13 Jun
13Jun

É relevante, antes de começarmos a tratar do trabalho que Glen Powell protagoniza e que co-assinou o roteiro ao lado do diretor Richard Linklater, dizer que Powell está bastante em alta. Quase que sequencialmente, o ator estampa dois cartazes na indústria. Até pouco tempo, Powell estava ao lado de Sidney Sweeney, que também é um nome bastante visado ultimamente. Os dois protagonizaram a comédia Todos Menos Você. Agora sim, teremos mais credibilidade ao tratar de Assassino por Acaso. Na história, conhecemos Gary Johnson (Powell), um professor universitário de filosofia e psicologia e que possui um lado nerd que ama tecnologias e tudo o que envolve este universo de inovações. E, por conta dessa sua aptidão, Johnson também faz bicos para a polícia afim de completar sua renda. 

A história é baseada em um fato real inspirada num artigo de revista escrito por Skip Hollandsworth. É por conta desta sua ligação com o trabalho policial que Johnson vê-se numa condição inesperada: contratado como falso matador de aluguel, ele começa a vestir-se de inúmeros personagens para arrancar de possíveis vítimas suas confissões desejosas em acabar com a vida de alguém. O que é divertido nestas cenas é que Johnson é apaixonado pelo comportamento humano e isso o faz explorar cada pessoa com quem ele vá se encontrar. Por isso, a riqueza e sagacidade em seus personagens quando vai se encontrar com o possível cliente. Tudo vai caminhando muito bem até se encontrar com Madison Masters (Adria Arjona) que o contrata para dar fim em seu marido violento e mal. Johnson vê em Madison, não uma mulher disposta a cometer um crime, mas alguém que precisa ser salva. 


“Assassino por Acaso” não mata ninguém 

Mas pode fingir matar, e a criatividade da história reside toda nesta informação. Fingir ser um matador de aluguel recoloca Powell de volta aos holofotes das atuações hollywoodianas, mesmo que o filme se encaixe entre aqueles que Hollywood não adotaria. Powell, ao dar vida a tantos disfarces consegue mostrar sua versatilidade e bom gosto. Quando Powell nos é apresentado como o simples Gary Johnson, não vemos ali verdade nenhuma, o que encontramos é um homem adulto, professor universitário que, mesmo amando o que faz, não recebe prestígio por tal. Tanto é que quando o seu disfarce com a polícia vai avançando percebemos que seus próprios alunos também começam a prestar atenção no professor. Percebem-se que, de repente, Johnson passou a se vestir melhor e ser um pouco mais atraente e bonito. 

Nada acontece por acaso. E é por isso que Gary Johnson percorre todo o filme sem atentar contra ninguém, sem matar ninguém, sem fazer mal a ninguém. Ele é apenas a figuração de alguém ou de algo que cada um nós um dia sonhamos em ser ou fazer. O que torna este filme tão curiosamente bom é o fato de brincar o tempo todo com um título que não se concretiza mas, que ao mesmo tempo não desiste até sua última cena em tentar nos convencer do contrário. A conexão entre Powell e Arjona também é muito bem construída e convincente. Vemos um misto de comédia e suspense, filosofia e cinema noir numa história bastante bagunçada, mas uma bagunça bem organizada. 

Quando Gary incorpora tantos personagens imitando matadores de aluguel, verdadeiros assassinos que encontramos na sociedade, na verdade são retratos de pessoas enigmáticas e reais. Por isso que é importante o fato de Gary Johnson ser formado em psicologia e amante dos comportamentos dos seres humanos. No último ato, a encenação que ele faz com Madison para convencer a equipe policial que ela é inocente é muito bem construída e convincente, tanto para os personagens que estão do lado de fora com escutas dentro de uma van, quanto para nós que assistimos a tudo. O filme é muito divertido. Johnson nos entrega uma reflexão a respeito de um ser humano que é mutável e que está sempre à beira de transformações sentimentais e psicológicas.




Por Dione Afonso  |  Jornalista

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