24 Mar
24Mar

Atualmente, Fundação (AppleTV+, 2021); e Halo (Paramount+, 2022) tem se tornado duas grandes referenciais de obras sci-fi na televisão; nos cinemas, a concorrência é mais frenética! Enquanto a primeira, de Steven Kane e Kyle Killen apostam no poder da cibernética que “aprimora” a carne humana afim de sobreviver numa guerra contra extraterrestres no futuro século XXVI, a segunda, que traz a dupla Josh Friedman e David S. Goyer na produção vai mais além e explora a galáxia em que humanos vivem espalhados tentando sobreviver sob um regime imperialista intergaláctico opressor. Mas, essa seara das narrativas científicas não para por aí: agora, a dupla David Benioff e D. B. Weiss, temidos por Game of Thrones, se unem ao escritor Alexander Woo e adaptam a trilogia da literatura científica do chinês Cixin Liu: O Problema dos 3 Corpos. 

Como dito em outro artigo, a literatura sci-fi é tão antiga quanto a escrita, e isso interfere no desejo de sempre estarmos questionando a nossa existência neste mundo e o nosso fazer na sociedade. Nas telas sempre nos deparamos com narrativas que se voltam para a mesma questão: não estamos mais satisfeitos com a humanidade e sonhamos com algo – ou alguém – que ocupe este nosso lugar e faça melhor o que tentamos a vida toda fazer. Na adaptação do trio Benioff, Weiss e Woo também não é diferente. Por um lado, percebe-se que este tipo de história não tem mais o que explorar; por outro, revela a sua força motriz em volta de um elemento que nunca se esgotará.


Somos nós, os únicos viventes neste planeta? 

Quando, nas primeiras cenas da temporada assistimos a uma China afogada numa Revolução Cultura na década de 1960, assustamo-nos com tamanha crueldade que o ser humano é capaz de causar para defender seus ideais. Em nome de uma “certa verdade”, somos capazes até de matar quem não abraça o mesmo. O Problema dos 3 Corpos, implicitamente é um pouco sobre isso. Não estamos aqui realizando uma análise profunda dos escritos de Liu, até porque, de 3 livros, a primeira temporada deu conta de condensar os dois primeiros, deixando um gancho muito bem construído para mais uma temporada. O que infere aqui mais forte em nossa reflexão/análise é que a humanidade em si, a cada dia se divide entre os que nunca se satisfizeram com o que conquistaram e os que sempre viveram sobre a sombra de um outro ser que a vida toda nos vigiou. 

Os produtores não demoram muito para nos apresentar qual é a narrativa que importa nessa empreitada: cientistas começam a se matar depois de serem submetidos a uma contagem regressiva que só eles conseguem ver diante de seus olhos. “Coisas boas não acontecem quando chega em 0”. Depois que uma colega de trabalho comete suicídio, a série nos apresenta o “grupo dos 5”. Cinco jovens cientistas se juntam – forçosamente, diga-se de passagem – numa jornada que, sem muito entender, levará a uma descoberta ainda maior. O primeiro que nos chama a atenção é a jovem Jin Cheng (Jess Hong), uma astrofísica que acaba comandando toda a grandiosidade do projeto; depois, Jack Rooney (John Bradley-West) que adiciona uma pitada de comédia diante de uma possível catástrofe mundial. Os outros três, Saul, Auggie e Will conseguem nos conectar mais com a trama em si. Will, vítima de um câncer nos faz chorar diante da tela. Enquanto o “mundo corre o risco de morrer para alienígenas”, Will (Alex Sharp) decide, num último respirar “morrer para tentar salvar o mundo”. Seus mais fieis amigos cientistas precisam lidar com a difícil missão de manter seu cérebro intacto num futuro de 400 anos à frente. 

Saul Durand (Jovan Adepo) e Auggie Salazar (Elza Gonzaléz) é aquele casal que faz pouco caso do que sentem um pelo outro, mas não abrem mão. Auggie foi a única do grupo a receber a contagem regressiva, até ela descobrir que para sobreviver, ela teria que jogar no lixo toda a sua pesquisa das nanofibras. Saul tenta manter seu espírito livre diante da sociedade, mas se vê, ainda mais inserido no miolo de um projeto que até então ninguém sabe onde vai dar e nem o que precisa ser feito. 

Enfim, a grandiosidade da narrativa consegue lidar muito bem com uma história complexa e que precisa inovar a cada década. Conspirar com a presença de alienígenas, ou com a existência de outro povo vivendo na mesma galáxia que nós, humanos, não é algo novo. O Problema dos 3 Corpos, é ciência pura, mas é mais do que isso, é também sobre humanidade, pura ou não, mas a humanidade que cada um de nós consegue exprimir em nossas decisões.




Por Dione Afonso  |  Jornalista

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