03 Oct
03Oct

Ainda sentimos aquela ausência de magia e grandiosidade que conhecemos desde a primeira vez que “pisamos” na Terra Média. As Montanhas de Mordor, tomadas pela Grande Escuridão nos aterrorizaram. Contudo, a esperança de salvação veio de onde a gente menos esperou e um jovem e pequenino hobbit revelou sua força. Criada por Patrick McKay e J.D. Payne, série é baseada nos originais de J. R. R. Tolkien. É bom retornarmo-nos à Terra-Média e encontrar um certo povo errante, denominado Pés Peludos que, que sabem migrar de uma terra à outra servindo-se do necessário e se alimentando do que a natureza lhes oferta; admirar mais uma vez as coreografias dos elfos com suas espadas e arcos e flechas em suas lutas contra o inimigo; e a magia e mistério dos grandes magos. 

Galadriel [Morfydd Clark] mantém sua mesma postura da temporada anterior. Astuta, com olhares e tons arrogantes de quem sabe de tudo e conhece todos. A atuação de Clark, no início, gerou certos desejos contrários à personagem que representa. Contudo, quando se depara com o perigo, “Aquele Que Possui Muitos Nomes” e, que nesta temporada, Sauron é identificado como “O Senhor das Dádivas” / “Annatár” [Charlie Vickers], torcemos por Galadriel. Queremos ela bem e viva. O arco deste novo ano ganhou novas forças explorando mais de Adar [Sam Hazeldine, que substitui Joseph Mawle, que viveu o personagem na primeira temporada] e a presença dos Orcs; consolidando a traição de Pharazôn [Trystan Gravelle] como elemento essencial desta jornada; reunindo Arondir [Ismael Cruz Córdova] e Elrond [Robert Aramayo] no campo de guerra. 


Celebrimbor e a queda do humano 

A jornada de Celebrimbor [Charles Edwards], o elfo artesão altamente respeitado por seus talentos e seu trejeito com o ferro, fogo, Mithril e outros metais é o coração desta temporada. Sua queda e a queda de sua cidade não estão ali apenas para ilustrar a ganância e o revigorar do mal. Annatár, O Senhor das Dádivas, é ardiloso, manipulador, cruel e sem sentimentos chega ali como alguém indefeso, vítima e sem intenções. A construção do vilão Sauron em O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder é muito bem feita e de um poder inigualável. O roteiro da equipe de J.D. Payne e Patrick McKay consegue dar nuances seletivas e muito bem encaixadas numa jornada que se mostra longa, mas bem construída. Igualmente ao primeiro ano, aqui, vê-se alongando mais uma vez, segurando expectativas para o “grande ato”, contudo, a season finale mostra que possui outro objetivo. Eregion cai; suas fortalezas são desfeitas como papelão e os elfos são cortados como batatas pelos Orcs liderados por Adar. Galadriel cai assim como Eregion. Golpeada tal qual foi o jovem hobbit Frodo Bolseiro nos filmes da saga, este segundo ano consegue nos sintonizar respondendo perguntas que nunca fizemos, mas que serve de narrativa sequencial. 

Eregion cai e Sauron, o Lord das Trevas se ergue; toma sua coroa embebida de sangue élfico e planeja tomar a Terra Média. Galadriel encontra esperança na luz do dia enquanto se recupera de um mal que a afetará para sempre. Esta temporada nos concede um pouco mais de humanidade se despindo daquela magia que sabemos que seu criador a ela recheou. Um ponto que é discutível, mas que encontra sua força e mérito, mas também, perigo e risco. 

Sente-se um pouco a falta da magia e das coreografias harmoniosas, suntuosas e até luxuosas dos elfos. Vimos um pouco daquela brutalidade, virilidade e presença bélica dos anões, quando decidem, até que enfim, saírem de sua montanha depois de despertarem Balrog, uma criatura do escuro, que habita as profundezas da montanha. O arco de Durin IV [Owain Arthur] foi bastante introdutório. Mas ao assistir a queda de seu pai, o Rei Durin III [Peter Mullan] e o erguer do mal na montanha, mais uma vez, vemos o roteiro apostar na fraca humanidade, vendo, principalmente, a magia da voz das mulheres anãs falhar. Disa [Sophia Nomvete] personifica esta falha, quando não se ouve mais a montanha, pois a presença de algo maior, perigoso e cruel se manifesta. 


Sauron e a força do mal 

Em outra ponta deste roteiro, O Estranho, se descobre Gandalf. Mais tarde, conhecido como o Mago Cinzento. Daniel Weyman entrega uma atuação digna de reconhecimento. O melhor amigo dos Pés Pequenos escolhe a amizade ao poder; escolhe salvar suas únicas amigas Nori Brandyfoot [Markella Kavenagh] e Poppy Proudfellow [Megan Richards] ao invés de terminar sua jornada. Os Anéis de Poder parece que deu bastante cena ao mal e à sua presença, contudo, diante de cada cenário e cada jornada vai se costurando um objetivo bastante comum: todos precisam se unir afim de conseguir destruir a ameaça que insiste em se aproximar. Vickers, em sua atuação consegue nos assustar e deixa em nós uma marca tão profunda quanto a ferida em Galadriel. 

O mal não tem exército; o mal não tem um rosto; o mal não tem destino; mas o mal é inteligente; ardiloso; sabe o que quer e por onde precisa passar. Sua fraqueza é não ter amigos e não contar com as pequenas forças. Algo que percebemos que Galadriel; Arondir; Elrond e Gandalf precisarão aprender. Enquanto o primeiro ano nos ofereceu as bases para a força do bem, mesmo não reconhecendo, como por exemplo, o fato de Isildur [Max Baldry] sobreviver às chamas do vulcão; ou, da Rainha Regente Míriel, interpretada pela atriz inglesa Cynthia Addai-Robinson decidir acompanhar seus soldados à guerra; voltar viva, mesmo que com uma sequela; ou ainda o fato de jovens personagens, guerreiros, realizarem grandes feitos... O segundo ano, nos oferta as bases do mal: rancor; ambição; manipulação e sede de poder. 

Acima de tudo, é preciso se convencer de que não há poder, força ou qualquer outro valor dentro de seres sem relevância. É nisso que Sauron acredita. Seu desejo é o do domínio. Tornar tudo e todos seus servos. Não há no Lord das Trevas qualquer tipo de sentimento, inclusive com a natureza, como vimos na presença dos Ents, que também apareceram neste novo ano. As Ents são mais que árvores, mas é a presença do Sagrado, da religião, da força, poder e magia entre a natureza, os povos e a relação. Portanto, o segundo ano termina com um gancho profundo para a terceira temporada, revelando um possível futuro de esperança contra as forças do mal que marcham para a Terra Média.




Por Dione Afonso | Jornalista

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