19 Dec
19Dec

Filme chegou ao Brasil após o sucesso no Festival de Sundance 2021. A diretora e roteirista do longa, Sian Heder, é a segunda diretora a concorrer na próxima edição do Globo de Ouro, dia 09 de janeiro de 2022. Ao lado de Jane Campion, essa é a segunda edição da história a indicar mais de uma mulher a concorrer na maior categoria da noite.  Também, na Categoria de Melhor Direção, Campion concorre ao lado de outra cineasta, Maggie Gyllenhaal. 

No Ritmo do Coração, disponível no streaming AppleTV+, tem roteiro e direção de Heder. O drama tenta inserir o tema da surdez através da música afim de tentar construir uma narrativa com o único objetivo de revelar à sociedade o quanto se é difícil incluir pessoas com deficiência no convívio comunitário. Por mais que se há esforços, ainda não parecem ser o suficiente para a inclusão. A família de Ruby (Emilia Jones) são pescadores num pequeno vilarejo no norte dos Estados Unidos. Ruby é a única não-surda. Ela é uma CODA, que é o nome original do filme. CODA, em inglês, é a sigla de Children of Deaf Adults, a sigla também é usada no Brasil para indicar pessoas filhos de pais surdos e que nasceram ouvintes. 


Viver entre o sonho e a família 

A narrativa principal do longa de Heder que acompanha a trajetória de Ruby não é algo inédito. Contudo, o roteiro consegue nos surpreender entregando uma história que mistura o drama com o humor e um pouco de musicalidade. Os sonhos de Ruby a colocam numa encruzilhada entre ter que escolher a música ou a filha intérprete dos pais. Também surdos na vida real, a vencedora do oscar, Marlee Matlin, que vive a mãe Jackie Rossi, Troy Kotsur é o pai Frank e Daniel Durant é o irmão mais velho Leo. Adaptado de A Família Belier (2014), No Ritmo do Coração é sobre uma família que precisa ouvir mais aquilo que vem de dentro para poder ler tudo aquilo que acontece do lado de fora. 

Leo Rossi, o irmão, é alguém que não consegue compreender o porquê da existência da irmã, Ruby. E isso foi um soco no estômago. O homem, o irmão mais velho, o responsável da casa não consegue se ver totalmente dependente da irmã, da menininha, da mulher. Isso fere com seus princípios e com sua utilidade social. Ruby tem que lidar também com uma família que, além de surdos, precisam compreender o que significa ter uma filha não surda. A dificuldade de inclusão não vem só de fora, ela também é um tabu de dentro. 

A segunda melhor cena de todo o filme nos coloca frente a frente com um diálogo entre Ruby e a mãe, Jackie. Ruby, ao compreender o momento em que nasceu, descobre o grande drama da mãe que torceu para que a filha nascesse surda igual a toda a família, pois o grande medo de Jackie era o de não cumprir com a missão de ser uma boa mãe para a filha que não é surda. A primeira melhor cena do filme é o ato final, quando, Ruby, ao ser apoiada pelos pais em ir estudar música, ela canta, no dia da seleção pela bolsa, utilizando-se da língua de sinais, a ASL. Um grande gesto de empatia e de acolhimento àqueles que não podem ler os lábios ou a melodia, mas puderam ler e cantar as mãos, os gestos, aquilo que estava dentro, no ritmo do coração, traduzido no ritmo das mãos e do corpo. 


Há aqueles que não sabem acompanhar o ritmo 

É interessante no roteiro de Heder, a personagem de Eugenio Derbez, que interpreta o professor de música Bernardo Villalobos. O personagem é indiferente à situação da jovem Ruby, que enfrenta uma decisão difícil com sua família. Villalobos, por um lado, representa uma posição positiva ao conseguir expandir o universo de Ruby, mas, ao mesmo tempo, não consegue acompanhar o ritmo de uma jovem que precisa pisar dos dois lados da partitura, o lado da interpretação e o lado da realidade atual. Quando Ruby canta ao lado do seu crush, Miles (Ferdia Walsh-Peelo), ela apenas interpreta, está com os dois pés de um lado só, como seu professor a ensinou. Tudo muda quando ela interpreta e acompanha o ritmo de seu coração e passa a cantar com a voz e com as mãos. 

São dois personagens coadjuvantes significativos que merecem uma indicação às próximas premiações. Sian Heder pode ocupar um espaço na concorrência por Melhor Roteiro Adaptado na próxima edição do Oscar 2022, quem sabe. O trabalho que ela deixa em CODA, é sensível, de interesse público e com um grito social pertinente. 

No Ritmo do Coração concorre a Melhor Filme na 79ª Edição do Globo de Ouro 2022 ao lado de Jane Campion com Ataque dos Cães, Belfast de Kenneth Branagh, Duna de Denis Villeneuve e King Richard: Criando Campeãs de Reinaldo Marcus Green.




Por Dione Afonso  |  PUC Minas

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.