01 Apr
01Apr

“A Bea é o coração e Jessie é a alma. Leopold é o cérebro e você os músculos. E sabe o que eu sou? Eu sou o mais importante e o que menos se é lembrado. Eu sou os ossos, o esqueleto responsável por unir tudo isso. Isso é a nossa amizade, é o que somos um para o outro”.    

[“The Irregulars”, Netfliz, S01E08, 2021].   




Com uma semana após ter sido lançada, novo sucesso da Netflix tem novo nome: Os Irregulares de Baker Street. Série criada por Tom Bidwell permite estender o universo de Sherlock Holmes, personagem criado pelo escritor britânico Arthr Conan Doyle que se consagrou como o mais famoso detetive da história. A nova produção do serviço de streaming aposta numa fórmula que já tem sucesso de renome em Stranger Things, The Umbrella Academy e Dark, histórias que trabalham o encontro de dois mundos (o dos mortos e o dos vivos) com um toque de sobrenatural, amizades e algumas cenas de ação que servem para apimentar o ambiente televisivo. 

Bidwell traz para a série elementos que, para quem é fã de Sherlock das gerações anteriores sentirão uma leve nostalgia com saudade e vibração ao ver elementos conhecidos como um quarto todo bagunçado e sujo do detetive, a placa 221B da Baker Street, cartas e pistas investigativas que nos fazem fechar os olhos e relembrar aquelas cenas que só as folhas dos livros nos proporcionam. 

O próprio título da série é um elemento original de Conan Doyle. Esses “irregulares de Baker Street” são conhecidos em, pelo menos, três obras do autor. Eles, no original, são um grupo de adolescentes pobres e sujos, rapazes que vivem entre uma Londres do desenvolvimento que é incapaz de perceber esse grupo de pessoas pobres, sujas, famintas e que moram em porões imundos e fedorentos. Para a série, além de vários elementos, Bidwell bebeu direto da fonte dos textos originais de Conan Doyle e fez perfeita adaptação para a nova geração. 


Os Irregulares de Baker Street: jovens em busca de sonhos 

Com receita eficaz para o público jovem, a série já logo de cara revela que não está pra brincar e nem para fazer rodeios. Não demora muito e já nos é entregue de quem é a trama, qual é o perigo e contra quem iremos lutar. Tudo começa com Beatrice “Bea” (Thaddea Graham) entre as ruas de uma Londres cinzenta em busca de um trocado para arranjar comida. Logo em seguida os outros são apresentados: a irmã Jessica “Jessie” (Darci Shaw) e os amigos Spike (McKell David) e Billy (Jojo Macari). De imediato percebemos que os pesadelos de Jessie são algo mais e que isso conduzirá a série para o seu ápice final. Spike e Billy nos entregam uma amizade sorrateira, bonita, emocionante e brincalhona na medida certa. Coisas de jovens dessa idade. 

A jovialidade que a série entrega nesse quarteto é sublime e perfeita. Os jovens podem se ver refletidos em cada um deles com cada característica e cada elemento que os constituem como seres humanos. A virada da introdução para o primeiro ato da série ainda nos é apresentado Leopold “Leo” (Harrison Osterfield), ninguém menos que o príncipe da Inglaterra. Quando Leo decide fugir de sua vida monótona no palácio real, ele se une ao grupo dos Irregulares e se torna o quinto parceiro dessa amizade, mas decide manter sua origem e quem é em segredo. Sua realidade é totalmente destoante do restante do grupo. Enquanto ele tinha servos que o vestiam, lavavam-no e o alimentavam, os outros comiam hoje sem saber se teria refeição no dia seguinte. 

Então, acontece o primeiro ato: Dr. Watson e o endereço 221B.


 Os Irregulares de Baker Street: ser jovem é uma aventura 

A virada do segundo para o terceiro episódio extrai de nós, apaixonados pelo universo do detetive, um grito de vibração e alegria: Dr. John Watson aparece de uma forma que jamais pudéssemos imaginar. Interpretado pelo ator Royce Pierreson, essa versão é misteriosa, intrigante, não-confiável mas que você quer confiar. Manipulador, invejoso e ciumento. O encontro de Bea (sempre sorrateira e brava) com o doutor no outro lado da rua é fantástico e nos entrega elementos eficazes 

A trama começa a chegar no seu centro dessa primeira temporada. Os casos para se investigar não são coisas normais entre humanos. Uma chuva de corvos, por exemplo, que se volta para nos atacar não é algo que podemos ver todos os dias. Afinal, como disse o cérebro do grupo, o príncipe “Leo”, essa região não abriga essa espécie de pássaro. Bea, claro, enraivecida, percebe que o que o Dr. Watson pede para que ela e seus amigos façam, não é simplesmente investigar um caso, mas vai além. 

