23 Dec
23Dec

O hate que Snyder vem recebendo dos críticos de cinema é um gesto muito duro e cruel em cima de um artista do cinema e da TV. Por mais que sua obra seja peculiar e bastante destoante dos demais, o cinema de Zack Snyder é bonito e tem sua grandiosidade dentro do rol do audiovisual. Há espaço para tudo e para todos. Para todos os gostos e detalhes, nuances, cores e não-cores. Muitos de nós já se encantou com a tela cinza e os ambientes desprovidos de cores, somado à câmera lenta e a sagacidade das cenas de ação que ele proporciona nas telonas. Em 2021, uma campanha lhe deu a oportunidade de trazer mais de 4 horas do seu lindo (e charmoso) Liga da Justiça. Que obra! Que arte! Que espetáculo! Quando chega a nós Rebel Moon, a experiência não é diferente. 

Ousamos dizer que o seu novo trabalho, que está dividido em duas partes, não se configura como o melhor que já fez em seus 20 jovens anos de carreira. A sua estreia foi positiva: Madrugada dos Mortos (2004) lhe rendeu boas críticas, uma avaliação do público exemplar, além de sucesso de bilheteria. Snyder ainda vive seu ápice no cinema, com altos e baixos, ele ainda emplaca boas coreografias, cenas de luta e de ação de tirar o fôlego. Os seus primeiros 10 anos de trabalho são muito elogiados, enquanto que esta última década sofre as consequências de notas dos críticos baixas e comentários depreciativos de suas produções. Rebel Moon, peca no roteiro por ser algo já conhecido: uma pequena vila sofre ameaças do Imperador às custas de mantimentos e trabalho escravo. Caso os moradores não cumpram com as ordens, tudo será aniquilado. Quantas vezes essa premissa já não foi filmada, não é mesmo? 


Alguma novidade? 

Estamos diante de uma sci-fi, uma ficção-científica entre mundos. As viagens só acontecem via naves espaciais capazes de navegar pela galáxia pulando de planeta em planeta. O visual é lindo, claro, desprovido de cores, bem no estilo snyderiano, mas é bonito. As últimas experiências com Snyder foram os divertidos e bem feitos Army of the Dead: Invasão em Las Vegas e Army of Thieves: Exército de Ladrões – Invasão da Europaambos de 2021, também produzidos para a Netflix. Uma diversão sem nota. Muito bem feita, roteiro bonitinho e história gostosa de ser acompanhada. Infelizmente esta qualidade não se é notada em Rebel Moon. Percebe-se que o roteiro não sabe de onde começar e nem como conduzir a história. No centro – mas este centro custou chegar – está Kora (Sofia Boutella), uma jovem resgatada de um acidente que vivia pacificamente na vila. 

Ainda sem entender para onde o roteiro insistia em nos levar, Kora se revela ser uma outra pessoa, até mesmo com outra identidade, outro nome, outra vida. Contudo, a relevância disso não é firmada no roteiro e as cenas não passam de grandes saltos de um planeta a outro em busca de rebeldes afim de formar uma rebelião de soldados para lutar contra o grande exército do planeta Mãe. Um pequeno plot-twist até tenta dar novo impulso à narrativa, mas não emplaca. Heróis improváveis surgem do nada, prometem nada, mas entregam tudo. Destaque especial ao ator Ray Fisher que nos entrega poucos minutos, mas muito bem coreografados como o herói que se sacrifica pelos demais. 

A novidade de Rebel Moon, parte 1: A Menina do Fogo é que Zack Snyder não perde tempo com explicações. Pouca história nos foi contada por Kora e sobre o passado dela própria, o que não influenciou em nada nas experiências que tivemos com as pouco mais de duas horas de filme. Porém, é só. Não há nada mais de novo. Nada mais de espetacular. Não tem um personagem sequer que possamos nos importar. A protagonista Kora entra e sai da história sem nada mudar, sem nada acrescentar e fica por isso mesmo. Seu companheiro que parece ser um crush na vida dela também é irrelevante. O vilão, pode ser que nos entregue algo mais, mas para isso, teremos que aguardar abril de 2024 para conferir como que essa história vai encerrar.




Por Dione Afonso   |   Jornalista

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.