15 Oct
15Oct

É inegável que a série do universo tolkeriano há coração, e muito, muito espírito. A primeira temporada se concluiu com um grandioso começo promissor para o próximo ano e o mal, que se espreitava nas sombras, revelou o seu rosto. O mal que existia antes da primeira escuridão tem sede de poder e de conquista e deseja que o mundo se “converta”. A primeira temporada, sob os comandos de Patrick McKay, J.D. Payne tinha uma missão muito importante: enquanto se propõe ser fiel às páginas de Tolkien, consolidar um retorno à Terra Média estabelecendo uma narrativa crescente de uma grande guerra que está por vir. Diante desse objetivo, os oito primeiros episódios lançados semanalmente iniciaram bastante tímidos, faltando um pouco de magia e de liberdade narrativas. Mas isso não desmereceu a grandiosidade da história. 

Em O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, a elfa comandante Galadriel, de Morfydd Clark sente que o mal junta suas forças enquanto adormece nas sombras. O mesmo mal que um dia tirou a vida de seu irmão. Esse sentimento de escuridão assombra o espírito de Galadriel o que a faz, incansavelmente, perseguir além fronteiras onde que esse inimigo se esconde e aniquilá-lo de vez. Contudo, desacreditada de seu povo e enviada para as terras eternas, Galadriel torna-se uma desertora, decide perseguir seus instintos e segue seu espírito que a conduz para uma guerra iminente. Aos poucos vamos acompanhando que a paz em toda a Terra Média, desde os andarilhos Pés Peludos, até o reino élfico e as minas de Moriá dos Anãos começa a trincar, como um espelho, prestes a se tornar estilhaços em ruínas.


Entre a luz e a sombra 

A premissa, o fio condutor da história não se difere do que já conhecemos em O Hobbit e n’O Senhor dos Aneis. A força pode residir no mais pequeno dos seres da terra e a bondade e o amor podem habitar no coração mais simples que o céu já conheceu. As manifestações de amizade, bondade, as filosofias de vida que se divide entre luz e sombras se mantém viva. E isso é um agrado saboroso aos fãs e a quem se identifica com a história. Galadriel luta constantemente nessa fronteira entre luz e sombras. Magoada e inconsolável com o assassinato do irmão, ela sente uma sombra terrível crescendo em seu coração o que a torna uma elfa chata, arrogante, controladora, mandona e muito azeda ralacionalmente. O que torna os primeiros episódios difíceis de digerir. 

Contudo, a história é muito maior que a luta incansável de Galadriel. Há uma ameaça maior crescendo entre as linhas dessa narrativa: o desaparecimento total de povos. Elrond (Robert Aramayo), que estabelece uma amizade fiel com o anão Durin (Owain Arthur) reconhece que se os povos não se unirem, estarão assinando a própria aniquilação de toda uma era. O mithril, o aço mais nobre e poderoso do mundo ilumina as profundezas das minas de Moriá e é exatamente esse tesouro que poderá salvar não só o reino dos elfos, mas uma futura ameaça ainda maior. 

A delicadeza que essa história se constrói, até culminar na forja dos anéis, no oitavo episódio, é costurada com muita sabedoria sem abandonar aquele espírito de medo, desconfiança e insegurança entre Galadriel, Elrond e Celebrimbor (Charles Edwards). Surge, então, os três anéis élficos, combinados com ouro, prata e mithril: três anéis, pois um só concentraria o poder; dois dividiria, mas três buscaria o equilíbrio necessário. Três anéis para os reis elfos; Sete para as Sete Casas dos Anãos e Nove para o reino dos Homens. 


Sauron, “diga-me seu nome!” 

Diga-me seu nome! 

“Eu existo desde antes do primeiro silêncio ser rompido, e desde então... eu tive muitos nomes”. A épica jornada da primeira temporada se conclui consolidando a descoberta do mal e sua identidade. A timidez dos primeiros episódios não deixava de nos prometer uma promissora aventura ao desconhecido que já se conhecia. Toda a série entregou momentos visuais de tirar o fôlego. A qualidade de cada fotografia, cada cena, trilha sonora e a impecável atuação de todo o elenco é grandiosa. O coroamento de toda a trajetória vivida até aqui é consumada com uma força do bem que insiste em manter viva a esperança e a força do mal cada vez mais forte e com um líder já consumado: Sauron! 

O grande revelar – não se trata, no entanto, de um plot twist – de Halbrand (Charlie Vickers) e sua mudança de postura nas cenas finais nos amedronta e coloca força num roteiro que estava ameno até então. Vickers consegue colocar todo ódio, maldade e desejo de morte em suas últimas falas. Do outro lado das montanhas, o gigante estranho, que encerra essa jornada sendo tratado como um “Mago – e, portanto, vamos trata-lo assim – ainda permanece desconhecido e sem identidade firme. Junto dele a pequena Pé Peludo, Nóri (Markella Kavenagh), impulsionada pelo desejo de se autodescobrir, embarca numa nova aventura: a de conduzir seu amigo, “o Mago” até o destino dele. 

Por fim, nas Terras do Sul, o elfo da floresta, Arondir (Ismael Cruz Córdova) já se encontra face a face com o inimigo. Pressentindo o mal crescente junto do povo que a ele foi confiado a proteção, Arondir assiste seu lugar se desfazendo entre cinzas e fogo com a dominação da escuridão empregada pelos servos de Sauron. Aguardemos, confiantes, o segundo ano que já se encontra em produção e que pode, abraçar com mais coragem e ousadia, a escuridão.





Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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