07 May
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O Legado de Júpiter da Netflix tem a missão de adaptar para as telas a HQ de Mark Millar e Frank Kitely publicada em 2013. A “receita Netflix” com seus flash backs e plot twists, além das cenas obscuras e narrativas atropeladas não parece ter funcionado mais. Essa comida está precisando de mais temperos, ou ousar mais na quantidade dos ingredientes. Mais uma vez assistimos a uma trama de ida e volta numa ilha misteriosa no meio do atlântico onde a magia acontece e a nova geração de heróis surge para estabelecer o equilíbrio no mundo. 

Desavenças familiar, dificuldade em se aceitar, problemas com relacionamentos, passado e futuro são temas caros e muito bem elaborados se discutidos com qualidade em tempos de tela que realmente possam elevar o interesse pela história. No entanto, o primeiro ano da série atropela os eventos na tentativa de dar uma introdução encorpada, mas só o que consegue fazer é apresentar um misto de cenas de ação pequenas e discussões com diálogos que não atingem seus objetivos. 

A nova geração de super-herois vem surgindo. The Boys da Amazon começou a inovar o conceito de heroísmo e trouxe muito sangue e violência para as telas. Invencível, também na Amazon Prime Video apostou num drama bastante pessoal e nos embates entre pai e filho que não ficaram em diálogos rasos e nem em ações sintéticas. Por fim, O Legado de Júpiter precisa crescer mais nesses quesitos antes que o buraco provocado na primeira temporada não disperse ainda mais a história central. (cuidado! A partir daqui contém spoilers da primeira temporada) 


O Legado de Júpiter e o legado do mundo 

O início da série já é confuso. O título em si não nos dá nenhuma explicação ou satisfação, que fosse. Os irmãos Sheldon Sampson (Josh Duhamel) e Walter Sampson (Bem Daniels), aparecem como centrais na história. Juntos do pai, parecem ser donos de um país inteiro comandado pelo império de ferro, onde mantém operários em suas refinarias. A coisa começa a se desenvolver quando o senhor Sampson decreta falência com a crise de 29, a Grande Depressão nos Estados Unidos e a Queda da Bolsa de Valores de Nova York e se suicida do alto do prédio na frente de Sheldon. Aí a história começa a perder seu rumo quando Sheldon começa a ter visões e sem saber, de fato, o que está acontecendo. 

Mas aí, há o grande salto temporal: em outro plano, Sheldon Sampson é Utópico, um super-heroi vestido de branco e vermelho e líder de uma equipe denominada de União regidos por uma espécie de Código de Ética que consiste em: é proibido matar, toda vida importa e é proibido governar, pois o mundo e as pessoas têm direito ao livre-arbítrio. Sheldon aparece casado com Grace Sampson (Lesli Bibb) a Lady Liberdade e a família tem mais dois filhos: Brandom Sampson, o Paradigma (Andrew Horton) e Chloe Sampson (Elena Kamporius), uma modelo fotográfica. 

Contudo, a trama é mais familiar que focada nos feitos heroicos e o já consagrado salvar o mundo de uma ameaça iminente. Enquanto Brandom representa uma nova geração de heróis e tenta levar o legado do pai adiante, Chloe é revoltada, não aceita tal legado, usuária de drogas e uma jovem mulher dada às boates e pubs noturnos, Chloe não quer viver nada do que seus pais respeitam. Por fim, com esse resumão percebemos que o foco narrativo está centralizado num embate de gerações: o antigo código que sobrevive e rege os heróis por décadas parece não contemplar o novo mundo e a sociedade em que os jovens heróis estão inseridos. 


Um novo legado para o mundo e os jovens 

Podemos fazer um paralelo – mesmo que forçado, mas útil – com a identidade jovial. Os jovens hoje em dia, até mesmo numa grande parcela têm se esforçado bastante em viver intensamente cada minuto de vida que recebem. Há certas normas e regras, sobretudo, aquelas transmitidas por gerações, passados familiares, pela religião, que não os seduzem mais. São códigos de ética que (de acordo com o pensamento deles e do mundo em que estão) não correspondem mais e não atendem mais as suas necessidades. 

É difícil tentar responder o que um jovem hoje deseja. E se for um jovem com super poderes, um jovem super-heroi então, as coisas parecem ser mais difíceis. No entanto, mesmo esse debate ser muito significativo que se aconteça, a série não consegue sustentar essa trama. A vida de Chloe e de Brandom acontece em telas opostas e são esquecidas para dar lugar às viagens no passado, na primeira geração de heróis e para introduzir outros jovens que estão dispostos a lutar por um mundo melhor. 

Até onde vai o Código de Ética quando se enfrenta a difícil decisão entre tirar a vida de um monstro, um vilão ou deixar que o filho morra nas mãos dele? “É proibido matar” ainda serve como conduta moral no mundo de hoje? Quando Lady Liberdade acolheu a morte de uma jovem heroína recém-admitida na União, as últimas palavras dela foram: “eu não o matei. Eu não desobedeci o Código”, e, portanto, pagou com a própria vida enquanto o vilão permaneceu vivo. 


O novo legado para o futuro de O Legado de Júpiter 

Os oito primeiros episódios dessa primeira temporada, mesmo tenho inserido ótimos novos personagens, pecou ao não dar a eles o tempo de tela suficiente para que se desenvolvessem ou, que pelo menos, nos explicassem quem são e de onde vieram. Chloe e seu lance amoroso com Hutch (Ian Quilan) o filho de um dos pioneiros da União, George Hutchence, o Skyfox, seria um grande potencial de narrativa e que foi segurada até o último minuto da temporada. Já que o enredo sugeria uma traição imperdoável de uma amizade que pareceria eterna entre ele e Shadon. Walter Sampson, o Onda Mental, entrega-nos um plot twist fraco e nada empolgante. Fácil demais. 

Portanto, o gancho para a sequência é bom, no entanto, questionador. Não sentimos confiança no que pode vir a seguir. Os jovens heróis não tiveram um primeiro ano muito bom e a uma nova traição dentro da União parece que será a nova trama sequencial. Agora, entre os irmãos. Esperamos que esse tempero receba um pouco mais de ingredientes mais refinados e exóticos que dê um novo sabor capaz de nos deixar com água na boca e gostinho de quero mais. 

A primeira temporada de O Legado de Jútiper é produção Original Netflix e está disponível na plataforma com 8 episódios lançados em 07 de maio de 2021. 




Dione Afonso  |  Jornalismo PUC Minas

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