13 Oct
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O seu mais novo projeto – e, o último em parceria com a plataforma – adapta, mas sem seguir o roteiro original, um conto do incrível Edgar Allan Poe. Contudo, Mike Flanagan já revela, nos primeiros minutos que a obra de Poe servirá mais como inspiração do que como fonte direta, até porque, o conto não sustentaria os oito episódios de A Queda da Casa de Usher. Mike Flanagan, teve os holofotes mais claros sobre sua obra com as produções A Maldição da Residência Hill; A maldição da Mansão Blye, talvez uma das mais incríveis, Missa da Meia-Noite. Mas, antes mesmo dessas séries antológicas, Flanagan também trabalhou em Doutor Sono (2019), Ouija, Origem do Mal (2016), O Espelho (2014), esses são seus longas-metragens também do gênero. Não se compreende o terror de Flanagan se não for capaz de compreender a sagacidade e a eficiência sutil na narrativa. Ele não quer te assustar, mas quer te prender em algo pavoroso. 

A experiência que mais importa em obras do gênero do terror é, não o terror pelo terror; o terror pelo medo; o terror pelos gritos de susto, não! Isso seria uma experiência momentânea demais, e ser momentâneo é algo que não combina com Flanagan. Se tem uma coisa que suas produções não nos provocam é sentimento de efemeridade. Com ele, tudo é intenso, profundo, enigmático e com diálogos que falam mais sobre a vida e a morte do que sobre o terror. O assombro é, em suas obras, magnífico, inteligente, intenso, assustador e prazeroso. Com A Queda da Casa Usher, Flanagan ataca novamente com seu elenco fixo – incluindo sua esposa, Kate Siegel – e, para quem acompanha suas séries, reconhece todos os rostos escalados. 


Os magnatas do poder e um pacto 

Não é a primeira vez que A Queda da Casa de Usher ganha uma adaptação para as telas. Em 1928 o cineasta francês Jean Epstein assumiu a tarefa em transpor para as telonas a narrativa de Poe, depois, em 1990, foi a vez de Roger Corman levar para as telonas o conto enigmático de Edgar Allan Poe. Agora, Flanagan assume a narrativa com um diferencial: possui mais tempo de tela para narrar com toda a riqueza de detalhes e os mais assombros possíveis. O conto (e a série), narra uma série de acontecimentos estranhos e até, sobrenaturais que acontecem com a família Usher. Liderada pelo seu patriarca Roderick Usher (Bruce Greenwood) e sua irmã Madeline Usher (Mary McDonnell), a família assiste, de forma assustadora, a morte de toda a nova geração dos Usher. 

Os filhos, Tamerlane Usher (Samantha Sloyan); Frederick Usher (Henry Thomas); Napoleon Usher (Rahul Kohli); Camille Usher (Kate Siegel); Victorine Usher (T’Nia Miller); Próspero Usher (Sauriyan Sapkota), protagonizam diálogos enfadonhos e, alguns, até cansativos, pois, como afirmamos, Flanagan gosta de falar, dialogar e tecer narrativas que duram minutos numa única cena. A grande chave da série está numa mulher misteriosa, protagonizada pela atriz Carla Gugino. Verna, sua personagem, é uma figura misteriosa que começa a surgir, assustadoramente, na vida de todos os irmãos Usher, e, após seu aparecimento, eles morrem, um a um. Roderick, ao perceber o que estava acontecendo, tenta driblar o pacto feito anos atrás em 1980, véspera de ano novo. Na ocasião, ele e sua irmã, cedem à tentação proposta por Verna de que ambos teriam vida próspera, riqueza, reconhecimento público até que, quando chegar a hora de ambos, toda a geração da família Usher também morreria, encerrando sua dinastia. 


Os capítulos finais e o insaciável desejo de poder 

Quando a série vai atingindo seus capítulos finais, Madeline e Roderick chegam a atentar contra a própria vida: Madeline tenta matar o irmão na certeza de que sem ele, ela conseguiria um novo pacto com Verna e levaria os Usher e sua imagem ao poder máximo de riqueza. Roderick tenta matar Madeline, pois acredita que se ele somente viver, ele conseguiria se livrar do pacto de Verna e seguiria sua vida como único sobrevivente. O diálogo entre ele e o Detetive Dupin (Carl Lumbly) simboliza, para o telespectador, o momento em que o próprio homem tenta driblar a própria morte a troco de poder, dinheiro, status, glória, e para isso, ele é capaz de qualquer sacrifício... 

A presença sobrenatural de Verna, que se traveste de um corvo assustador é o grande protagonismo de toda a história que Flanagan se dispôs a contar. Acompanhar o trabalho deste cineasta é se encantar com a versatilidade de Kate Siegel e o talento impressionante de T’Nia Miller; o carisma de Rahul Kohli e que Samantha Sloyan é capaz de interpretar qualquer personagem. Quando a história se depara com questões humanas, Flanagan investe nisso, usa do terror, do horror para nos atingir em cheio com questões sobre a vida, a dor, o sofrimento. Carla Gugino representa o desejo insaciável de poder, de dinheiro que o homem representa. A chuva de cadáveres que encerra este capítulo é, nada mais que a incapacidade do ser humano de se preocupar e pensar no outro. De pouco me importa se tem alguém sofrendo por conta dos meus atos; se estes atos estiverem me concedendo sucesso, bem estar e poder, é isso que vale.





Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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