17 Aug
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Toda vez que nos deparamos com o nome de M. Night Shyamalan, já temos a expectativa de que os elementos do terror atrelados ao sobrenatural, ou à fantasia far-se-ão presentes. Contudo, sua nova investida em Armadilha aposta em algo mais realista e que poderia ser, facilmente um episódio da vida real de qualquer lugarejo em nosso país. Uma das experiências que mais nos marcou foi com Tempo (2021), que, também explora esse medo da prisão, do fechamento e em Fragmentado (2016), filme que está envelhecendo como vinho e que se tornará um clássico de sua filmografia. Aqui não estamos lidando com reféns, como a experiência com Batem à Porta (2023) e, nem com experiências científicas e nem muito menos com o mundo sombrio da ficção. O que assistimos é algo que pode ser mais presente e atual. 

Gênio do terror e do horror, do cinema dramático e do medo, Shyamalan nos leva a uma experiência nova: estamos no meio de um show de uma importante artista do pop na qual o pai Cooper (Josh Hartnett) leva sua filha Riley (Ariel Donoghue) para conhecer de perto sua artista preferida. Cooper, é claro, se vê numa emboscada magistral. É notório a grandiosidade desta armadilha e sua inteligência. Fica claro no primeiro ato do filme que sair dali sem ser revistado é impossível e que não há nenhuma porta de escape. Não há saídas para um serial killer que de imediato percebe que caiu numa tocaia muito bem planejada e que aparentemente pensou em tudo. 


“Armadilha” não esconde a obviedade do roteiro 

A narrativa já está toda entregue a nós. Num primeiro instante ficamos um pouco arredios em pensar como que o diretor irá nos entreter num único show musical. Contudo, Shyamalan sempre tem aquela carta na manga e que seu público devoto já fica esperando por ela: a reviravolta. Muitos de seus filmes trata-se daquele plot twist muito bem arquitetado, aqui é algo mais arriscado. Confia-se no roteiro e insere a própria artista Lady Raven (Saleka) para dar seguimento ao plano da polícia para prender o assassino conhecido como “açougueiro”. Hartnett é um ótimo ator. Ele consegue nos passar confiança e ficamos até meio culpados em cair na tentação de torcer por ele. As suas presenças na frente da câmera no ato final do filme são espetaculares. 

Sua esposa Rachel (Alison Pill), que teve pouca participação também não ficou aquém de sua atuação. O que faltou na atuação da jovem Donoghue, apesar de ser boa atriz, Pill completou o que deu perfeito equilíbrio à narrativa do filme. Hartnett tem uma bipolaridade de personalidade e Shyamalan explora isso com maestria. O filme começa nos apresentando um pai amoroso, superprotetor, cuidadoso e que está feliz por realizar o grande sonho da filha. Por outro lado, mais tarde vamos identificando seus traços de psicopata. Enquanto Donoghue se preocupa em nos entregar uma filha realizada e muito feliz por ter vivido a maior experiência de sua vida, Hartnett tenta equilibrar o papel do pai normal com o do psicopata que se vê numa emboscada e que precisa se livrar dela. 

Por fim, estamos diante de um roteiro não muito inovador e com uma história já bastante manjada pela Sétima Arte. O grande diferencial que aqui vale e muito o nosso play é que M. Night Shyamalan é o responsável por dar vida a esta história, o que faz toda diferença para nós. É um filme “menos estranho”, mas que carrega os traços de seu estilo cinematográfico e que não nos decepciona. É um filme um pouco fora da curva de tudo o que ele já fez até então. Menos terror, menos sangue, menos morte, menos susto – na verdade, nem teve susto. Aqui ele tenta dar um teor cômico para a história, mas sua tentativa não foi muito prodigiosa, o que não interferiu no todo da obra. Assistir a Armadilha é dar play sem compromisso e se deixar levar pela diversão gratuita e generosa.




Por Dione Afonso  |  Jornalista

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