21 Sep
21Sep

James Wan (1977, Malásia) é produtor, roteirista, diretor, editor e de uma mente brilhante quando o assunto é filmar sobre luzes e sombras uma história que nos impacta e surpreende não só pelos sustos mas por sustos que emocionam e nos prendem à narrativa. O cinema de gênero ganha com Wan, a cada ano, um novo elemento primordial: a inovação. O gênero de terror, horror a cada produção cinematográfica se desgasta com apelativos sangrentos e sentimentos de susto e gritaria. Wan, navega por águas novas ao tratar do gênero com algo mais próximo de uma concretude que faz dos filmes de terror mais atraentes por nossa curiosidade trazendo elementos novos que por seus sustos clichês. 

Maligno chega em 2021 como um exemplo clássico desse estilo de James Wan. O enredo inova e ousa ao se ancorar num contexto psicológico-científico com amparos concretos – se são reais ou não essa discussão perde o interesse do público quando o enredo nos prende pela trama – capazes de nos surpreender do início ao fim. Os sustos e medos existem, mas de forma menos apelativa e encaixados em momentos específicos da trama fazendo-nos experimentar uma boa sensação na sala do cinema. 

Segundo Bibbiani (2016), “James Wan é, sem dúvidas, o mais impressionante e prolífico nome do terror contemporâneo para os últimos 20 anos”. Bibbiani eleva o nome de Wan ao lado de Guillermo del Toro, Lucky McKee e Adam Wingard. Em Maligno,Wan apresenta ao público um thriller psicológico que nos intriga com o mistério dos assassinatos e nos prendem por uma história de sofrimento e misteriosa. Com semelhanças à Annabelle (2014, John R. Leonetti), Wan consegue se afastar do que o cinema já apresentou no gênero e usa as luzes ausentes a seu favor. (Atenção: há spoilers a partir daqui). 


James Wan mostra amor pelo formato fílmico: o primeiro passo 

Desde 2016 com Invocação do Mal 2 que Wan não apresenta uma produção de terror. Em 2021, Maligno revela que o cineasta, mesmo depois de ter navegado pela franquia de Velozes e Furiosos (2015) e depois em Aquaman (2018), não perde o tom e a maestria em fazer o que ama e se encantar pelo próprio formato em sua profissão. Esse, talvez seja o primeiro passo para uma boa produção (independente de gênero). Muitos profissionais afirmam que entre as artes existentes, o cinema, declarado como a Sétima Arte, é a que mais diz sobre o ser humano, sobre as pessoas, sobre a sociedade e os sentimentos relacionais. Aqui, afirmamos que, talvez, o terror seja o mais forte desses sentimentos. Pode não ser o mais importante, mas o que mais impacta. 

A protagonista Annabelle Wallis é Madson. Madson é uma jovem que começa a ter visões de assassinatos cruéis. Suas visões incomodam a polícia local e os detetives Kekoa Shaw (George Young) e Regina Moss (Michole BrianaWhite) começam a investigar os casos. Enigmaticamente Madson, em uma de suas visões, enxerga alguém que ela chama de Gabriel, o que ela entrega afirmando ser o assassino. Uma das primeiras vantagens desse roteiro é que Wan brinca com a incredulidade de Moss em relação a visões sobrenaturais e a crença de Shaw que decide dar crédito à Madson. 

James Wan consegue levar o público a um caso de mistério a lá Agatha Christie em busca do verdadeiro assassino em série. Luzes, reflexos em vidraças, identidade com tons em vermelho e azul, muitas sombras, contexto psiquiátrico, tumores... elementos que dão credibilidade e identidade própria à filmografia de Wan. Além disso, há os elementos de identificação e referências a Poltergeist, ao giallo de 70, Jogos Mortais, e o próprio Invocação do Mal. Referências leves e sutis que não tiram a identidade original de Maligno. 


O terror não mora ao lado, está em nossa casa 

O perigo mora ao lado. Mas a morte dorme conosco, na mesma cama. Gabriel, (o dito assassino) existe e não existe. Não é fruto de uma imaginação sobrenatural como Moss insistiu em afirmar e é alguém real como Shaw presenciou. O que não esperávamos era que Gabriel e Madson são um, ou não. E aqui, o elemento psiquiátrico e clínico foi perfeito. Ancorados num tumor maligno que se desenvolve, James Wan consegue dar credibilidade na existência do mal e responde à realidade atual. 

O que Maligno não revela, nós imaginamos e Wan garante que nossa imaginação não nos decepcione. E isso é um filme brilhante de terror. Não ficamos decepcionados. Nem tudo nos é entregue facilmente. E, a história se garante na realidade (existindo como fato real ou não). Em Maligno a fotografia, o jogo de sombras, a coreografia da violência não ficou a desejar. A cena sanguinária na delegacia entrega a melhor atuação dos protagonistas. James Wan não peca na manipulação do horror, ele entrega com cenas nítidas o que ele quer que vejamos com clareza. 

Por fim, Maligno é, sem dúvidas, um filme de terror brilhante, assustador na medida certa, enigmático, consistente e de qualidade. Sucesso de bilheteria, inclusive. Navegando entre os diversos terrores, seja da vida da personagem, seja da realidade de quem assiste, o terror, o medo, vive entre nós, e Wan, sem medo de errar – e ele não erra – insere esses elementos numa narrativa sem se perder nas sombras.




Por Dione Afonso  |  Jornalismo PUC Minas

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.