“Como uma espécie de Vingadores para o conjunto da escola primária, A Origem dos Guardiões é maravilhosamente animado e com ritmo acelerado nesse departamento de contação de histórias”
[ROTTEN TOMATOES, avaliação de 74/100].
Dirigido pela amerinaca Rachel Talalay novo longa da Netflix subverte o roteiro da trama de A Origem dos Guardiões (2012) de Peter Ramsey. Manual de Caça a Monstros (2020) tem roteiro de Joe Ballarini e história não passa de uma versão menos interessante do que o que David Lindsay-Abaire fez na animação da DreamWorks de 2012. Que aliás, recebeu uma indicação ao Globo de Ouro por Melhor Animação.
Ramsey e equipe de produção e roteiro tiveram o grande trabalho de adaptar para as telonas uma história do livro homônimo de William Joyce que traz personalidades como Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, Fada do Dente, Jack Frost e Sandman. Além disso, a animação contou com um vilão à altura de seus “heróis”.
No entanto, quando vemos o longa da Netflix de Talalay, é inevitável não trazer aos pensamentos uma breve semelhança de trama. Joe Ballarini adapta seu próprio livro para as telonas. Uma garotinha é amendrontada com seus pesadelos dando a eles “vida” e a impedindo de dormir. Seus brinquedos virão espécies de “seres do mal” prontos para ataca-la. A garotinha torna-se jovem e a então estudante Kelly Ferguson (Tamara Smart) passa a reviver esses pesadelos quando aceita ser babá por uma noite de Jacob Zellman (Ian Ho) na noite de Halloween.
Kelly percebe que Jacob não aceita dormir por conta de seus pesadelos. Ao dormir, eles dão vida a seus monstros imaginários e seus brinquedos começam a se mexer. Na trama, um vilão pouco trabalhado, desconexo e totalmente desprovido de um arco que o sustente entra em cena. O Grande Guignol (Tom Felton) aparece aterrorizante (nem tanto) e sequestra o garoto.
Resumindo: voltando ao enredo de Lindsey-Abaire, os sonhos das crianças é o que mantém suas crenças vivas de que Papai Noel (Alec Baldwin) existe; Coelho da Páscoa (Hugh Jackman) e a Fada do Dente (Isla Fisher) sempre estarão por perto; Sandman e Jack Frost (Chris Pine) também estão por aí. O vilão Jude Law como o temível Bicho-Papão é incrível e com poder ameaçador à altura. Ou seja, o que o longa da Netflix fez foi suberver o sonho em pesadelo. Desacreditar no poder de m vilão capaz de destruir o mundo e apresentar um produto final cheio de falhas e sem uma história que realmente se sustentasse. Manual de Caça a Monstros tem enredo pobre, personagens fracos e uma trama que não engata nem no suspense e nem na curiosidade.
Manual de Caça a Monstros
A obra de Ballarini, Babysiter’s Guide of Monster Hunting, de 2017 conta a história de uma Sociedade Secreta de Babás que protegem os sonos das crianças de todo o mundo. Com uma pegada meio de Kingmasn com escritórios em todos os países, Ballarini mistura um pouco de Agente Secreto com Poções Mágicas de Harry Potter.
O filme de Talalay tenta emplacar um pouquinho quando insere na trama da jovem Kelly, nossa protagonista, o desconforto do bullying por ser chamada de Menina Monstro pelos colegas. Ela havia contado sobre ter visto monstros enquanto dormia e, é claro, todos desacreditaram-na e isso virou apelido desagradável. No entanto, o tema não é aproveitado, e, quando a melhor cena de Kelly, salvando os colegas de uma rave de um monstro das sombras, a história provoca um recorte e te joga para um contexto totalmente fora do ritmo ali iniciado.
Com personagens misteriosos a história nos enche de perguntas que no final, ou não são respondidas, ou nossas teorias não faziam sentido. Falta entrosamento na dupla de heroínas entre Kelly e Liz (Oona Laurence); traumas do passado não são encaixados com harmonia na trama e o vilão aparece e some sem concretude e com planos nada conquistáveis.
Uma jornada de autoconhecimento poderia ter salvo
Quando o segundo ato da trama se inicia, Kelly apresenta o seu crush do colegial. O jovem galã e bonitinho Victor Collette (Alessio Scalzotto) é um interesse amoroso da protagonista e demonstra interesse em sua simplicidade e carisma. Como todo enredo teen, temos as patricinhas, as jovenzinhas ricas que apostam no dinheiro, na roupa nova, no glamour e na ousadia que enfrentam Kelly e destila sobre a jovem preconceitos e palavras rudes de discriminação. Quando essa trama se iniciou, o público esperava mais. Esperava aqueles embates que talvez seriam clichês entre a protagonista e o garoto em que ela se apaixona. A protagonista tornando-se heroína quando salva os colegas da escola. A protagonista que protege o garoto bonito e acaba arrastando ele para a aventura. A protagonista que desmerece as patricinhas mostrando a elas que o amor é mais importante que a roupa chique ou a fantasia de Dia das Bruxas impecável.
Uma jornada em busca de autoafirmação e autoconhecimento é o que faltou para que a trama fizesse sentido em toda a história. Enfim, Kelly abraça a missão de se tornar parte da Sociedade Secreta das Babás e o seu lance com o crush fica sem resposta. Aliás, Kelly apresenta desde o início da trama um dom especial em resolver mistérios e fórmulas supercomplexas rapidamente. Toma aí mais um elemento sem explicação.
O longa já encontra disponível na plataforma de streaming Netflix. Assiste lá e depois conta pra gente o que achou... Os livros de Joe Ballarini apresentam uma trilogia da história da Sociedade Secreta das Babás. Será que teremos uma continuação do longa?
“Deveria estar feliz que ainda tem sonhos e não pesadelos. É nosso dever cuidar das crianças do mundo e mantê-las a salvo. Proporcioná-las encantos, esperança e sonhos. Contanto que uma criança acredite, nós estaremos aqui para combater o medo.”
(“A Origem dos Guardiões, 2012, David Lindsay-Abaire)
Por Dione Afonso
Jornalismo PUC-Minas