03 Jan
03Jan

2022 está entre nós! Bem-vindo. E, para começar o ano, a HBO Max lançou a reunião do “Retorno à Hogwarts” que apresenta o reencontro da maioria do elenco de toda a saga de Harry Potter, bem como o produtor responsável e os diretores que ficaram de frente nos 8 filmes: Chris Columbus (Harry Potter e a Pedra Filosofal, 2001 e Harry Potter e a Câmara Secreta, 2002); o vencedor do óscar Alfonso Cuarón (Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban,2004); Mike Newell que ficou responsável em trazer para as telas a passagem da adolescência para a vida adulta tanto dos personagens quanto dos atores (Harry Potter e o Cálice de Fogo, 2005); e, por fim, David Yates que dirigiu desde A Ordem da Fênix (2007) até o final de As Relíquias da Morte, parte 2 (2011). 

Participaram do encontro, atores como James Phelps e Oliver Phelps (os gêmeos Fred e George Wealey); Jason Isaacs (Lúcio Malfoy); Evanna Lynch (Luna Lovegood); Matthew Lewis (Neville Longbottom); Tom Felton (Draco Malfoy); Helena Bonham Carter (Bellatrix Lestrange); Gary Oldman (Sirius Black); Ralph Fiennes (Lord Voldemort); Robbie Coltrane (Rúbeo Hagrid); Daniel Radcliffe (Harry Potter); Emma Watson (Hermione Granger) e Rupert Grint (Rony Weasley), entre outros... Também teve a sessão que homenageou os que partiram, como Alan Rickman (que partiu em 2016) Severo Snape e a mais recente, Helen McCrory (que partiu em 2021) Narcis Malfoy. 

O reencontro do elenco aconteceu num clima muito de muita nostalgia, emoções, e também uma celebração por tudo o que viveram. A amizade e o amor que cada um, mesmo 20 anos depois, sentem um pelo outro é algo contagiante, mágico. Vivenciamos os atores visitando cenários cruciais de toda a saga desde o Grande Salão Principal do Castelo de Hogwarts até uma cena muito divertida no Beco Diagonal e dentro do Banco do Gringotes. Prepare-se porque o Expresso de Hogwarts partirá, novamente, no mesmo horário da Plataforma 9 ¾ e te levará de volta ao lugar que sempre foi o nosso lugar. 


A magia entre a experiência da leitura e o trabalho por trás das câmeras 

Depois de caminhar pela estação King Cross e embarcar no trem rumo a Hogwarts, o cenário muda para cenas gravadas de livrarias, lançamentos, coletivas de autógrafos, nas quais vemos o que representou e ainda representa a coletânea de sete livros do bruxinho mais famoso do mundo. A literatura transformou um clube de leitores mundiais depois de Harry Potter. Seus livros tornaram-se um divisor de águas no mundo todo. Não é exagero dizer que há uma cultura literária antes de Harry Potter e uma depois de Harry Potter. Nenhum outro fenômeno literário se comparou até nos dias de hoje a Harry Potter. Ainda é um dos livros mais vendidos mesmo depois de mais de 25 anos que o primeiro volume chegou às livrarias. 

Filas quilométricas eram formadas nas portas das primeiras vitrines que informavam que o próximo volume da saga chegaria às vendas. A primeira edição se esgotava em 24 horas de vendas. A segunda, não durava mais que dois dias. Ralph Fiennes, o ator que foi convidado a viver o papel do Lorde das Trevas, Voldemort, quando foi convidado para o papel, ele não sabia do que se tratava. Na época, ele ligou pra sua irmã e contou sobre o convite. Sua irmã tinha dois filhos, seus sobrinhos, e ele conta que elas imploraram para que ele aceitasse o papel. Robbie Coltrane, aceitou ser o Guardião das Chaves, Rúbeo Hagrid depois que seus parentes adolescentes também imploraram. O papel da leitura na vida desses atores foi fundamental para que a saga se tornasse um importante fundamento cultural de transformação social. 

Por trás das câmeras, cada ator foi transpondo tudo aquilo que o universo literário contava e narrava. Os mais adultos, que não tinham ainda contato com esses livros, passaram a consumir as obras literárias. As crianças que não faziam outra coisa, a não ser ir em busca do próximo volume de Harry Potter, viravam noites lendo. “Eu não me lembro de ter lido um livro mais rápido do que Harry Potter”, confessou Alfred Enoch, que deu vida ao Dino Thomas, nos filmes. No cinema, Harry Potter também provocou uma mudança que não víamos desde de 1952 com Singin’ In The Rain (Dançando na Chuva), filme que marca uma nova era de Hollywood. Criar um universo cinematográfico com 8 filmes interligados, conectados e coeso, foi algo inspirador e levou outros estúdios a investirem em algo mais duradouro e permanente. Harry Potter, desde as páginas dos livros até as grandes telas do cinema, continua transformando experiências culturais e alterando sistemas e capitalizações comerciais e de entretenimento. 


