20 Feb
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O brutalismo é um ramo da arquitetura moderna. Frequentemente apresenta formas simples e geométricas, como blocos retangulares, torres, cubos e cantos com ângulos bem destacados. Com estruturas massivas, imponentes e que sempre dão a sensação de monumentais. O movimento brutalista surgiu na metade do século XX, no pós Segunda Guerra Mundial, para desafiar as estéticas convencionais, oferecendo algo mais funcional, grutesco e rápido. Brutalismo tem origem na palavra francesa “béton brut”, que significa “concreto bruto”. Suas características acolhem construções com aspectos inacabados; uso de materiais pesados como concreto, aço, vidro e madeira; caráter funcional e a prevalência de linhas retas e formas geométricas. 

Indicado em 10 Categorias na 97ª Edição do Oscar 2025, O Brutalista é o filme dirigido por Brady Corbet que levou o Prêmio de Melhor Filme de Drama na Edição do Globo de Ouro de 2025. Longa que Corbet dirigiu e co-escreveu com Mona Fastvold conta a história de um arquiteto húngaro-judeu Lászlo Toth que sofreu as prisões judias na Europa nazista e que conseguiu se refugiar nos Estados Unidos, deixando sua esposa para trás. Toth é interpretado por Adrien Brody e Erzsébet Toth, a esposa judia é interpretada por Felicity Jones. O elenco ainda traz o talento de Guy Pearce; Alessandro Nivola; Joe Alwyn e Raffey Cassidy. Toth é um personagem fictício que se deixa levar pela loucura e poder autoritários quando mergulha demais no trabalho e na emoção da arte arquitetônica. 


Grandiosidade do filme não combina com a pequenez dos personagens 

Quando Toth embarca numa América pobre, ingrata, suja e viciada em opioides, ele se encontra com a derrota de um sonho americano que não foi feito para todos. Arquiteto renomado em seu passado, ele tenta se reerguer trabalhando em obras públicas. No começo, sob o guarda-chuva de uma falsa ajuda familiar de um primo Átilla (Nivola) e a esposa, Toth descobre que nem toda ajuda é saudável. Num abrigo para refugiados ele se encontra com o mundo sujo e longe do sucesso e da fama que a arte oferece. Mas quem muda sua vida de rumo é o magnata Harrison Lee Van Buren (Pearce). Van Buren conheceu o trabalho esplendoroso de Toth e o “recruta” para que ele construa em sua propriedade monumentos grandiosos e dignos de sua fortuna. 

A inteligência e sagacidade de Toth e a forma que ele lida com cada matéria-prima é o que confere identidade ao filme de Corbet. Chamar O Brutalista de grandioso pode gerar alguns desconfortos e até mesmo uma certa irreverência: ele é grande, sim, pelo tempo de tela que passa das 3 horas e meia de filmagens. Contudo, tal grandiosidade não se conecta com seus personagens. Mesmo interpretando muito bem, Brody, vivendo o fictício arquiteto judeu se mostra muito simplório, pequeno e tímido, porque seu personagem o fez assim. Da mesma maneira a esposa de Jones: Erzsébet, mais castigada pela guerra e perseguição europeia, doente, perdida, envelhecida, também é uma personagem pequena, mas muito forte, presente e sempre com boas atuações. 

Já as interpretações de Cassidy, como a filha/sobrinha Zsófia e a de Pearce não pareceram tão satisfatórias pela crítica e pelo público. Enquanto o magnata se mostra duro, rígido, seco e sem profundidade na personagem, a jovem é melancólica, mal enquadrada em cena e sem muitas expressões significativas para a obra cinematográfica. Relembramos que ambos são dois grandes artistas e profissionais, contudo, a grandiosidade de O Brutalista não foi positiva para a valorização de suas atuações. Os três atos do grande filme também se perdem em grandes cenas dialógicas e em narrativas exaustivas e que perdem a relevância na obra final. Enquanto que no primeiro ato nos concentramos em Toth e sua jornada, no segundo vemos como que ele lida com seu reencontro com a esposa. O ato final tenta amarrar os conflitos emocionais, relacionais e profissionais até então gestados.  


Capitalismo e apropriação americana 

No final, a América acaba se tornando o que sempre sabemos que ela é: oportunista. Encerrar esta narrativa dando centralidade à violência que Van Buren pratica contra o arquiteto de origem judia é mais uma amostra do que o mundo consegue enxergar quando olha para a América Nortista. Lászlo Toth até conseguiu construir boas amizades no começo desta história. Ele tem bom coração, boas intenções e vimos muito disto no primeiro ato, como sua amizade com o amigo negro que conheceu na fila por comida e no abrigo. A tentativa de voltar para a Europa, retornar para Jerusalém encabeçada pela narrativa de Zsofia também é outra tentativa de carimbar a mesma ideia a respeito dos americanos e sua falsa hospitalidade. 

Não providencial, estamos assistindo a uma realidade não muito positiva na política estadunidense atualmente, e O Brutalista só faz reforçar ainda mais o que o poder, a negligência e a segregação são capazes de fazer com aqueles que são diferentes e pobres. Apropriar-se dos talentos dos outros, só porque o outro não compartilha da nacionalidade “privilegiada”, rica e com sobrenome de luxo não é uma solução humana a ser realizada. Mas, infelizmente é o que vemos e com muita frequência nas relações sociais por aí. Filme de Corbet coleciona 10 indicações ao Oscar de 2025, incluindo a de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original.





Por Dione Afonso  |  Jornalista

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