A australiana Nikole Kidman, atriz e produtora cinematográfica, 57 anos, ganhou os holofotes de Hollywood em 1989, quando atuou no longa Terror a Bordo, de Phillip Noyce. Quatro vezes indicada ao Oscar, inclusive pelo impecável Moulin Rouge! em 2001, a atriz conquistou a estatueta em 2002 por sua atuação em The Hours. Kidman é elogiada por sua versatilidade à frente das câmeras. Católica praticante, Kidman possui dupla nacionalidade por ter nascido no Havaí, EUA. Em Honolulu ganhou um título de “estrela celestial”. Trabalhou com o diretor Stanley Kubrick e atuou em obras que abordam desde o terror até a comédia. Na TV e no Cinemas tem grandes títulos em sua filmografia. O mais recente trabalho Babygirl rendeu à atriz uma indicação ao Globo de Ouro que acabou perdendo para a brasileira Fernanda Torres por Ainda Estou Aqui.
Dirigido pela cineasta Mimi Cave, Kidman estrela Holland, uma história “imaginária” que projeta o estilo de vida perfeita num lugarejo chamado Holland, interior de Michigan. A ambientação do conservadorismo e de uma vida bucólica, são temas que o roteiro até tentou desenvolver, mas... enfim! Kidman é Nancy Vandergroot, dona de casa e uma professora dedicada. Casada com Fred Vandergroot [Matthew Macfadyen], os dois, ao lado do filho Harry [Jude Hill] sustentam um lar sob os valores da confiança, lealdade e da amizade. Tudo parece perder o sentido quando Nancy começa a desconfiar das viagens do marido. A esposa dedicada partilha seus sentimentos com o colega de trabalho Dave Delgado [Gael García Bernal], também professor e, juntos, os dois se relacionam numa paixão proibida e decidem investigar a vida de Fred.
O primeiro ato do filme é bem construído. Ao localizar cada personagem em seu contexto, Cave parece tomar uma decisão mais arriscada ao seguir mantendo os segredos e o suspende para os próximos minutos da história. Nancy se encontra numa atmosfera insegura, decepcionante e cheia de imperfeições. Ela vê aquele mundo magicamente construído, perfeito e cheio de beleza se desmoronar. O paralelo que sua vida familiar faz com a beleza dos longos campos de tulipas, muito bem plantadas, cuidadas e coloridas é impecável. O trabalho de fotografia de Pawel Pogorzelski foi eficaz e nos entregou o objetivo planejado. Outro ponto positivo é – pelo menos na primeira parte do filme – é a história não se embasar em traição. Não que ela não exista, mas não é o estopim para o desencadear das coisas ruins acontecerem.
Nancy e Dave constroem uma relação mais de amigos que de amantes. Dave, pelo menos é solteiro, vive sozinho e encontra em Nancy a oportunidade de viver uma aventura que ultrapassa as paredes seguras da escola. Nancy, encontra em Dave a chance de mudar o rumo da sua vida desligando-se de uma família perfeita demais, segura demais, feliz demais, sem riscos e sem aventuras perigosas. Ambos se unem pelo desejo de desconstruir aquilo que é bonito e perfeito demais. O ser humano também se constrói de suas imperfeições, aprende com seus erros e amadurece com suas aventuras e perigos. A interpretação que Macfadyen nos oferece do marido, no entanto, não parece nos deixar com aquela dúvida que seu personagem carece. Fred deveria ser um homem enigmático, com olhares sombrios e fundos. Mas, o que vemos é um Fred paizão, apaixonado pelo filho e super dedicado à família. Sem ar de desconfiança e sem sinais de desconforto.
Toda a narrativa se ancora neste trio. O pequeno Harry também tem seus momentos de tela e Hill brilha com sua catarse interpretativa. Ao se tornar objeto dos pesadelos psicossomáticos da mãe, Mimi Cave eleva o nível da história. Vemos uma Nancy perturbada, confusa e sem saber como agir. Infelizmente a história se perde quando decide deixar estes sonhos traumáticos e assustadores de lado. Faz deles um apócrifo, ou seja, se não estivessem aparecidos não fariam falta. A história, em seu último ato nos entrega um Fred que se satisfaz assassinando pessoas por onde passa e sua maquete, construída no cômodo separado da casa é praticamente a sua confissão.
Por Dione Afonso | Jornalista