12 Feb
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É raro encontrar filmes de comédia romântica que não caiam nos mesmos clichês narrativos que há anos entregam boas risadas e histórias não tão inteligentes assim. Mas uma coisa é certa: eles continuam vendendo, e muito! No fundo, o público gosta de boas risadas e de narrativas pouco profundas que não exigem muito pensar de nós, mas que nos permite nos divertir por uns minutos sobre um amor que tinha tudo pra dar errado e que no fim o “felizes para sempre” parece sempre consertar as coisas. 

O clássico de William Shakespeare, Sonho de Uma Noite de Verão, datado de 1595 é considerado o ponto referencial para a consolidação do gênero romântico e cômico. No cinema, as comédias românticas ganharam espaço e voz durante as décadas de 1930 e 1940, quando Hollywood saía da Era de Ouro do Cinema. As histórias de amor que misturam o riso e a paixão, então, começaram a ganhar espaço. Na Sétima Arte, nomes como Katherine Hepburn, Cary Grant e depois chegaram Audrey Hepburn, Marilyn Monroe e Gregory Peck deram cor e estilo às comédias românticas nas telonas. 


Reese Witherspoon e Ashton Kutcher 

Os protagonistas dão vida ao casal de amigos Debbie e Peter. Enquanto ela tem se destacado na comédia com boas atuações, ele parece querer algo a mais que isso. Um ator com comédia em sua filmografia, mas que também se destaca por seu papel em Efeito Borboleta (2004 e 2006). O filme da Netflix é dirigido pela cineasta Aline Brosh McKenna, é sua estreia na direção. Ela adaptou e assinou o roteiro de O Diabo Veste Prada de 2006. Witherspoon e Kytcher protagonizam uma história de amizade que supera a distância e a fidelidade a um sentimento muito verdadeiro e virtuoso. Os amigos, diariamente são tratados como algo passageiro demais ou sem que não é levado tão a sério assim. 

Em Na Sua Casa Ou Na Minha? a comédia ganha um teor de seriedade e o amor parece estar oculto em camadas da superproteção, ou do trabalho super exigente, ou ainda das escolhas que cada pessoa (nossos amigos, neste caso) seguem em suas vidas. A direção do filme foi muito inteligente e ousada quando fez os jogos de câmera mostrando, na mesma tela e na mesma cena como que as vidas podem se cruzar com muita facilidade, mesmo estando do outro lado do planeta. Que amizade, ser amigo de alguém vai muito além do estar, mas do ser, vai muito mais além do fazer. Debbie e Peter tinham uma amizade eficaz, serena, fiel e muito verdadeira. Faltava uma única coisa pra ser mais perfeita ainda: a discordância, o conflito e a briga. 


Não deixa de ser mais uma comédia esquecível 

Sim. O filme será esquecido em breve, assim que outras histórias românticas aparecerem. Ninguém mais fala de O Amor Não Tira Férias de 2006 com Cameron Diaz a Jude Law! Meu Eterno Talvez, recente, de 2019 que reúne no elenco Keanu Reeves, Randall Park e Ali Wong, ninguém mais se lembra! Mas, o estrelato de Legalmente Loira é um clássico, não é mesmo? Mas, não podemos descartar o fato de que, este filme supera as barreiras das comédias românticas que sempre caem nos clichês do “felizes para sempre”, ou daquelas típicas cenas de final de filme em que, numa longa estrada, um se volta pro outro e decide recomeçar. Entre Debbie e Peter, a cena do aeroporto no final, é, sim um clichê, mas o que vem depois é superado. É um passo a mais na direção do que é novo para filmes desse gênero. Vemos, no fim da história, dois amigos que entenderam o que é confiança, o que é responsabilidade e o que é ser fiel um ao outro. E perceberam que não é simplesmente contar tudo para o melhor amigo, mas é ter a certeza de que ele nunca julgará suas escolhas e decisões. Contar tudo pra alguém não é fazer dele seu melhor amigo, mas é fazer dele seu amuleto, seu depósito de segredos e impor à pessoa uma carga imatura de dependência. 

Destaque também positivo ao filho da Debbie, Jack (Wesley Kimmel), que foi peça fundamental nessa história. Jack é um colecionador de alergias e, apesar do filme não dizer isso claramente, parece que 50% dessas doenças são reflexos de realidade emocional que o supercontrola, superprotege, que ama demais e que não o deixa viver a própria vida. Não o deixa se machucar e nem perder, de vez em quando. Debbie precisou que seu melhor amigo viajasse do outro lado do mundo (ela morava em Los Angeles e ele em Nova York) para que ela pudesse entender que há certas fraquezas que precisamos passar na vida, afim de que as forças possam surgir mais poderosas.






Por Dione Afonso, Jornalista

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