01 Nov
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Agentes do submundo, pessoas dispostas ao que há de mais cruel na humanidade se encontram numa rede de hotéis que servem como o único mundo possível para sua sobrevivência. Sem nenhuma pretensão grandiosa, O Continental, do universo de John Wick, inova até mesmo no formato: mesmo sendo uma série spin-off, os três longos episódios funcionam como uma trilogia cinematográfica e, ao mesmo tempo, pode ser chamada de uma minissérie fora dos padrões naturais da TV. Mas, o que vale, mesmo, é sua preciosidade em não desmerecer, em nenhum ponto, o que já tínhamos experimentado com a saga dos filmes originais e, apresentar sempre um ponto inovador para responder o que a crítica tanto detona: John Wick tem muito mais a nos mostrar. 

O gerente do hotel, Cormac (Mel Gibson) é o estopim para o início da grande jornada do nosso já conhecido Winston (que, aqui é interpretado em sua juventude por Colin Woodell. Personagem de Ian McShane nas telonas). A simplicidade da trama dos filmes com Keanu Reeves é repetida aqui, para mostrar que a grandiosidade está nos detalhes e não, simplesmente na narrativa. Percebe-se nos três grandes episódios que o início de tudo é sempre um sentimento de vingança e que parte de um desejo pessoal de superar o vilão. A coisa fica gigante quando percebe-se (tanto nos filmes, quanto na série), que grandes organizações alimentam o desejo de controlar tudo e todos a qualquer custo, mas... que... pra que isso funcione... não é tão simples assim. 


A simplicidade dos personagens e a grandiosidade do elenco 

Tudo funciona como uma perfeita balança equilibrada: a bizarrice dos assassinos e suas personalidades rasas e perigosas. A beleza das coreografias de lutas com a pequenez de suas cenas e os poucos diálogos. É tudo muito bem equilibrado. A inclusão de inúmeros personagens nos corredores do Hotel O Continental não está ali apenas para preencher a tela, mas quando as lutas começam, tudo ganha beleza, enche nossos olhos e ganha nosso interesse. 

Junto de Winston, acompanhamos os primeiros que abraçaram, com ele, o desejo de derrubar Cormac: Yen (Kate Nhung); Miles (Hubert Point-Du Jour); Jenkins (Ray McKinnon) e o grupo que dá credibilidade à narrativa. A série consegue nos fazer esquecer de como que tudo vai terminar, com Winston se tornando gerente do Hotel, e nos faz mergulhar no passado de cada um desse grupo, no qual, todos apresentam um passado, não escuro, mas muito claro, ligado, diretamente, com Cormac e sua rede de vilões. 

Apesar dos longos episódios, tudo funciona com uma velocidade impressionante. Gibson é estranho, meio ignorante em suas ações e com um “q” de “Coringa”, nele, no sentido de amar o mal que faz. Com o papel de Cormac, ele exagera em sua tática em se tornar o vilão principal da narrativa e faz de sua excentricidade o item essencial para que nós pudéssemos não torcer por sua vitória. 


Haverá um futuro para tudo isso? 

Voltar ao passado instável de 1970 novaiorquino foi uma decisão muito acertada. O Continental explora um dos ambientes principais da quadrilogia do cinema de John Wick. Na minissérie, com Winston conseguido conquistar o que desejou: tomar o Hotel O Continental, agora o interesse está em nos mostrar como que ele redireciona aquela confusão de vilões e personagens estranhos num único lugar. Derrubar a Alta Cúpula não foi problema para ele, agora, há o grande segredo que é encontrar a máquina de moedas, símbolo principal e original de toda a franquia “John Wick”. Tem-se muito o que contar, mas vamos ter que esperar maiores informações. 

Todo o primeiro grupo que empreendeu junto de Winston nessa primeira empreitada merece um futuro digno na franquia. A minissérie com três atos, longos e muito bem costurados episódios serviram muito bem para nos aguçar a continuar voltando para a franquia. O final do terceiro ato fica em aberto, servindo de um possível futuro gancho. A ousadia de Winston é cativante e gerir isso é um ótimo aperitivo para novas cenas. Há, na narrativa, um equilíbrio entre o novo e o velho.





Por Dione Afonso  |  Jornalista

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