21 May
21May

Quem matou Sara? chegou em sua segunda temporada com o intuito de solucionar o mistério que ficou em aberto na primeira: revelar o grande vilão da história. Os clichês novelescos da trama não eram muito o problema até percebermos que o seu exagero, ao invés de prender a atenção do público, preferiu cansá-lo com enrede lento e diálogo pobres. O caminho escolhido por José Ignácio Valenzuela permitiu que as pontas soltas da trama poderiam se sustentar ainda mais. 

Não tem mais como nos convencer de que o assassino (ou a assassina) de Sara é uma pessoa real. Tudo estava indo razoavelmente bem até o fogo, literalmente queimar o império dos Lazcano. Mas, Valenzuela simplesmente olhou para aquilo e pensou: podemos ir um pouco mais longe. E assim, o mistério da morte da jovem Sara Guzmán (Ximena Lamadrid) corre o risco de não nos interessar mais. 

Por fim, com a segunda temporada da série, reviravoltas e flashbacks inserem mais personagens à trama. Nada que nos surpreenda ou nos emocione. Os antigos estilos novelescos de um casal gay sendo importunado por uma garota; ou o casal que vive um amor impossível; ou ainda um magnata que finge a própria morte pode segurar o público, mesmo não sustentando a história. (atenção: há spoilers da segunda temporada)


Quem era mesmo a Sara? 

O desfecho da primeira temporada e o desenvolver da segunda tira a personagem de Lamadrid do primeiro plano e coloca um esqueleto não identificável no centro da trama. A ausência de diálogos firmes e que deem sustento ao roteiro é muito perceptível e, infelizmente, empobrece toda a narrativa. Os flashbacks, mesmo que precisos, nos causaram dor de cabeça e confusão mental, porque inseridos, as vezes abruptamente sem aviso prévio ao público. Foram também exagerados e bastante repetitivos dando a impressão de que, na ausência de algo pra suprir uma janela de tempo de TV, ele foi “colado” ali pra preencher tempo de tela. 

Sara Guzman, no entanto, aparece mais vezes viva em seu passado pré-acidente na casa da família Lazcano. O novo personagem (que também estava com a turma de jovens no barco ) Nicandro (Martín Saracho) em sua versão jovem. Um jovem de má influência, sedutor, mas misterioso. Usuário de drogas e que cruzou o caminho de Sara. Sara, é revelada como uma jovem esquizofrênica que agredia a mãe e tinha um histórico de confusão mental. Para justificar seu problema de saúde, a série investe na sua paternidade que rendeu os melhores momentos dessa temporada. Sara era filha de Abel Martinez (Antonio de la Veja), o esqueleto enterrado no quintal de sua casa. Já não nos interessava mais saber se alguém havia matado Sara, mas sim, queríamos saber quem matou Abel. 

Por fim, voltamos a Nicandro, agora, em sua versão adulta vivida por Matías Novoa. Este se envolve com Marifer (Litzy Domínguez) que já havia sido mencionada na primeira temporada, mas que agora aparece mais misteriosa e interessante. Suas investidas permitem que sua personagem se desenvolva e vá se tornando elemento imprescindível na trama até atingir seu final, quer dizer, o final de Marifer. 


Ainda queremos saber o que aconteceu com Sara? 

Não há mais muito o que se dizer. Infelizmente o grande potencial da série de se tornar um suspense medonho e uma história que poderia ter tido um final grandioso nessa temporada quer apostar numa versão de Elite e estender a trama. Quem matou Sara? não nos convence mais. Alex Guzman (Manolo Cardona) já se cansou e não tem mais muito o que investigar. Sua cartada final de usar a amizade com Chema Lazcano (Eugenio Siller) na tentativa de forçar que o magnata Cezar Lazcano (Ginés Garcia Millán) volte para salvar o filho ainda pode render algumas boas cenas. Mas o senhor Lazcano não tem filho gay. Será muito improvável que ele volte do além para tirar Chema da cadeia. 

A investida de Alex ainda pode despertar a curiosidade do público de assistir a terceira temporada. Rodolfo Lazcano (Alejandro Nones) tem potencial para enlouquecer e retornar tomando o lugar de vilão. Enquanto Elisa, a irmã (Carolina Miranda) talvez ocupe o posto de Alex e esse casal ainda possa entregar boas cenas. 

Estávamos convencidos da confissão de Marifer: “eu matei a Sara! Eu matei minha irmã, mas sem saber que ela era. Eu cortei as cordas e matei a Sara”. E Alex acreditou. O público acreditou e quis que terminasse assim. Não sabemos onde Nicandro e o enigma que ronda as intenções de Valenzuela irão nos conduzir na próxima etapa dessa história. Repetir as mesmas fórmulas e clichês podem não ser mais suficientes. 


Sara vale toda essa nossa atenção? 

Todo o processo em vitimizar a personagem central funcionou ao trazer um histórico real e difícil da família. Estupros, assassinatos, traições, violência contra a mulher, traumas sóciopatas, lavagem de dinheiro e corrupção foi um prato cheio e eficaz na inserção dos novos personagens. A família Guzman tornou-se a vítima em potencial de toda a história, mas, em contra-partida, não foi a família Lazcano que seria a vilã. E essa reviravolta muda tudo. 

Ver o império Lazcano pegar fogo é o desmanche do que se sustentou até aqui. O que virá depois ainda é uma incógnita. A derrocada de um império poderoso sugere o erguimento de outro. Qual será ainda teremos que esperar pra saber. 

Investir na fórmula “quem matou” por mais uma temporada talvez não seja o suficiente, a partir do momento em que duvidamos de que, de fato, alguém, nesse contexto, tenha, tirado a vida de Sara. 

A segunda temporada chegou no último 19 de maio e está disponível na Netflix.



Dione Afonso  |  Jornalismo PUC Minas

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