31 Oct
31Oct

A Blumhouse, casa dos filmes de terror lançou, com exclusividade, neste mês de outubro, quatro longas macabros do gênero horror/suspense na plataforma de streaming Amazon Prime Video. Uma ótima sequência de produções para viver com intensidade (e, claro, com um certo medinho) este Halloween 2021. É muito importante mencionar que a Blumhouse Productions é uma casa que gosta de acolher o novo e abrir as portas pra quem deseja se aventurar no ramo. Ou seja, um novato cineasta que tem vontade de experimentar, fazer coisas novas, sempre terá uma porta aberta neste lugar. O que pode dar muito certo e deslanchar na carreira, ou o que, também, pode não se revelar promissor e partir pra outra. 

Os longas vão desde elementos como bruxaria até vampiros, fantasmas e com alguns elementos da crítica social abordando o preconceito e as condições desumanas de vida como a pobreza, e, também o caso do controle de natalidade com foco na purificação de uma raça descartando imigrante e fortalecendo a xenofobia. "Bem-vindos à Blumhouse" (Welcome the Blumhouse) é o nome da coletânea exluciva da Amazon Originals deste ano que nos apresentará quatro longas e serão lançados já na primeira semana de outubro de 2021.

Os quatro filmes foram lançados em duas datas na plataforma. Todos na primeira quinzena. Se você ainda não conseguiu entrar no clima do Dia das Bruxas, não perca tempo, aproveite essa indicação e divirta-se, pois ainda dá tempo. Esses trabalhos fazem parte também, de um manifesto de terror independente que explora os velhos conceitos traduzindo-os nos novos formatos e lutas sociais. São projetos criativos e de baixo orçamento. Conheça os trabalhos... Buuuuuuu...


1. Madres, Mães de Ninguém

F/poster "Madres": IMDb/Blumhouse Productions

Lançado em 08 de outubro, o filme de Ryan Zaragoza, marca a estreia do cineasta. O longa é baseado em fatos reais e nos mostram como que o horror e as cenas de pesadelo podem  acontecer até mesmo do nosso lado. As vezes podemos viver situações de grandes horrores em nossa vida. Beto (Tenoch Huerta) é mexicano e casado com a americana Diana (Ariana Guerra). O casal se muda de Los Angeles para o interior da Califórnia nos anos 1970. Jornalista e recém demitida do jornal em que trabalhava, Diana estava em busca de um ambiente tranquilo para escrever seu livro. O interior parecia ser uma boa ideia, mas...

Contando com a versatilidade do gênero horror de narrar, a história verídica encontra nas telas uma oportunidade de mostrar o lado sombrio e injusto de uma comunidade que não suporta conviver com o diferente de sua cultura. Um povo que luta, intensificamente para vingar-se de um passado de exploração e escravidão.

No interior, num ambiente latino e completamente deslocada, Diana tenta se aproximar da cultura do novo lugar que escolheu viver com o marido que passa a gerenciar uma fazendo e coordenar o plantio e a colheita de legumes. Diana, ao revirar as coisas antigas da casa, começa a desvendar segredos sombrios e de cunho social que envolve os agrotóxicos da lavoura e o fato deles afetarem mortalmente as mulheres grávidas do lugar. 

Atormentada ainda pelo espírito da antiga moradora da casa, Diana se vê no meio de uma investigação que envolve agrotóxicos que envenenam as mulheres, vítimas de xenofobia, machismo, racismo. Graças à apuração jornalística Diana salva seu bebê e desvenda o segredo da tal maldição do lugar. O terrror de "Madres" é real, não são seres míticos ou fantasiosos como vampiros, fantasmas, espíritos, bruxas, mas, sim a discriminação e a exclusão.


2. A Mansão

F/poster "The Manor": IMDb/Blumhouse Productions

De Axelle Carolyn, A Mansão (The Manor) acompanha a protagonista Judith Albright (Barbara Hershey), uma idosa que enfrenta a difícil tarefa de envelhecer. Resolvida a se mudar para uma casa de acolhida para idosos, Judith se depara com um ambiente deprimente onde todos não conseguem lidar com a perda da idade, da memória, da beleza e da vaidade. O protagonismo da história é a relação de amor e afeto entre a avó Judith e seu neto Josh (Nicholas Alexander). 

O longa de Carolyn é arrastado, mas introduz os elementos da velhice de maneira leve e muito respeitosa. Não é o tipo de terror pra te assustar. Poucos medinhos ajudam a dar seguimento à trama, no entanto, é difícil segurar o interesse na história. O passado de Judith como bailarina ficou na primeira e na última cena do longa tornando-se algo desconexo e irrelevante. Carolyn é uma das diretoras novatas de American Horror Story e, em The Manor, entrega-nos um terror leve, despretensioso e, na medida certa é até gentil.

