30 Aug
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A Enviada do Mal [2015]; O Último Capítulo [2016]; Maria e João: O Conto das Bruxas [2020]; e The Monkey que será lançado em 2025 possuem uma coisa em comum com Longlegs: Vínculo Mortal – são trabalhos escritos e dirigidos por Osgood Perkins, ou, simplesmente Oz Perkins, com excessão da releitura do Conto dos Irmãos Grimm de 2020 que Oz não escreveu, apenas dirigiu. Iniciando sua carreira como ator, filho de Anthony Perkins que deu vida ao assustador Norman Bates em Psicose de 1960, filme de Alfred Hitchock, Oz participou da sequência, em 1983, interpretando o assustador Bates, ao lado do pai. Por aí, já podemos imaginar de onde vem seu estilo pelos filmes do gênero. Mesmo afirmando em entrevistas que os filmes de terror nunca fizeram parte de seu gosto, Oz consegue empregar um jeito muito próprio e estilo peculiar com suas obras. 

A pessoalidade, dramas familiares, traumas íntimos e identidade subversiva são o que dão vida à narrativa dos filmes de Oz. Longlegs – Vínculo Mortal ganhou a atenção do público, primeiro por conta de sua campanha de marketing e, segundo, pela presença e atuação de Nicolas Cage. Um ator conhecido por seus trabalhos muito bons e também pelos muito ruins. Com Cage só há duas certezas: ou ele acerta muito, ou ele erra muito. Nunca teremos um filme em que Nicolas Cage esteja mais ou menos. Ao lado dele, Maika Monroe e Blair Underwood completam o elenco. A história segue uma agente do FBI, Lee Harker (Monroe) que reabre um caso antigo na qual investigava-se um serial killer conhecido como Longlegs (Cage). A narrativa é perturbadora a partir do instante que a investigação vai apontando cada vez mais para o próprio passado da agente. 


O exagero simbólico 

Muitos elementos nos causam assombro, medo, pavor e perturbação nos quadros da obra. Para tanto, é urgente enaltecer o trabalho do Diretor de Fotografia Andres Arochi que teve um árduo trabalho em saber enquadrar tudo o que era necessário para causar tal impacto em quem assistisse. Há cenas de um vazio tão dramático e tão doentio na mesma proporção em que há cenas sobrecarregadas de entulhos, malas, bonecas, itens bagunçados que nos causam certa claustrofobia só em ver e não compreender o porquê e nem o como. O ponto de partida da premissa até não sugere nada de novo: vemos um thriller policial com elementos sobrenaturais. O que até nos permite fazer outras comparações de obras clássicas do cinema de terror. Oz não utiliza do plot twist para encerrar sua história. Ele simplesmente deixa o filme acontecer. Deixa a história o conduzir. É como se a câmera fosse sendo guiada pela sucessão de eventos, e não o contrário. 

As subtramas parecem ficar meio esquecidas dentro de uma narrativa densa e que sente certa falta de equilíbrio em provocar no público o medo necessário. Estamos diante de um terror psicológico, um tema que tem grandes nomes atuais como Jordan Peele e Mike Flanagan. Não é justo comparar Oz com nenhum destes dois, mas é inevitável não nos lembrarmos dos impactos assustadores que as obras deles nos causam. Tal impacto, em Longlegs – Vínculo Mortal fica comprometido por conta do simbólico não explicado e em quantidade absurdamente exagerada. Contudo, os elementos do sobrenatural e da religião salvam o filme e conseguem nos manter centrados na história que Oz está disposto a nos contar. 

Cage é assustador. Nojento, áspero, desequilibrado, doente e um serial killer disposto a qualquer horror para chegar onde quer. Sua atuação é formidável em todos os aspectos. Nunca o vimos assim. Oz consegue nos entregar um ator mundialmente reconhecido explorando o desconhecido dele. Em outra ponta desta mesma corda está Monroe, com seus medos e gritos abafados. Voz fraca e perturbadora a ponto de nos deixar com medo só de ouvir sua respiração. E por falar em ouvir, nunca, um filme de terror nos deixou com tanto medo pela ausência de som, de barulho, de música, de trilha sonora. A não música é ensurdecedora. Oz foi magistral nisso. 


Até onde é ilusão e onde começa o real 

Talvez uma das grandes dificuldades de Longlegs – Vínculo Mortal tenha sido equilibrar duas realidades que se confundem. Ao mesmo tempo em que nos sentimos convencidos de que estaremos entrando numa experiência que se assemelha ao true crime, logo nos damos conta de que a narrativa não pretende ser tão simples assim. O roteiro de Oz também é cirúrgico ao ir costurando cada elemento e, inclusive cada clichê que os filmes de terror provocam dando sentido e razão para estarem ali. Oz nos apresenta pessoas comuns, que tentam levar suas vidas sem grandes ambições e que de repente se deparam com uma sucessão de mortes sem razão. 

As cenas finais que vão desvendando o real objetivo da personagem de Monroe são sufocantes. Ver a agente do FBI tendo que confrontar com seu melhor amigo do trabalho e a própria mãe é algo que não esperávamos. Sentimos que Oz não soube dar crédito suficiente para o personagem de Underwood, e o mesmo ocorreu com Kiernan Shipka, que deu vida à adolescente Carrie Anne, a garotinha que sobreviveu ao passado quando Longlegs atacou pela primeira vez. As oportunidades de ter-se explorado mais esses personagens coadjuvantes teriam enriquecido um pouco mais uma história que poderia ter melhorado mais a sua desenvoltura e a conclusão não teria ficado tão óbvia.




Por Dione Afonso  |  Jornalista

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