Mesmo Bea sendo a líder do grupo dos irregulares, Jessie também toma a frente em decisões necessárias durante a trama. Jessie é especial, tem o dom de ler mentes e de controla-las, se ela quiser. A chamam de Ipissimus e ela é a chave de todo o caso que estão a investigar. 


Os Irregulares de Baker Street: jovem, use o seu poder! 

Antes que cheguemos naquela cena em que o sr. Holmes aparece, um outro membro da família precisou dar o ar da graça. Microfty Holmes (Jonjo O’Neill), aparece como um agente do governo (um funcionário público) e também, membro de uma ordem misteriosa que lida com eventos sobrenaturais quando eles ocorrem. É com esse encontro que a série abre o último arco dessa temporada. Uma fenda entre os dois mundos foi aberta. O mundo dos vivos é ameaçado pelo o outro mundo e o grupo dos irregulares se veem no meio dessa grande encrenca. 

Jessie descobre que ela pode ir além com o seu dom e percebe que ela é a grande chave para dar fim a esse caso. Bea e Leo se envolvem e declaram amor verdadeiro um pelo outro. Bidwell consegue nos entregar perfeitas cenas de impessoalidade e intimidade no meio de uma grande confusão social e drama. O mundo pode estar desmoronando lá fora que nós conseguiremos nos manter firmes aqui dentro. 

Spike e Billy também não ficam a desejar em suas situações. Os dois são parceiros, amigos, leais, sinceros e honestos. Spike tenta empurrar o amigo pra frente, a dar continuidade à sua vida, assim como Bea resolveu fazer com Leo. O passado desses jovens também é cruel e traiçoeiro. Se eles sofrem hoje, isso não se compara com a dor que já tiveram antes. Naquela época, ser órfão e morar num internato não era algo muito seguro e alegre. 

E é no meio de tudo isso que acontece a cena mais aguardada de todos nós: olá, Sherlock Holmes! 


Os Irregulares de Baker Street: Sherlock Holmes ainda cativa os jovens 

Sherlock Holmes (Henry Lloyd-Hughes) está numa condição deplorável. Seu auge passou. Seu momento de brilhantismo não existe mais. Seu amor morreu. Hoje é apenas um viciado em ópio e outras químicas. Magro, definhando, perdido, desconsolado, o detetive dos tempos áureos tenta maquiar a própria dor no consumo de drogas e levando uma vida miserável. Quando Bea vai ligando os pontos, sobretudo depois que o nome de sua mãe Alicce é envolvido, ela decide ir atrás de Sherlock. E aí ela descobre que ele é seu pai e que a abandonou e abandonou Jessie também depois da morte da mãe ao tentar fechar a fenda 15 anos atrás. 

Holmes em situação de total decadência é importunado pela filha que o tranca num quarto hotel o afastando do uso de narcóticos. Sherlock Holmes se vê obrigado a contar tudo o que sabe para Bea, que, reúne os fatos e chega à conclusão da investigação. Bea é uma versão de Enola Holmes (de Millie Bobby Brown, 2020) mais briguenta, menos simpática e mais persuasiva, menos sorridente e mais “humana”, pois suas dores e condição social a humaniza. 

Holmes e Aliccia são pais de Jessie, e o ato final da série se conclui com uma resolução eficaz e completa. Essa temporada funciona perfeitamente separada, seu arco é concluído e as perguntas são respondidas. Ademais, contendo elementos que podem ser explorados, sobretudo se Tom Bidwell continuar explorando os originais do autor (que é o que a gente espera), essa história ainda pode nos render excelentes episódios futuros. 

Por fim, Leo, por conta de uma promessa, teve que retornar à realeza. Sua força ainda não foi o suficiente para quebrar a tradição e assumir o controle da própria vida. Até porque, com o envolvimento de Billy que o levou à prisão e a carregar uma sentença de morte, Leopold usou de seus títulos reais para salvar a pele do amigo, mas, terá que arcar com as consequências disso. A jovem Beatrice fecha seu arco com um choro de nos cortar o coração. O amor, nela, dói. Jessie e Spike parecem tentar uma aproximação que pode ir além da amizade. E Billy, bom, esse terá que encontrar seu caminho... 


A primeira temporada de Os Irregulares de Baker Street tem 8 episódios e está disponível na Netflix. 




“Sherlock Holmes tinha um grupo de meninos de rua que usava para ajudá-lo a reunir pistas, então nossa série seria o que aconteceria se Sherlock fosse um viciado em drogas e um delinquente e as crianças resolvessem todo o caso enquanto ele assumisse o crédito” 

(Tom Bidwell, sobre a criação da série)




Por Dione Afonso Jornalismo PUC-Minas

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.