17 Oct
17Oct

Grande marco histórico, o lançamento do Apollo 11 à Lua, encabeçado pelos Estados Unidos até hoje é marca registrada de conspirações, falácias, teorias... A corrida espacial que tomou conta do mundo durante a Guerra Fria e a virada de costumes nos países norte-americanos coloca a nova obra do cineasta Greg Berlanti para contar o pouso do homem à Lua. A década de 1960 também é marcada pela forte presença da mulher no mercado de trabalho e a chamada “guerra dos sexos” também ganha palco. Berlanti aproveita de um dado histórico e profundamente marcante para contar uma fictícia comédia romântica na qual uma marketeira recebe a tarefa de tornar “visível” e popular na audiência toda a construção do foguete espacial até a popularidade de seus tripulantes. 

De um lado uma mulher que atua no campo das Relações Públicas, Kelly Jones [Scarlett Johansson], de outro, o diretor da missão Apollo 11, Cole Davis [Channing Tatum], um cara marrento, fechado e que acredita pouco nas relações públicas e na propaganda. A missão, para Davis, envolve vidas humanas. O filme deixa marcado na história o fracasso da Apollo 1, também comandada por Davis e que o foguete pegou fogo antes mesmo de sair do chão, levando a óbito seus quatro astronautas. Sob as ordens de Moe Berkus [Woody Harrelson], Jones é enviada para a Nasa com a missão de trabalhar na publicidade da missão. Torná-la conhecida e pública, levar os astronautas para entrevistas e angariar patrocínios. Ao chegar, seu encontro com Davis não é o dos melhores e o atrito cômico entre os dois é o que dá tom a toda a narrativa. 


Até onde vai a propaganda 

Os métodos de Jones são pouco convencionais. É significativa uma de suas primeiras cenas em que ela entra numa sala de reuniões com 4 homens, na qual ela tenta vender um carro moderno, segurando sua barriga de quase 8 meses e mostrando o seu poder de mulher que sabe fazer seu trabalho e tem clareza de onde deseja chegar. Tudo teria dado certo se não fosse pela barriga falsa e seu jeito marketeiro de ludibriar e enganar patrocinadores. Até onde vai a propaganda? O filme seria uma aula perfeita de Relações Públicas ou de Publicidade e Propaganda se a ficção não nos levasse para um caminho nada humanizador. É tarefa da Comunicação Social buscar caminhos humanizadores para seus discursos. Como o filme brinca com um fato histórico e se permite ficcionar a realidade, a liberdade da arte não nos tira da experiência cômica. 

Davis, por outro lado, tem seu senso de humanidade. Por mais que Tatum nos apresente um personagem sisudo, carrancudo e pouco aberto às modernidades, ele se preocupa com as pessoas que se envolvem em seu projeto, seu trabalho, sua missão. É dolorido para ele e para nós, todas as vezes em que ele visita o memorial construído para os homens que morreram antes mesmo de iniciarem a missão. Agora o vemos na mesma situação novamente. Onde tudo pode falhar mais uma vez, ou tudo pode dar muito certo. Jones é uma trambiqueira. Não mede consequências para atingir seus objetivos. Consegue seus patrocínios, torna os astronautas conhecidos, consegue entrevistas, mas continua tendo dificuldades em convencer Davis de que seu trabalho é tão árduo quanto o dele. 

Jones sempre se apresenta com cores vibrantes. O rosa choque, o amarelo ouro, o cabelo sempre muito bem penteado, as maquiagens de cores vistosas, um sorriso que só a Johansson é capaz de nos entregar. Essa imagem, somada à sua assistente, Ruby [Anna Garcia] é uma crítica à resistência que, naquela época, a sociedade ainda mantinha em relação à presença da mulher ocupando lugares na sociedade que sempre foram ocupados apenas por homens. Vê-se que os trabalhadores do Apollo 11, comandados por Davis são todos homens. Não há a presença de mulheres no saguão. A não ser uma secretária ou outra limitada apenas para atender telefonemas e anotar recados. Mas, não Jones. Ela desfila com sua prancheta pra lá e pra cá, dando ordens e tomando decisões. 


Menos realidade e mais risadas 

Berlanti não se interessa pelos fatos maçantes e pesados do que ocorreu durante o projeto. Ele minimiza os impactos sociais e científicos e aproveita de um dado apenas para nos entregar uma história de amor. Davis e Jones é um casal perfeito que se une diante de uma missão que pode mudar o rumo da história da humanidade. Se mudou alguma coisa, talvez seja no campo da ciência, mas a humanidade ainda continua regredindo em suas relações e entendimento. No fim, o filme brinca com o fato de que, tempos depois, as corporações mundiais começaram a espalhar boatos de que o fato que o homem pisou na Lua era mentira. 

Sob as ordens de Berkus, e sofrendo ameaças, Jones é levada a construir um estúdio às escondidas para reproduzir a cena de que o homem pisou na Lua. Com a falsa história de que o projeto poderia dar errado, mas no fundo, Berkus não esconde o fato de que na corrida espacial vence quem for mais esperto e não o mais inteligente. E tanto na esperza, quanto na inteligência, Kelly Jones sempre esteve à frente e o desfecho desta história foi uma mistura de amor, reconciliação, dever cumprido e alegria por termos todos salvos no final.




Por Dione Afonso  |  Jornalista

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