O Castelo de Grayskull retorna na segunda temporada na releitura de He-Man pela Netflix. A animação prometeu, desde a primeira temporada, cenas bastante amadurecidas que respeitam o legado de décadas. Desenhado por Roger Sweet para a Mattel em 1970, os personagens de Eternia fizeram sucesso numa linha de brinquedos super elogiada pelas crianças da época. Era notório que a sua animação para as telas era próspera e necessária.
Não demorou muito, e, logo depois de adaptado para HQ, em 1983, He-Man fez sua primeira aparição na televisão produzida pela Filmation nos Estados Unidos rendendo um seriado de mais de 100 episódios. Até hoje, os Defensores do Universo receberam inúmeras adaptações e releituras, sempre carregando junto de seu sucesso uma legião de fãs por todo o mundo.
Atualmente, a animação da Netflix não deixa a desejar a história de Eternia. Alterando o título, tirando o nome de He-Man e colocando Mestres do Universo, a plataforma dirige uma releitura que, respeitando a trajetória do Homem mais forte do Universo, consegue inserir diversidade e feminilidade ao contexto dos povos de Eternia, cada vez mais, semelhante ao mundo real em que vivemos. (atenção, há spoilers a partir daqui).
De início, parecia confuso e perigoso uma história de He-Man, sem o He-Man. Na verdade, o príncipe Adam (verdadeira identidade do herói), se apresentou, nessa adaptação como um jovem sonhador e cheio de problemas próprios de qualquer outro jovem do nosso tempo. Dúvidas, indecisões, medos, tudo o que, aparentemente, nos faz classificar como fraco qualquer pessoa. No entanto, Mestres do Universo: Salvando Eternia traz a fraqueza e as imperfeições como chave essencial para se desenvolver uma nova história a He-Man e a todos de sua volta.
A primeira temporada havia dado um salto significativo quando apresentou o protagonismo das personagens mulheres na trama. Mulheres fortes e de opiniões que protegiam e defendiam He-Man e o Castelo. Na segunda temporada, essas mulheres ganham poder, força e ainda mais tempo de tela. É incrível como que a série conseguiu equilibrar o retorno do Príncipe Adam como He-Man, detentor do poder, ao mesmo tempo que desenvolveu o arco de Teela, Maligna e de Andra, uma jovem esquecida no passado, pobre, que passou fome e que se torna uma guerreira e mentora de Teela, a nova Feiticeira do Castelo.
Surpreendemo-nos quando vimos o que se tornou Teela na segunda temporada, quando, na verdade, imaginávamos que ela se tornaria outra coisa, com outro poder. No entanto, Teela, filha da antiga feiticeira e de seu mentor, torna-se a nova feiticeira do Castelo de Grayskull e faz de Andra, sua melhor amiga, sua mentora. Aos poucos a série vai passando o bastão de personagens que, antes eram homens, para mulheres, e mulheres jovens e poderosas.
Mestres do Universo: salvando Eternia é sobre alteridade. Maligna, quando trai Esqueleto e rouba para si os Poderes de Grayskull, afirma que Adam sempre foi merecedor do poder pois ele nunca o invocou para benefício próprio. O poder era chamado quando outra pessoa corria risco de vida e precisava ser salvo. O grande segredo do verdadeiro poder é compreender que por mais forte cada um de nós sejamos, essa força de nada vale, se ela não for compartilhada com os mais fracos.
Teela, no seu processo de abandono da vida passada, assumindo a nova vida, também compreende que todos podem ser detentores do poder, ele jamais deve ser controlado por uma única pessoa. A espada do poder continuará fazendo de Adam o grande e único He-Man, mas a sua força sempre será compartilhada de todos ser vivo de Eternia, pois a cada um lhes é dado a força de fazer algo de bom.
E, por fim, o retorno de Gorpo, que nos emociona. Sinal de redenção e superação também, de um passado cruel e difícil. Fechando o arco em duas temporadas, uma nova ameaça promete ser ainda maior para o terceiro ano de Mestres do Universo: Salvando Eternia. O que será que virá?
Por Dione Afonso | PUC Minas