O Trio de Ouro 

Daniel Radcliffe, o Harry Potter aparece no Especial andando entre as lojas do Beco Diagonal. É aí que a gente começa a chorar e a se emocionar. O Beco Diagonal é a passagem do mundo dos trouxas (de quem não é bruxo) para o mundo dos bruxos. É onde você se permite conhecer um mundo novo. E, no auge dos seus 11 anos, aquele menino, sem saber como dizer, conhece uma Londres diferente e repleta de magia. Radcliffe revive toda essa experiência andando por aquela viela, até entrar no Gringotes e se encontrar com Helena Bonham Carter, a Bellatrix Lestrange. E que encontro. Juntos eles se reconectam com tudo o que viveram naquela década. A atriz é um poço de simpatia e de diversão ao lado de Radcliffe. Há um carinho muito grande entre essas pessoas, assim como há entre Radcliffe e Gary Oldman, o Sirius Black e também entre Radcliffe e o Diretor Chris Columbus. 

Depois, no Salão da Casa da Grifinória, não poderia faltar a emocionante cena entre Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint. Três pessoas fantásticas que seguem suas vidas vinte anos depois. Grint hoje é pai e Watson é uma ativista e uma mulher muito respeitada. Radcliffe segue nas telonas e nas telinhas com suas atuações. O reencontro desses três trouxe muita coisa à tona como a pressão da fama, crianças, adolescentes que tiveram que viver com uma sexualização cedo demais. A vontade de abandonar tudo e sair correndo, se esconder. Um preço que tiveram que pagar muito cedo. 

Uma das coisas mais perfeitas e grandiosas desse Especial de 20 anos de Harry Potter é essa integridade e verdade que deixaram transcorrer em suas falas. Tom Felton, o Draco Malfoy, que é uns dois anos mais velhos que os três, tornou-se um ombro amigo muito seguro e muito sincero. Todos eles, Matthew Lewis, que fez o Neville Longbottom, Bonnie Wright que fez a Gina Weasley, são muito gratos com tudo o que viveram, mas deixaram claro, diante das telas o pecado que isso os fez cometer também. A fama tem seu preço, mas o que fez as coisas tornarem-se mais leves é que todos os diretores conseguiram trata-los como crianças, quando crianças, adolescentes cheios de hormônios, quando adolescentes, adultos, quando adultos. 


A geração de leitores 

Ao terminar as mais de uma hora e quarenta minutos de Especial, sentimos o quanto que essa literatura ainda é viva. Livros de Harry Potter ainda continuam sendo reimpressos e sendo sucesso de vendas. Os filmes seguem sendo um dos mais assistidos no serviço de streaming no qual é disponível. Uma nova era se reinicia com a franquia de Animais Fantásticos que segue produzindo livros e novos filmes. Lojas oficiais de produtos seguem sendo inauguradas. A nova geração de leitores – mesmo que menor – segue se formando com o impacto que Harry Potter causou há 25 anos. Quem nunca leu, um dia começou a ler conhecendo Harry Potter. Hoje em dia, a cada 24 horas uma pessoa começa a ler Harry Potter. É uma porta aberta para o conhecimento. 

O que faz Harry Potter ser tão atual, com quase três décadas depois, é o seu envolvimento com a vida atual de cada leitor. Ele tem a maestria de se conectar com a criança que o lê e com o adulto que também pega o livro para ler. Todo o público se sente conectado com aquelas páginas. A sua popularidade, mesmo que tenha caído um pouco por conta dos pontos de vista controversos da sua criadora, é algo que continua firme e presente, a ponto de ainda render tanto sucesso nos dias de hoje. 

Mas nem tudo é só Harry Potter. Como afirmamos, tudo isso é uma porta que se abre para um vasto universo do saber. É preciso, assim como Radcliffe, caminhar por esse novo mundo que se abre afim de conhecer as novas possibilidades que o conhecimento pode te oferecer. Assim como todos aqueles atores, hoje, vivem novas experiências e, algumas delas, totalmente diferentes, é preciso que nós, que um dia, devorou os livros de Harry Potter, também possamos, por novos caminhos, embarcar em novas páginas que a literatura nos oferece. “Cinquenta anos depois as pessoas vão continuar lendo e assistindo Harry Potter. Eu, infelizmente, não estarei mais com elas. Mas, o Hagrid, sempre estará” (Robbie Coltrane).




Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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