21 Sep
21Sep

A escada de subida para o sucesso da plataforma de streaming HBO Max galga com sutileza apresentando originalidade em suas obras. Euphoria (2019), de Sam Levinson já havia se destacado e, até então é o cartão-postal de divulgação e marketing do streaming. Igualmente se destada o spin-off de GOT, House of the Dragon (2022) apresentando o passado sangrento e de poder inigualável da Casa dos Dragões. Atualmente, além dessas produções, Succession, desde 2018 também já deu à casa da HBO um reconhecimento específico com narrativa sobre negócios em uma família que luta pelo poder entre os de mesmo sangue. 

Mas não para por aí! A 74ª Edição do Emmy Awards 2022, mais uma vez deu à plataforma o maior destaque da noite. Succession se destaca, mais uma vez com o maior prêmio da noite, Melhor Série de Drama. Porém, o maior destaque foi para Mike White, produtor e diretor americano com experiência na TV, cinema e também em produções de reality shows. O cineasta levou para casa dois emmys: o de Melhor Roteirista e o Melhor Diretor em Minissérie com a fictícia história perturbadora de The White Lotus. Contando, por enquanto, com uma temporada de 6 episódios, a série reúne um grupo de pessoas que decide tirar férias num hotel no Havaí. O encontro desses hóspedes no decorrer dos episódios é tão incomum quanto o motivo pelo qual ali se encontram. 


Aporofobia: a fobia do pobre 

A série nos apresenta 4 núcleos narrativos fundamentais: o primeiro deles nos é apresentado pelos funcionários do hotel. Ao lado do gerente chefe, o sr. Armond (Murray Bartlett) encontramos sua equipe de funcionários que são tratados, digamos, com certa falta de gentileza e cordialidade. Nisso, conhecemos os hóspedes: o primeiro núcleo é o casal em lua de mel, Shane Patton e Rachel (vividos por Jake Lacy e Alexandra Daddario). Patton é o homem branco, rico e hétero mimado pela mãe a vida toda e que espera encontrar na esposa alguém que obedeça e atenda aos seus desejos. Rachel se revela ser uma mulher que, em lua de mel, percebe que o marido não era tudo o que esperava ser. Uma jornalista freelancer que sonha galgar na carreira se vê presa pelos desejos e dinheiro do marido. 

O segundo núcleo é a família Mossbacher com a mãe, Nicole (Connie Britton), o marido Mark (Steve Zahn), os filhos Olivia e Quinn (Sydney Sweeney e Fred Hechinger) e a amiga de Olivia, Paula (Brittany O’Grady). Enquanto a mãe é controladora, mandona e com um distúrbio de arrumação, magnata de uma startup de tecnologia, o marido se revela um homem inseguro e com medo da morte por conta de uma crise de invalidez. A filha, Olivia é uma jovem manipuladora que enxerga na amiga negra e pobre a sensação de poder e grandeza. Já Quinn é o adolescente com hormônios à flor da pele, viciado em celulares, jogos virtuais e tecnologia, não tem amigos e nem vida social. 

O último núcleo, por fim é a viúva e solitária Tanya McQuoid (Jennifer Coolidge). Sua ida à ilha tem por objetivo lançar ao mar as cinzas da mãe que faleceu há poucos dias. Tanya é a mulher rica, super dependente que gosta de ser servida. Revela-se ser extremamente apegada e carente. As pessoas com menos poder aquisitivo econômico são para ela, presas fáceis para serem controlados. Para todos esses núcleos o preconceito e a discriminação entre classes são fortemente aplicados. Todos eles enxergam os mais vulneráveis e os com menos oportunidades como peças de um jogo que eles podem controlar. O próprio Armond estabelece esse tipo de relação com os funcionários do hotel já nos assustando no primeiro episódio quando uma de suas funcionárias dá à luz em seu escritório. 


Excelência do roteiro e a marca temporal 

O reconhecimento pelo roteiro de Mike White é notório. A comédia atrelada ao drama apresenta uma atmosfera angustiante entre pessoas ricas e brancas que se beneficiam de suas posições sociais para esbanjar suas riquezas e suas vidas vazias e sem sentido em cima de pessoas pobres, mas que carregam nos ombros os compromissos trabalhistas, os sonhos grandiosos e a família para sustentar. A crítica social é muito profunda e nos enoja quando bem protagonizada por atores exemplares. Rachel enxerga em Patton a masculinidade tóxica e o homem doentio que é ao tentar controlar as mulheres com menos poder aquisitivo. Rachel nunca sonhou em se tornar uma “perua rica” sustentada pelo marido esbanjando o dinheiro dele. Ela tem uma profissão e uma carreira para construir. Em determinado ponto da temporada a mãe de Patton aparece para sustentar outra discussão: a de ricos que se escondem atrás de obras sociais de caridade, mostrando que se importa com os mais pobres, mas que não passa de uma imagem de status

Os diálogos, muito bem construídos, conduzem o telespectador a uma reflexão difícil de digerir. O dinheiro não é tudo e preconceito de classe existe e é muito presente até mesmo nos dias de hoje. O problema histórico de colonização, exploração e de escravidão continua presente nas mentes brancas mais como um acontecimento fatal que por uma culpa por falta de humanidade. Famílias poderosas que se constroem sob heranças continuarão sendo referências em locais públicos e eles continuarão usufruindo de benefícios que podem ser distribuídos igualmente entre todos, ou, pelo menos, sendo colocado a serviço desses menos favorecidos e esquecidos socialmente.





Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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