Quando Judith se decide sair da responsabilidade do neto e da família em ter que cuidar de uma velha doente e chata, ela se muda para a Golden Sun Manor, uma casa de acolhida para idosos. No entanto, nessa casa Judith é atormentada, não pela perda da idade e da memória, mas por outra coisa muito pior. Sem entender o que significa tudo aquilo e temendo ser diagnosticada por louca, ela e o neto desvendam um mistério que envolve magia entre pessoas que nunca se entregarão ao encerramento da vida, sempre darão um jeito de viver, nem que para isso, outros tenham que morrer...


3. O Bingo Macabro

F/poster "Bingo Hell": IMDb/Blumhouse Productions

Aqui, o elemento fantasmagórico ganha sua força na pequena cidadela de Oak Springs, sul da Califórnia. Encarando o roteiro mais como uma sátira do mundo contemporâneo, o longa apresenta a ambição e a ganância pelo poder e dinheiro como resposta ao terror que assola um lugar sem desenvolvimento e sem os prazeres da tecnologia e da riqueza. Algo muito parecido com Deuses Americanos quando satiriza as novas ambições e os novos cultos da modernidade.

Trazendo o protagonismo heróico de Lupita (Adriana Barraza) a direção de Gigi Saul Guerrero insere alguns elementos do terror como mortes sangrentas e os delírios do fantasminha que se assemelha muito ao pecado capital. O filme tem um bom vilão interpretado por Richard Brake, o Mr. Big. Um deus do poder e do dinheiro que inaugura um bingo muito semelhante aos cassinos norte-americanos. Ludibriados pelo alto valor em dinheiro e a chance de mudar de vida, de deixar de ser as escórias da sociedade, os habitantes de Oak Springs vê em Mr. Big a chance de melhorar suas vidas miseráveis e sem futuro.

A crítica social aqui é forte e relevante. Tramita entre o passado saudosista onde estão as raízes de uma cultura e uma comunidade esquecidos e o futuro promissor e necessário de uma vida mais justa, cheia de novas oportunidades e chances maiores de sobrevivência.

Por fim, Bingo Hell não consegue nos surpreender muito. Tudo vai acontecendo meio que nos entregando o que poderá acontecer cena após cena. Um pouco mais de mortes, talvez, melhoraria o desempenho, mas a narrativa deu conta do seu recado em transmitir uma boa história com um bom protagonismo e vilão.


4. Negra como a noite

F/poster "Black as Night": IMDb/Blumhouse Productions

Entre as críticas sociais abordadas nesses quatro longas, em "Negra como a noite" é a mais forte. Com um elenco quase todo negro, vemos como que o racismo estrutural continua segregando e matando inocentes. A comunidade vampiresca também é beneficiária dessa separação desumana: vampiros negros são mais resistentes à luz do sol. A direção impecável de Maritte Lee Go nos apresenta uma história criativa e empolgante. A trama nos faz defender a causa de jovens que buscam melhores condições de vida lutando por um mundo melhor.

A protagonista Shawna (#AsjhaCooper) busca vingança pela morte da mãe quando a viu queimada pela luz do sol depois de ter sido transformada em vampira. Espera, vampira? Isso mesmo, o roteiro, como a própria Shawna narra, soube, magistralmente, encaixar questões pessoais e sociais, costurando numa numa única história. "Este foi o ano em que ganhei seios e lutei contra vampiros", é a sua narrativa que abre e fecha a história. O amadurecimento da própria personagem reflete também no amadurecimento das questões sociais e nas lutas que na vida real, precisamos abraçar e defender até o fim.

O elemento já não é novo, mas o enredo ganha na composição das histórias e na abordagem social muito bem costurada e não só como um elemento para justificativas. Ele está ali como uma necessidade real para que a história aconteça. Shawna tem Pedro (Fabrizio Guido), seu melhor amigo, gay e mexicano que também tem sonhos em ter uma vida melhor. A química dos dois é um perfeito equilíbrio em cena. Ele é branco que tem medo de brancos. Ela é negra que não sabe se aproximar de brancos. Coisa estranha, não é? O tema do movimento "VidasNegrasImportam, é inserido sem forçar a barra e de maneira justa e necessária na trama. A mãe de Shawna é uma usuária que vive numa locação abandonada, sem vistoria e sem amparo familiar e político. Estão ali para viver e morrer como indigentes.

Ambientado em Nova Orleans recém recuperada do furacão Katrina de 2005, a comunidade enfrenta dificuldades de se reerguer e seguir a vida. Muitos caem no caminho das drogas, outros da violência e outros poucos tentam o trabalho honesto. Igualmente a Bingo Hell, Black as Night apresente um vilão perfeito e que se encaixa tanto na trama, quanto nas causas sociais. Transformar esses indigentes em vampiros e formar um exército é uma maneira de tira-los de uma posição suja e de lixos da sociedade para uma posição de pessoas fortes e guerreiras que irão dominar o mundo. Os vampiros estão aí há milhões de anos e desejam dominar os humanos. Mas Shawna não pretende deixar isso acontecer.



Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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