02 Nov
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Parece que faz anos, mas, há apenas 5 meses que Snyder lançou, pela Netflix, a sua nova empreitada perigosa, mas aventureira, aquele exército de zumbis que elevou o hype dos amantes do gênero. Army of the Dead: Invasão em Las Vegas devolveu ao cineasta todo o seu estilo e liberdade artística colocando-o de volta ao gênero que envolve zumbis, ação, morte e drama romancista. Snyder assume uma empreitada ambiciosa com a plataforma de streaming e promete uma franquia meticulosa, mas muito original. 

O primeiro longa, que trouxe Dave Bautista, Omari Hadwick, Ella Purnell, Ana de la Reguera, Nora Arnezeder e o carismático Matthias Schweighofer, nos colocou diante de uma cidade que sofreu o vazamento de um vírus letal para os humanos. Ao ter contato com a substâncias desenvolvida em laboratório, o corpo falece, mas, o vírus alimenta uma nova forma de vida morta. Os mortos-vivos retornam como zumbis e dominam toda a Las Vegas que é separada do resto do mundo por altos muros de contenção. 

Snyder promete uma franquia desse “exército de mortos”, mas, antes que o segundo filme chegue, um prequel é produzido e lançado na plataforma. Army of Thieves: Invasão da Europa traz de volta Schweighofer como protagonista, narrando o antes de sua empreitada em Las Vegas ao lado de Bautista. O “arrombador de cofres” Ludwig Dieter tem um carisma e uma atuação impecáveis que garantem o sucesso do “exército de ladrões” muito mais do que o filme original da franquia. Snyder se superou e apresentou aos fãs uma trama muito divertida, com sua famosa paleta de cores frias e sem muitas variações que contracenam, sem destoar, com a alegria colorida de Dieter. 


Antes do caos dos zumbis em Las Vegas 

Não tínhamos dúvida que o melhor personagem daquele time grandioso que Snyder reuniu para Army of the Dead, era o insuportável e amigável Dieter (que a gente descobre ser Sebastian seu nome verdadeiro). Schweighofer tem muita personalidade, e um poder de narrativa que permite fazer qualquer personagem que caia em sua mão, navegar entre o obscuro desespero e o descontrole engraçado e sorridente. Dieter nos conquistou no primeiro filme. Um amigão. Alguém que ninguém, nem ele mesmo, apostaria a própria vida, no entanto, foi alguém capaz de nos fazer emocionar mais que qualquer outro personagem daquela trama. 

Army of Thieves agora apresenta a história de Dieter, partindo de sua narrativa, oralidade e perspectiva de vida. Quem era ele antes dos zumbis? Se antes, Dieter era justificado apenas como o carinha que ia fazer a gente rir e se divertir, agora ele se diverte e ri com a gente e com os parceiros do longa snyderiano. Quem assina esse roteiro é Shay Hatten (que coescreveu o anterior), e a meticulosidade e cuidado para cada atuação e contra-cenas que envolviam Dieter foi essencial para o jovem nerd, frustrado, afobado, medroso e melancólico. Dieter vivia uma vida pacata. Foi uma criança incomum, diferente das outras. Investiu em sua nerdice, investigou, buscou conhecimento e encontrou aquilo que o satisfazia, aquilo que saciaria seus desejos enquanto realização pessoal. 

Resumindo: as habilidades de Dieter precisavam encontram quem investisse nele e o fizesse crescer. Havia um quarteto de cofres muito bem arquitetados, uma verdadeira obra de arte alemã que continham o mais enigmático sistema de segurança e códigos. Dieter prometia ser o único capaz de arromba-los e no menor tempo possível. Portanto, recrutado pela curiosa e bela Gwendoline (Nathalie Emmanuel), Dieter se une a Korina Dominguez (Ruby O. Fee), a hacker; Brad Cage (Stuart Martin), o bonitão herói e a Rolph (Guz Khan), o motorista mais rápido que existe. Juntos, a missão do grupo é de, por toda a Europa, arrombar os três cofres que já sabem a localização. 


O “exército de ladrões” insiste em narrar a vida de Dieter 

Para que fique bem claro, Schweighofer não só é o astro principal do longa, como também assume a cadeira da direção. O que faz se afastar bastante do estilo marca de Snyder. Suas formas de filmar e de aproximar e desacelerar as cenas não é algo que vemos aqui. Esse distanciamento resulta numa resposta mais que positiva ao que podemos esperar da promissora franquia. Schweighofer se aproxima muito do que vimos em Truque de Mestre, no qual vimos uma trama que envolve planos meticulosos e muita criatividade no desenrolar do roubo. 

O que faz a trama ainda mais especial é que Exército de ladrões não está interessado no roubo em si, na grana que podem fazer deles bilionários. Mas sim, a aventura e o fato de se protagonizarem o capítulo de uma história, sendo os únicos capazes de desvendar os códigos de cofres ornamentais com estilo único de decifragem. Nisso, Ludwig Dieter é praticamente o centro das atenções, da narrativa, da paixão. Por mais que sua vida de bancário seja pacata e sem projeção de um futuro maior e mais brilhante, tornar-se um bilionário da noite pro dia não é o seu maior sonho. Desvendar os mistérios que rondam esses cofres, por outro lado, o faria o homem mais realizado de toda a Europa. 

Por fim, Exértico de ladrões: Invasão da Europa é bom, muito bom. É fechado, independente, sem necessidade de sequência ou do já existente Exército dos mortos: Invasão em Las Vegas. Os ladrões funcionam sem os mortos-vivos; por outro lado, Las Vegas empobrece se não houvesse a Europa com Dieter.




Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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