02 Sep
02Sep

“Meu pai, Mario Cesar Silva de Souza, 60, teve covid-19. Natural de Parintins-AM, nascido em 14 de janeiro de 1960.

No começo achávamos que era apenas uma gripe, cuidamos como se fosse. Com medicamentos antigripais, medicina caseira... Mas houve um dia que ele se sentiu mal. Pressão arterial aumentou, batimentos cardíacos acelerados. Levamos a uma Unidade de Saúde, onde ele foi bem atendido. Avaliaram-no e o encaminharam ao SPA. Através do Raio X detectou uma pneumonia atípica com comprometimento de 30% do pulmão. Apresentando sintomas como cansaço, dificuldade de respirar, tosse, dores de cabeça, febre e diminuição do oxigênio...com o exame, ele testou positivo para a Covid-19.

Para os familiares e amigos foram dias difíceis. Pensávamos que iríamos perde-lo. No entanto, com o cuidado da família, apoio dos amigos, esperança na fé que ele sempre teve nos esmeramos no cuidado com a medicação, sempre na hora certa; alimentação adequada; exercícios de fisioterapia pulmonar e acompanhamento médico e de enfermagem, contribuíram muito para recuperá-lo.

Foram dias difíceis, mas também de muita esperança em querer salvá-lo.

O tratamento foi realizado em casa, mas como se ele estivesse internado. Horários para os medicamentos, alimentação, revezamento de pessoas para acompanha-lo, principalmente nas madrugadas, verificação dos sinais vitais diariamente, exames laboratoriais, repouso, comprometimento com o isolamento social, uso rigoroso de máscaras dentro do próprio domicílio.

Diante das dificuldades em meio a pandemia que não distingue raça, cor, religião... vivemos hoje num novo mundo que nos impõe certos deveres e obrigações: uso consciente e obrigatório de máscaras; manter a distância até daqueles que mais amamos; lavar as mãos constantemente; uso do álcool em gel... 

Esse novo tempo também nos mostra o quanto sofremos com a saudade, a ausência de quem amamos, a distância dos amigos e também a olhar para o próximo mais como ser humano do que como um indivíduo qualquer. É preciso praticar mais o amor pelas outras pessoas. Praticar vai além do dizer apenas que ama e respeita, mas passa pelo cuidar, amparar, voluntariar-se, colocar-se à disposição”. 

[PATRÍCIA SOUZA, 38, farmacêutica, Manaus-AM].

 

 

 

A história do Dr. Benjamin Carson é inspirada em fato real. O longa de Thomas Carter de fevereiro de 2009 ganhou o público com a realidade nua e crua tratada com muito respeito e segurança. Cuba Gooding Jr (Dr. Carson) nos presenteia com uma atuação brilhante e bem esforçada.

Mas a história vai muito além de tudo isso. Mãos Talentosas é sobre superação de uma realidade social preconceituosa e discriminatória. Carson é negro, vindo de família pobre e sem recursos, mas sempre de sonhos. Carson sempre sonhou com a medicina num ambiente em que os estereótipos sociais afirmavam que existem sonhos e existem pessoas que cabem nesses sonhos, e Carson não era essa pessoa.

Por fim, Carson recebe uma motivação de uma mãe batalhadora, sonhadora e esperançosa. Mesmo com a realidade violenta e abandonada de Detroit, essa família dá passos também revelando um sistema educacional que precisa de reparos e de cuidados mais potentes voltados aos jovens estudantes.


“Meu pai teve covid...”

O relato que ouvimos do norte do Brasil pode ser igual a qualquer outro que ouvimos com mais frequência do que gostaríamos de qualquer outro lugar do país. O vírus da covid-19 não escolhe território e nem casa. Simplesmente se manifesta. A história que acabamos de contar provém do estado do Amazonas, também muito devastado pela pandemia do coronavírus. Com um número de mortes que se aproxima dos 4 mil, novos casos são diagnosticados a cada dia.

Isso sem a gente entrar nos dados da população indígena que, na verdade, são números que não conseguimos identificar com precisão por conta da falta de monitoramento.

A frase “meu pai teve covid”, tem um peso para nós. Um peso que machuca nossos ombros e nos desmonta no chão. Assim como disseram ao Dr. Carson “sua cor não permite que faça isso”, quando o médico negro se esmerou em salvar uma vida já comprometida. Ambas as histórias que trazemos aqui falam de motivação e de superação. Precisamos nos agarrar no que nos motiva e nos leva pra frente. E, o mais importante, que nos leva pra frente junto com os outros. Ou seja, eu só venço se o meu próximo vence comigo também. Se alguém perde essa corrida, todos perdem.


Incentivo, empatia, valores humanos

Um subtítulo que parece coisa de coach não é mesmo? Mas não é esse o intuito. Isso seria reduzir demais o valor de uma produção que traz problemas sociais tão contundentes para o nosso contexto. Benjamin Carson teve que vencer os obstáculos até mesmo financeiros e se dedicar aos estudos. Ignorar os problemas sociais de violência, drogas, tráficos e acreditar que é possível mudar.

O incentivo que recebeu, sobretudo da família foi essencial para que o jovem não se desviasse desse caminho. O incentivo certo ofertado na medida correta nos torna capazes de enxergar o futuro com mais otimismo. Todos somos capazes de crescer, na verdade esse é um valor de todo e cada ser humano. Valores como a espiritualidade e fé atrelados a uma relação coma religião também fazem parte do enredo da história de Mãos Talentosas.

Mão talentosas são mãos que cuidam, curam, seguram para levantar. Mãos talentosas são mãos que sabem a hora de deixar ir, de largar, de soltar, de fechar uma porta e jogar a chave fora. Mãos talentosas são mãos que escrevem, que limpam, que digitam, que dobram. Mãos talentosas são mãos que partilham histórias, mãos que revelam seus calos, as cicatrizes conquistadas por uma vida cheia de vigor e de esperança. Cheia de fé e de valores.

 

 

 

 “Ninguém pode te impedir de fazer o que você quiser, se você estiver determinado e colocar isso em sua mente. Você sempre pode encontrar uma desculpa para não fazer algo, mas será apenas uma desculpa. Você não pode culpar ninguém a não ser você mesmo. Ninguém além de você é responsável pelo seu fracasso”

(CARSON, Ben. “Think Big”, 1996)


 

 

Por Dione Afonso

Jornalismo PUC-Minas

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