Produção faz parte da DC Comics e acompanha Sonho (Tom Sturridge) um dos perpétuos que compõem a natureza vital humana. Para quem não é familiarizado com esta história, Gaiman narra uma jornada curiosa: o perpétuo em questão se vê preso numa armadilha ardilosa empreendida por um humano, Roderick Burgess (Charles Dance). A nova adaptação da Netflix nos coloca exatamente neste ponto e, num salto muito bem traduzido, já nos lança séculos depois, com Sonho se libertando desta prisão. Ao escapar, o Perpétuo inicia sua jornada na qual precisa recuperar seu reino, seus poderes e seu prestígio entre os perpétuos.
Entre semelhanças e divergências com as HQs, a produção televisiva respeita a originalidade de cada personagem. Quando aparecem em tela Coríntio (Boyd Holbrook) e Desejo (Mason Alexander Park), vemos que na adaptação eles ganharam um lugar mais de antagonistas, meio que os vilões de Sonho. O Perpétuo Morte (Kirby Howell-Baptiste) é quem rouba a cena nas poucas vezes em que aparece nesta primeira temporada. Apesar do grande sucesso de atuações, Sandman ainda precisa se esforçar mais para conquistar seu lugar no Emmy.
Ver Lúcifer na pele de Gwendoline Christie é um ato nosso, de reverência. Sem exageros, os telespectadores sentem o desejo de se curvar diante da magnitude daquele ser, o Rei do Inferno. Que atuação! Christie se revela audaz, forte, temerosa e sem receios de propor o pior e o maldoso. A batalha entre Lúcifer e o Rei dos Sonhos é algo de encher os olhos. A qualidade fotográfica e os cenários é incomparável às outras tentativas de adaptação das obras de Gaiman. Constantine (Johanna Coleman) também é outro destaque magistral que não passa despercebido de nossa reverência.
A ida de Morpheus, o Rei dos Sonhos ao inferno é que revela qual é o centro da narrativa: Morpheus precisa recuperar seus itens mágicos afim de restabelecer a ordem e recuperar seu lugar entre os reinos dos perpétuos. Uma missão que pode dificultar o futuro da série, caso o roteiro não saiba introduzir novas e coadjuvantes narrativas. Mostrar apenas como os Perpétuos se comportam pode não interessar o público por muito tempo ou por mais temporadas. Mas as relações, o comportamento do mundo diante dos desejos, sonhos, amores, invejas, ambições, pode interessar, quem sabe.
Há ainda os que criticam a obra quando encontram algumas disparidades com o visual e as cores. Há muita fumaça, muitos tons escuros, mas, nada se compara com a tragédia que acompanhamos em GoT. Depois de quase 40 anos do sucesso das HQs, esta é a primeira adaptação para a TV com originalidade e respeito à obra. Não obstante, Gaiman acompanhou e trabalhou junto aos roteiristas para garantir tal qualidade narrativa.
Por fim, como afirmamos, mesmo que este seja o centro das HQs, apenas acompanhar Morpheus em sua jornada pela busca de seus itens pode não ser o bastante para conquistar o público nas próximas temporadas. Houve dificuldades para a renovação de um segundo ano, mesmo com o alto índice de interesse do público no streaming. Sandman é uma história original e muito bem escrita. Criada e idealizada por uma mente de respeito e que conquista seu próprio público até hoje. Queiramos nós que esta mesma conquista possa ser acompanhada com suas histórias contadas em outros formatos como este.
Por Dione Afonso | Jornalista