Senna.
A série também não se acomoda ao condenar veemente uma política esportiva xenofóbica e corrupta. Senna se vê muitas vezes discriminado por ser brasileiro e de família de classe baixa. Só o fato de não ser Europeu o tirava de grandes disputas e isso o fazia “botar a boca no trombone” e condenar o que ele, diversas vezes chamou de política esportiva suja e de mau caráter. Nisso dá-se a sua mudança de Da Silva, para Senna, um sobrenome que carregou graças ao seu avô italiano. Com um sobrenome “menos brasileiro”, ele ascendeu. Alain Prost, um piloto francês que ao mesmo tempo que era inimigo nas pistas, acabou se tornando parceiro de corrida, um dos maiores rivais de Ayrton Senna e depois um grande amigo. Mella foi brilhante com as escolhas que fez para interpretar o Tetracampeão Mundial de F1.
Um grande sonhador. O que a minissérie nos deixa é que Ayrton Senna foi um grande sonhador. E ele sonhava com propósito e corria sempre com um objetivo. Para a nossa geração é difícil dizer com mais veracidade quem ele foi, muitos de nós que estamos entre os 30 e 40 anos não viu Ayrton Senna correr nas pistas. Vítima de um acidente fatal em 1994, a maioria de nós contávamos com mais ou menos 5 anos de idade. Mas até hoje nós ouvimos histórias sobre ele. Contam-se histórias das corridas dele. Ele corria com emoção; ele disputava com garra e coragem. E quando ele vencia, mas, o seu título lhe era tirado pela famosa política corrupta, ele não ligava por não ter levado o troféu, ele se enfurecia com a falta de caráter e ética no esporte. Ele não lutava por sua imagem, mas se importava com o que o mundo pensava do Brasil e como tratavam o brasileiro.
Por fim, a minissérie é um uma superprodução que soube valorizar um jovem brasileiro que lutou por algo que fazia sentido em sua vida. Gabriel Leone refletiu com muita paixão e verdade a personalidade de Ayrton Senna, o que foi um grande desafio para a produção. Vale muito a pena conferir a obra e perceber como que a personalidade Senna ainda desperta muitas emoções. Sem se preocupar com as fofocas, os romances, se foi Xuxa ou se foi Galisteu, a série é unicamente sobre o Ayrton Senna. É sobre uma família que se importa em mostrar o que é bom e o que foi único na vida de um jovem que representa muito para os jovens brasileiros. Tal escolha foi super válida e que conseguiu conferir honestidade a toda a história. A construção de cada episódio e os títulos de cada episódio conseguiram nos colocar na essência do que é sonhar com uma jornada como a que ele sonhou. Se nós abrimos este texto afirmando que Senna foi um ícone nacional, agora encerramos, dizendo que Senna foi e é um ídolo do mundo todo.
Por Dione Afonso | Jornalista