09 Oct
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Com criação comandada por George Kay, adaptar o clássico de Maurice Lebranc volume pós volume da obra não parece ser o plano de Kay – e isso é bom. Quando a primeira parte surgiu, deparamo-nos com um estilo heroico a lá “Robin Hood”, premissa tal que não demorou muito pra cair por terra. Omar Sy, na pele de Assane Diop (que é um ladrão que busca inspiração em Arsene Lupin das obras de Lebranc), tenta agradar o público através de seus traumas do passado com um misto vingativo pelo o que aconteceu com seu pai. Com essa sinopse foi possível desenvolver um primeiro ano consagrando num vilão significativo no segundo: a família Pellegrini. 

A segunda parte de Lupin, aproveita, com louvor, o gancho da primeira e, mesmo tendo o mesmo inimigo, Diop busca novos aliados. Os roubos, as táticas e todo o esquema de fugas e de jogatinas é desenvolvido ao lado do fiel amigo Benjamin Ferel (Antoine Gouy). O Ladrão de Casaca nos surpreende mostrando que, de fato, sempre estará um passo À frente de nós e, mesmo arquitetando o maior roubo da história da França, Assane Diop precisa reconquistar a confiança de sua família Claire (Ludivine Sagnier) e Raoul (Etan Simon). O que esperar para a terceira parte? O que ainda falta para George Kay explorar? 


Mais do que roubo, agora é pessoal 

Kay sabia que repetir as fórmulas das temporadas anteriores poderia ser algo enfadonho e pouco enigmáticos. Portanto, o novo ano de Lupin não insiste em nos enrolar até o episódio final. O “grande ato” meio que é subvertido: é apresentado logo no primeiro episódio, e toda a trama se resolve ali mesmo. Não importa simplesmente roubar a Pérola Negra, o maior tesouro da França, não. Também não é tão importante assim, endereçar uma carta para a joalheria informando a data e a hora do roubo, para que os donos e a polícia não sejam pegos desprevenidos, não. Isso não é grande o suficiente, não é mesmo? Diop precisava de algo maior. Agora é pessoal! Assane Diop é um rosto público, conhecido, todos sabem quem são. Depois de meses foragido e sem executar roubos mirabolantes, agora ele precisava de uma cartada final: fingir sua morte enquanto embolsa a Pérola Negra. 

Os flashbacks, por mais cansativos que sejam – isso, em qualquer narrativa, – neste caso, parecem ser a válvula de escape e a justificativa para que tudo precise acontecer da forma que acontece. O terceiro ano afirma que, de fato, os fantasmas do passado de Diop continuarão a persegui-lo, independente de onde ele estiver e para onde ele for. O detetive – que neste ano está deixado de lado, infelizmente – Guedira (Soufiane Guerrab) não é mais o seu problema. Guedira se submete a um papel muito mesquinho nesta temporada, beirando à maluquice sem sentido, aficionado nas páginas de Arsene Lupin. Uma narrativa que não tem começo e nem nos levou a lugar nenhum. 

Os novos personagens, tanto na delegacia, quanto no jornal local, pouco contribuem para o desenvolvimento da história, são pouco aproveitados e caem num esquecimento por falta de empatia. A nova detetive Sofía (Shirine Boutella) é uma personagem exagerada que corre para todo o lado e nunca tem um destino. A não ser que Kay tenha esta intenção, a personagem nos faz perder totalmente a credibilidade nas forças oficiais da polícia local. Enquanto isso, vemos um Guedira decepcionado com a profissão e uma colega substituta descrente com a investigação em torno de Assane Diop. O mesmo acontece com a jornalista Fleur Belanger (Martha Canga Antonio). Uma personagem que merece muito um maior destaque, contudo, é reduzida a um jornalismo que se diz investigativo, mas não passa de furos jornalísticos interessados a Ibope. 


Com a coadjuvante Paris, Omar Sy tem seu carisma 

Contando (e somando) seus planos mirabolantes, Assane Diop nos oferece o melhor dos entretenimentos. O terceiro ano nos deixa um gancho para seguir com a narrativa que se abriu na primeira parte: o inimigo sempre será o mesmo. Claro, que, seguir os livros não é o plano (isso, até tentou nos enganar na primeira parte), agora, casar o carisma de Sy com a jornada contra um vilão pessoal é o que deverá ser melhor trabalhado numa quarta parte, caso tenha. A famosa corrida de gato e rato talvez não surte o mesmo efeito, caso isso se repita. O que mais tem a ser feito depois de fingir a própria morte enquanto rouba a joia mais valiosa de um Estado? 

A chegada da mãe de Diop, Mariamma Diop (Naky Sy Savané) também foi meio morna para a temporada. Mais um recurso, talvez, de Kay, para justificar a narrativa. Os “amigos” do passado de Assane retornam buscando vingança, para isso, sequestram Mariamma e colocam Diop num beco sem saída. Se a justificativa é forte, ou não, o presente que ganhamos é que temos mais da desenvoltura de Omar Sy, um ator impecável, carismático e cheio de suas nuances para viver os inúmeros disfarces de Assane Diop. A terceira parte de Lupin, não é a maior e nem a melhor. Ainda temos na memória o grande impacto que o segundo ano provocou, por isso, é relevante sobre o que está por vir num possível quarto ano.




Por Dione Afonso  |  Jornalista PUC Minas

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