22 Jun
22Jun

Estamos de olho em Krasinski desde seu sucesso com a franquia Um Lugar Silencioso. O astro de The Office [2005 – 2013] celebra uma passagem do humor para o drama, da TV para o cinema de uma forma brilhante e muito bem posicionada. Krasinski é aquele artista que amplia seu horizonte de possibilidades e deixa claro qual é o seu Projeto de Vida. Hoje, roteirista e cineasta, o ator norte-americano tem contribuído para a Sétima Arte com histórias surpreendentes e de uma criatividade ímpar. Tanto sua franquia cinematográfica, quanto seu novo trabalho Amigos Imaginários, apresentam um grau de criatividade que seria um pecado à arte se deixássemos passar despercebido. 

Seu novo trabalho se dirige a um público mais nichado: um longa infanto-juvenil que se aproxima um pouco do que Divertida Mente tem feito. Ao lado do diretor, Ryan Reynolds e a jovem Cailey Fleming nos convidam para uma narrativa imaginária na qual nos apresenta aqueles típicos e clássicos parceiros de nossa imaginação e que nos dão certa segurança e companhia. Fleming é Bea, filha do personagem de Krasinski que, aliás, o diretor deixa claro que ele não protagoniza nada, mesmo papel desempenha a atriz Fiona Shaw, que dá vida à avó de Bea. Ambos apenas dão suporte para que a história tenha o seu devido lugar. O brilhantismo de Fleming se distribui com a parceria de Reynolds, no papel de Calvin e de vozes como Steve Carell, que dá vida a Blue e a maravilhosa Phoebe Waller-Bridge, como Blossom. 


Quando somos obrigados a crescer antes do tempo 

A narrativa fala de amadurecimento e de superação do luto. Nós acompanhamos Bea, uma adolescente de 12 anos que “precisou” deixar de ser criança cedo de mais, e isso implicou deixar para trás coisas de criança – o que inclui Calvin, seu amigo imaginário – afim de enfrentar a vida adulta. Por ter perdido a mãe muito cedo, vítima de um câncer, Bea precisa lidar com a vida adulta cheia de amargores, despedidas e perdas. É muito forte a última cena do filme quando ela implora para que o pai não morra, pois ela não está pronta para enfrentar mais uma despedida. Lembrando que Krasinski, com poucos minutos de tela, é aquele pai que não abre mão de suas imaginações, que enfrenta a vida adulta com a mesma alegria que quando tinha a idade da filha. E a filha, adulta demais, amadurecida demais, precisa se reconectar com essa inocência que um dia teve. 

Tornar-se um adolescente que não consegue mais ser criança acarreta em nossas vidas algo que não é muito saudável e fácil de se administrar. A vida adulta não precisa ser dura e cruel. Infelizmente que a torna assim somos nós próprios quando insistimos em colocar dor, drama, medo e peso em situações que poderiam muito bem ser tratadas com leveza e simpatia. Algo disso nos remete a Monstros S.A. quando substitui o medo e as lágrimas pela alegria e os sorrisos das crianças. Os filmes deixam muito claro para nós que a felicidade é mais poderosa que a tristeza e que sentir amor pode ser mais saudável que sentir ódio. Ter amigos torna a vida mais leve e simples. 

Krasinski celebra o passado, agradece pelo presente e projeta o seu próprio futuro, tanto no filme e para Bea, quanto para si e o cinema. Sua essência está na originalidade das narrativas que se dispõe a contar. Não estamos afirmando que ele está reinventando o cinema e nem que está criando algo novo. Muito pelo contrário, Amigos Imaginários elogia a PIXAR, dá um aperto de mão à Disney, recupera o brilhantismo de Spielberg e de Tim Burton, celebra a nova geração dos live-actions que, sendo bons ou ruins, estão aí na tentativa de nos ofertar algo novo. O que é válido afirmar é que ainda é possível sermos criativos dentro de uma indústria manchada pelo consumismo e pela segregação, vítima de privilégios. Amigos Imaginários é original porque é ousado e destemido. É criativo, rico, colorido e real. 


Nunca julguem o livro pela capa 

Amigos Imaginários também celebra a amizade em tela: uma amizade entre John Krasinski e Ryan Reynolds que se estende para o dia a dia de nossas vidas. É sobre amizade e sobre confiança. Bea é uma adolescente que criou seu amigo imaginário Calvin baseado na confiança e na amizade. Ele era alguém que ela confiava e que nunca a deixava sozinha. Nossas criações costumam desaparecer na medida em que vamos deixando que outros elementos cotidianos vão nos tomando conta. Mais uma vez, vale a metáfora com Divertida Mente, em que aprendemos que nós não podemos mudar a outra pessoa e nem cataloga-la de acordo com um sentimento, mas podemos abraça-la quando se sentir sozinha e com medo. 

Por fim, a obra de Krasinski sempre será merecedora de nossa atenção. O diretor e roteirista não ficou assustado com a amplitude que o conceito de “amigo imaginário” possui. Ele simplesmente se deixou levar pelos personagens que estava disposto a nos apresentar nesta história. E a própria história se encarregou de nos ensinar o resto. Atualmente muitos de nós, quando nos mergulhamos em crise acabamos encontrando refúgio em ambientes idílicos, mágicos, afastados da realidade. Amigos Imaginários só se interessou em dar vida a estes lugares para nos dizer que sempre que você quiser revisita-los, eles sempre estarão ali para te acalmar e te proteger.




Por Dione Afonso  |  Jornalista

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