19 Oct
19Oct

Tudo na vida carece de um equilíbrio. No jornalismo esta regra não é diferente. Quando vemos a ascensão das histórias true crime ganhando espaço e público nas telonas e nos streamings é necessário sempre nos questionar: a quem estas histórias favorecem? Quem é o protagonista de uma narrativa tão cruel e desumana? Equilíbrio! O jornalista e escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez [1927-2014] dizia que “todo jornalismo deve ser investigativo por definição”. E que a ética precisa encontrar seu lugar de excelência diante de cada história estás disposto a contar. Ser um jornalista de renome não é o mesmo que publicar aquela notícia que impactou o país, ou, não significa ter assistido e relado de perto a maior guerra do século. Mas, significa de que lado você está, qual é o seu ponto de vista dentro de cada história. 

O cineasta brasileiro Maurício Eça decidiu contar a história de Francisco de Assis Pereira. Um jovem apaixonado pelos patins, premiado no esporte e que ganha a vida como motoboy na grande São Paulo. Na década de 1990, Francisco protagoniza uma história que choca o país: acusado de agredir 21 mulheres, matando 10 delas. O Maníaco do Parque, buscando outro ponto de vista, acompanha a jornalista iniciante Elena [Giovanna Grigio] em busca de sua matéria, quando começa a investigar o passado do serial killer [Silvero Pereira] afim de descobrir sua identidade. Nessa jornada, Elena e Martha [Mel Lisboa], sua irmã, estão tentando superar o luto por ter perdido o pai. Elena tenta seu reconhecimento diante do Diretor do jornal, Vicente [Marco Pigossi] e os ciúmes do colega de trabalho Zico [Bruno Garcia]. 


De quem é a história? 

Antes de condenar o trabalho de Eça, chamando de insosso, fraco, com diálogos pouco convincentes, é relevante se questionar que história estamos dispostos a contar. O crescimento da personagem de Grigio, que protagoniza a narrativa é, sim, um pouco lenta, e sem muitos momentos grandes. Contudo, a jornalista Elena não titubeia diante de uma realidade que muitas pessoas se feriram nas mãos de um único vilão. No último ato – infelizmente tardio, no filme – Elena não cede ao desejo de dar voz ao vilão, ao mal, ao agressor. Senta em sua cadeira e decide dar voz a tantas mulheres que ficaram com feridas que nunca mais irão cicatrizar. 

É forte o bastante para você? Pigossi entrega uma atuação fria e calculista, próprios de seu personagem, o jornalista Vicente. Este não se preocupa com a ética de seu jornal. Com a veracidade dos fatos que está disposto a contar. Ter uma vida inteira marcada por um maníaco, um mal, uma violência não é uma história forte o bastante para ganhar a capa de seu veículo de comunicação. No jornalismo, o seu ponto de vista influencia todo um público. E tal opinião irá formar o conhecimento de muita gente. É preocupante a forma como que histórias desse gênero vão ganhando notoriedade nas plataformas digitais e algumas até nos cinemas. Portanto, a história que você assiste está do lado de quem? Do agressor ou das vítimas? 

Incluindo elementos reais e apoiando-se em outros da ficção – a personagem Elena, por exemplo, não existe na história real – o roteiro de L. G. Bayão derrapa na falta de força dialogal e de seu próprio gênero. As atuações de Pereira, Pigossi, Grigio, Garcia e Lisboa são impecáveis. Martha é uma psicóloga exemplar e que foi muito mal aproveitada em suas cenas. Faltou força motivacional, emocional, sentimental e de caráter também. O Maníaco do Parque, soube muito bem onde queria chegar e que história quis contar, mas, o caminho escolhido careceu de ousadia.




Por Dione Afonso  |  Jornalista

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