30 May
30May

Não tem como iniciar este texto sem mencionar o brilhantismo de Sydney Sweeney que estampa duas obras nas salas do cinema ao mesmo tempo: em Imaculada, além de protagonista, ela também entra como produtora ao lado do diretor Michael Mohan e do outro lado da sala do cinema temos Sweeney protagonizando ao lado de Gleen Powell, a comédia romântica Todos Menos Você. Isso, sem falar do recente – e fracassado – Madame Teia em que a atriz ainda está procurando entender o que que aconteceu ali. Enfim, vamos voltar ao ponto inicial: Mohan e Andrew Lobel que é quem assina o roteiro conseguem trazer à luz das câmeras mais um “terror de freira” que não se repete aos milhões que já assistimos recentemente. Na obra, Lobel se preocupa em nos conduzir por medos e assombros muito mais triviais. 

Estamos diante de uma das melhores interpretações de Sweeney. Inclusive, este faz o seu antecessor cômico esquecível rapidamente. É como se nós acabássemos de descobrir que o talento da atriz é neste gênero e não em nos fazer rir em comédias e historinhas de amor e encontros românticos. Além dela, Álvaro Morte encaixa perfeitamente como o vilão da história. Interpretando o Padre Sal Tedeschi, seu personagem é caridoso demais, ardiloso e pouco honesto. Tedeschi não consegue esconder o seu olhar ambicioso sobre a pequena jovem e recém-noviça Cecília (Sweeney) e força para que a adaptação da jovem no convento seja o mais leve e tranquilo possível. Como diz o ditado, “quando a esmola é demais, do santo se desconfia”. 


Uma jovem candidata ao convento 

A jovem Cecília recebe um convite generoso para ingressar num antigo convento nos arredores da Itália. Ao chegar no lugar, Cecília sente dificuldades com a língua, percebe que as jovens são menos acolhedoras e o próprio ambiente é apático e hostil. Aquele mesmo olhar do padre a persegue nos olhares das freiras mais idosas, meio que ambicionando algo sobre Cecília. Não demora muito e os jump scares começam a tomar conta, principalmente no primeiro ato do filme, o que é esperado neste gênero, contudo, até mesmo o exagero se encaixa muito bem à obra e Sweeney abraça com poder a sua personalidade de moça jovem, vinda de família super religiosa e que decide se afastar do mundo e doar sua vida por amor à fé. 

As visões, pesadelos, sensações estranhas, vultos, sustos e o comportamento anormal das irmãs idosas e moribundas vão encorpando a narrativa e proporcionando o clímax necessário. O convento em questão acolhe freiras que já estão no fim da vida, doentes e que só precisam de um lugar tranquilo para viverem o restante de seus dias. Cecília, sem compreender, presencia eventos que extrapolam o comum dessas mulheres e, mantendo a sua inocência sagrada e de jovem pura e obediente, tenta levar a situação com normalidade. Ao questionar sobre o ocorrido, nada desperta curiosidade e nem mesmo, assombro.

De repente, do nada, Cecília aparece grávida! Sem nunca ter sido tocada por um homem, nem mesmo antes de entrar para o convento, o padre, a madre e até mesmo um cardeal que aparece do nada atribuem a esta notícia, um milagre divino. Fruto de Deus, do Espírito Santo, Sweeney dá um espetáculo de atuação e faz de Cecília a jovem confusa, com medo, assustada, apavorada e que está correndo altos riscos por um “milagre” que ela não consegue acreditar que, de fato, está acontecendo... não com ela. As especulações a respeito do lugar e das outras jovens começam. O que colocamos como uma grande falha nesta produção é a falta de bons coadjuvantes. Mesmo havendo interações com algumas outras freiras, jovens atrizes, nenhuma se destaca e nenhum diálogo se torna plausível de atenção. O que não fica ruim quando o brilhantismo da protagonista nos entrega uma obra de arte. 


O desfecho de um milagre que não é milagre 

Quando Cecília forja um sangramento, ela tenta fugir do convento em busca de um hospital ou até mesmo pedido de socorro. Ela já tem consciência de que coisas estranhas estão acontecendo naquele lugar e ver que tudo e todos a colocam como uma “imaculada” não está certo. É aí que vemos Álvaro Morte mostrando a que veio. O padre que também não é padre verdadeiro, é, na verdade, um biólogo que foi expulso da medicina por ferir a ética trabalhista e por ultrapassar limites humanos. No convento, ele se apossa de um dos pregos que foram usados para pregar Jesus na cruz. Segundo o filme, aquele prego é verdadeiro e nele está o DNA do Filho de Deus. 

Atualmente está cada vez mais comum explorar o ambiente religioso, sobretudo do catolicismo – alguns defendem que sempre foi assim – para inserir elementos do mal, da perversidade humana e do sobrenatural. Este filme bebe de cheio nesta fonte. Ver uma jovem freira, que, virgem aparece grávida e que no ventre o filho que carrega possui o DNA extraído de um dos pregos que prenderam o Cristo na cruz, isso é de uma surreal criatividade. Apesar do último ato ser um pouco rápido e confuso, ainda temos uma das melhores cenas da protagonista a carregar uma barriga de 8 meses, prestes a dar à luz; explodir o vilão e ainda ser ferida... no final, dá fim a um mal que nunca deveria ter existido!



Por Dione Afonso  |  Jornalista

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