O gênero da ficção-científica no audiovisual tem explorado bastante suas narrativas. Desde a Viagem à Lua, de George Mélies, em 1902, o gênero vem ganhando novas proporções. Depois, o universo literário também começou a explorar o campo criativo e ganhamos obras como Duna e Star Wars... É surpreendente os lugares que nossa imaginação pode nos levar. Desde a sonhos futuristas até a realidades longe de nós, mas que se fazem possíveis de se concretizar. Carros voadores; habitantes extraterrestres; tecnologia mega avançada... Tudo passa a fazer parte de nosso imaginário, mas, não necessariamente, de nossa realidade. Muitos cineastas se destacam atualmente em obras deste universo, como James Cameron com Avatar; Steven Spielberg e Lana Wachowski.
Reconhecido por seus longas de terror, Scott Derrickson nos apresenta Entre Montanhas, estrelando Anya Taylor-Joy e Miles Teller, dois atiradores de elite e agentes secretos que são enviados a uma missão que pouco se sabe. Sem saber onde estão, ambos precisam vigiar um abismo que “separa os mundos capitalistas”. Ninguém pode contactar um ao outro e nada é informado sobre o que estão vigiando. Até que em determinado momento da narrativa, criaturas subumanas começam a escalar o abismo e são aniquilados pelas armadilhas como cercas, censores e bombas. Como bons atiradores, Drasa [Taylor-Joy] e Levi [Teller] atiram nas criaturas, impedindo assim que elas chegam ao habitat humano. A sinopse é simples e sua consecução também não oferece grandes empreendimentos.
A premissa do filme é boa e todo o seu primeiro ato também funciona muito bem. Enquanto Drasa e Levi conseguem se conectar – mesmo sendo proibido – o filme segue sua narrativa de maneira simples e consistente. Filmado do ponto de vista de Levi, seu antecessor, o soldado J. D. [Sope Dirisu], após deixar seu posto e entregar a missão a Levi, ele é resgatado e logo em seguida, morto. Esta simples cena, de um agente sendo aniquilado, pendurado do helicóptero que foi enviado para seu resgate é uma surpresa para quem está calmo assistindo ao filme. A partir daí a narrativa muda seu ponto de vista e começamos a assistir com desconfiança o que estamos a observar. Sabendo que Drasa e Levi assinaram a vossa morte e que daqui 12 meses eles também serão falsamente resgatados, o filme ganha uma nova atmosfera e a virada de ato acontece quando um cabo é arremessado de um lado ao outro e Levi visita a torre de Drasa.
Levi é enviado para a missão por uma empresária enigmática que, sem o filme nos contar, ela sabe de tudo sobre o passado de Levi, enclusive sua profissão como fuzileiro naval. Sigourney Weaver dá vida a uma mulher poderosa, cheia de mistérios, mas firme no que ela se pretende representar. Quase uma Amanda Waller da DC, Weaver, sem revelar a identidade de sua personagem, consegue plantar uma semente de dúvida em Levi e em nós, também. Como a história nos é contada do ponto de vista de Levi, não vemos como acontece a contratação de Drasa, mas sabemos que ela é da Lituânia e uma assassina treinada, capaz de atirar de longa distância. A série de TV, O Dia do Chacal, ainda está fresca em nossa memória, e os atiradores de Entre Montanhas nos lembram bem a inteligência e frieza de Chacal, personagem de Eddie Redmayne.
A química que se desenvolve entre Telles e Taylor-Joy, entre seus personagens também não é muito forte o bastante para nos emocionar e dar credibilidade à obra. Quando Levi cai no abismo e Drasa pula para salvá-lo, a cena fica pobre de sentimentos fortes e intensos. A interação dos dois na torre de Drasa é boa e bem construída, mas o carisma dos atores ficou um pouco na contramão do que a história pretendia nos contar. O desfecho da obra também é outro ganho de Derrickson. O que o abisma guarda, ou esconde, é um experimento científico que deu muito errado. Todas as proteções militares internacionais que envolvem todo o abismo fazem jus à ameaça que se esconde lá embaixo. A decisão de Drasa e Levi de destruir tudo aquilo, põe um ponto final bem colocado para esta história.
Por Dione Afonso | Jornalista
