23 May
23May

Army of the dead: invasão em Las Vegas (2021) lançado pela plataforma da Netflix na última sexta-feira (21) é a mais recente produção do cineasta Zack Snyder. Também assinando o roteiro, Snyder dá um passo atrás e retorna às suas origens desde Madrugada dos Mortos (2004). Com o novo longa sobre zumbis o cineasta não apresenta nenhuma novidade no gênero: tudo se trata sempre de uma infecção dentro de uma organização escondida pelo governo e que se espalha alterando os genes humanos. Nesse caso a infecção é controlada na cidade de Las Vegas que é totalmente cercada por muros, impedindo que os mortos-vivos perambulem pelo mundo. 

Snyder traz, dentro desse contexto, um elenco que desenvolve muito bem seus lugares dentro da trama. Tudo é centrado em Scott Ward protagonizado por Dave Bautista e sua filha Kate Ward (Ella Purnell). As quase duas horas e meia de história infelizmente sofre com a ausência de um roteiro dialogável. Mas, tudo é compensado com a trama de ação entre humanos e zumbis. 

Por fim, a nova história snyderiana consagra o trabalho do diretor mais como uma motivação de divertimento que de um trabalho profissional em si. Há muito profissionalismo em Snyder, disso não temos dúvida, mas há também, a história pela história, o desejo de fazer o que quiser por trás das câmeras e entregar ao público não uma história em si: mas a própria visão do diretor. Snyder faz de Army of the Dead uma celebração divertida revelando que fazer cinema é sua vida. Sua alegria. Pode até existir cinema sem Zack Snyder, mas jamais haverá Snyder sem cinema, e o cinema sem ele jamais atingirá o ápice cultural que esse talento exime. (atenção: spoilers a partir daqui) 


Army of the dead: invasão em Las Vegas é só cinema B? 

O cinema de estilo B (terror) hoje sofreu uma perversão do termo e acredita-se mais em ressignificar o termo como um grupo de cinema mais descompromissado com a crítica social ou com a representação da realidade trazendo uma “moral no fim da história”. Nas décadas de 30 e 40 o filme B era aquele que não havia a presença de grandes estrelas e, geralmente isso acontecia com os longas de ficção-científica ou com o terror. Não é muito o que vemos hoje, certo? O novo longa de Snyder parece confundir ainda mais os termos, não num ponto de vista fraco, mas numa reflexão mais concentrada ao que os cineastas vêm se propondo fazer hoje em dia. 

Em Army of the dead, Snyder utiliza uma relação familiar entre Scott e a filha para sustentar sua história. Os únicos diálogos construídos nessas mais de duas horas acontecem entre esses dois personagens. Todo o longa nos enche de uma certa esperança com os outros personagens, mas, no último ato, e quase tudo numa única cena, toda essa nossa esperança de sobrevivência é tirada de nós como um punho que entra em nosso peito e arranca o nosso coração. 

Portanto, quando assistimos a mais uma obra de Snyder, percebemos que o diretor não teve a pretensão de repetir o que fez no gênero em 2004 ao lado do roteirista James Gunn. Agora, no entanto, Snyder quis apenas representar. Como salvar Las Vegas? Como salvar a humanidade? Parece que “tal salvação” não é mais uma esperança duradoura. 


Personagens, zumbis e a ação trágica 

É trágico! Maravilhosamente trágico: assim definimos o filme de Snyder. Tudo é tão horrível, medonho, feio, que é maravilhosamente belo, bonito de se ver nas telas. Alguns destaques dos personagens nos chama a atenção, por exemplo entre Vandehore (Omari Hardwick) e o nerd Dieter (Matthias Schweighofer), uma amizade cômica e que termina de forma trágica. Scott e Cruz (Ana de la Reguera) também tem a esperança destruída quando ele vê Cruz sendo morta em sua frente friamente pelo ataque zumbi. O fantasmagórico tigre zumbi que já havia feito os fãs vibrarem no trailer também tem uma das cenas impecáveis quando ele ataca e mata o bode expiatório do magnata. 

Scott tinha a missão de “salvar” a grana de um magnata no centro de uma Las Vegas dominada por zumbis. Monta sua equipe e oferece um rateio da grana entre eles. Tudo estava indo estranhamente bem. A visão dos zumbis nesse longa é diferente, mais assustadora e curiosa. Eles parecessem ter pensamentos, consciência e até relação afetiva. O casal de zumbis que meio que dominam a tribo é assustador. São fortes, incapazes de perdão e são odiosos. Scott e sua equipe se desvencilha desse problema e cai em outro maior: a reconciliação com a filha. 

Portanto, o desfecho dessa história é regado a muitos tiros, lutas intermináveis, sacrifícios, explosões, fugas, destruição. Mas é também um desfecho de reconciliação da humanidade com o próprio perdão. Da humanidade com a decisão de não se deixar levar pelo poder e com o que pode ser feito quando tudo isso estiver nas nossas mãos. Com um clique (ou uma mordida) você pode mudar o destino de toda a história humana. 

Army of the dead: invasão em Las Vegas está disponível na Netflix. E o elenco ainda conta com Tig Notaro, Huma Qureshi, Hiroyuki Sanada entre outros.



Dione Afonso  |  PUC Minas

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.