09 Oct
09Oct

Com um primeiro ano fraco e com adaptação morna, efeitos visuais ruins e narrativa lenta e sem futuro, A Roda do Tempo, ganha, num novo ano, uma alavanca e sucessão de eventos que explora seus personagens com mais dignidade e bravura. Os livros de Robert Jordan ganham uma primeira adaptação para o audiovisual apresentando uma mitologia bastante feminina com presença forte de conceitos filosóficos e sobre a vida e suas relações. Pra quem acha que a saga fictício-literária é só sobre feminismo e luta das mulheres na sociedade, precisa, ler, de fato, com mais afinco esta história, pois trata-se de uma narrativa que nos mostra o que é suscetível de corrupção em nossa vida e o que pode matar a nossa alma. 

O grupo de amigos Rand al’Thor (Josha Stradowski), Perrin Ayabara (Marcus Rutherford), Mat Cauthon (Barney Harris), Egwene al’Vere (Madeleine Madden) e Nynaeve al’Meara (Zoe Robins), agora são melhor explorados em suas narrativas. Parace que a decisão em separá-los na virada da primeira para a segunda temporada deu fôlego à história e conquistou o público revelando as diversas camadas que cada um deles podem nos oferecer. Chamado de Poder Único – conceito explorado na primeira temporada – esta força que é reservada às mulheres e que quando um homem o toca, ele corrompe a força e também a si mesmo, agora, percebemos que elas, as mulheres, também podem se corromper. 


As Aes Sedai e a ajah preta 

O grupo de mulheres que são treinadas ao tocar o Poder Único recebe o nome de Aes Sedai. A protagonista – e, talvez, não tão protagonista assim, e isso é uma notícia boa – Aes Sedai Moraine (Rosamund Pike), lidera o grupo das Aes Sedai Azul (a ajah) e cada ajah é caracterizada por suas especificidades, ou seja, são os seus talentos que irão determinar a qual ajah você irá ingressar após o treinamento na Torre Branca, onde residem as Aes Sedai e onde vive o Conselho de toda a organização. Temos a ajah cinza, mulheres que lidam com a política e organizações governamentais; ajah azul, mulheres que tem o voluntariado forte em seu senso moral, elas, geralmente se voluntariam em missões perigosas; ajah vermelha, mulheres guerreiras e muito fortes. As Vermelhas não possuem um Guardião – um homem escolhido para defender as Aes Sedai em suas missões, lutam por elas e, se for preciso, dão a vida por elas... A ajah amarela são curandeiras e as ajah verde são mulheres sempre dispostas para a batalha. Ainda há as Brancas e as Marrons. 

É importante definir essas ajahs para que compreendamos onde que entra a ajah preta que é uma das novidades narrativas na segunda temporada. A Aes Sedai vermelha Liandrin, personagem da magnífica Kate Fleetwood, é a mulher que irá se corromper e trair a organização da Torre Branca. Liandrin se alia ao vilão da segunda temporada, Ishamael (Fares) e, sua traição começa a transforma-la numa Aes Sedai negra. Oficialmente, a saga nos apresenta 7 ajahs, o número da totalidade, o número Sagrado, o número da perfeição. A ajah preta corrompe a totalidade e quebra a perfeição. Quando uma Aes Sedal se corrompe, ela se alia ao Escuro e se torna guerreira dos Amigos das Trevas. Liandrin se alia a Lanfear (Natasha O’Keefle), uma das guerreiras do Escuro que foi despertada na segunda temporada por Ishamael. 

Todo o conceito de A Roda do Tempo é ancorado numa antropologia sociológica que apresenta a roda como o proceder da própria vida. Ou seja, manter a roda girando significa, proteger a vida, salvar a humanidade e lutar contra as forças do Tenebroso. Quando a roda se corrompe, a vida é posta em risco, vidas são perdidas, pessoas são escravizadas, as mulheres são exploradas, crianças manipuladas, a roda quebra, e as forças do Escuro tomam conta. 


O “Dragão Renascido” e os laços da amizade 

Quando mencionamos que a saga de Jordan era muito mais do que simplesmente uma literatura ficcional feminista, é quando a segunda temporada se encerra com a profecia do Dragão Renascido cumprida. Rand, então, junto de seus amigos, Matt, Perrin, Egwene e Nynaeve luta contra as forças do Escuro e juntos, mantem a roda girando. A força de todos em conjunto é o que, de fato, dá protagonismo real à série. A segunda temporada cresceu muito, consolidando um vilão poderoso, a própria entrada de Lanfear deu credibilidade à história e atualiza uma literatura que parecia estar desgastada. Contudo, Jordan nos apresenta um universo rico e com nuances novos. 

Quando a amizade ocupa o primeiro plano da narrativa, A Roda do Tempo ganha novo impulso. Concentrar todo o conceito numa Aes Sedai e em seu Guardião al’Lan (Daniel Henney) seria um ponto de fracasso, reunir o grupo e depois perde-lo deixou a história com outras possíveis saídas que a enriqueceu. A Aes Sedai foi afastada do Poder Único e tornando-a vulnerável, frágil e mais humana, levantou outras discussões: o que uma mulher fraca é capaz de fazer; como uma mulher encontra forças para superar o banimento, a depressão, a tristeza e seguir em frente... Enquanto Moiraine e Lan tentavam se conciliar e voltar à narrativa, os 5 amigos, separados, lidavam com suas solidões, suas lutas – exteriores e interiores – afim de se fortaleceram, descobrindo quem são e indo em busca do que almejam (o crescimento de Egwene é de um brilhantismo impecável). 

O reencontro desperta o Dragão Renascido, em Rand al’Thor. Ele só é despertado quando percebe que não está sozinho. As mulheres da Torre Branca, lutam para que este poder esteja ao lado da luz. Essa é a missão de todas as Aes Sedai e também a missão de toda a humanidade, poder usar esta grande força para o lado da roda, o lado do bem. Ishamael e seus guerreiros do Escuro irão, a todo custo, convencer o Dragão Renascido de que o lado certo na roda é o das Trevas. Rand, por sua sorte, não está sozinho, ele tem amigos, ele tem uma família e o Dragão Renascido tem o povo.




Por Dione Afonso  |  Jornalista PUC Minas

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