02 May
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A personalidade de dois jovens que morrem e decidem fugir da Morte para não encarar o que há no Além já teve outras investidas para ganhar sua própria história. Agora, portanto, o projeto foi abraçado pela Netflix e Garotos Detetives Mortos, derivado de Sandmanda mesma plataforma de streaming, ganhou sua primeira temporada. A jornada acompanha Edwin Paine (George Rexstrew), morto em 1916 e Charles Rowland (Jayden Revri), morto em 1980, que se recusam fazer a passagem e decidem viver na terra como fantasmas resolvendo casos que tenham algo de sobrenatural envolvido. Por isso, Edwin e Charles vivem fugindo da Morte (papel reprisado pela majestosa Kirby Howell-Baptiste), do universo da série original. 

A originalidade desses dois mortos-vivos está em trabalhar também os seus traumas. Enquanto Edwin carrega a experiência de ter ficado preso sete décadas no Inferno por conta de um erro, Charles precisa lidar com a experiência de negação e de desprezo que viveu na sua juventude antes de vir a óbito. Essas características que são tão valiosas para o ser humano acabam que conquistando o público e rejuvenescendo o que Sandman significou para os jovens de sua geração. Garotos Detetives Mortos é uma história que sabe se distanciar da sua raiz ao mesmo tempo em que conversa e respeita o universo de onde veio, criado pelo magnífico Neil Gaiman. 


Mais série de detetives... é sério? 

Por mais que trabalhar uma história tão manjada como a de detetives resolvendo mistérios, a nova investida do streaming consegue misturar Scoob-Doo com suas risadas e aventuras e Supernatural com o sobrenatural sério e que pode nos afetar. Essa mistura funciona bem e consegue entregar uma história digna de nossa atenção. Há um episódio que coloca os jovens diante de um farol, onde as pessoas, ao ouvirem uma certa voz, se lançam no mar e morrem. Neste episódio, há tantas camadas, como a da lavadeira que se entrega ao seu trauma histórico; a Crystal (Kassius Nelson) que diz ouvir a voz de sua mãe, sem ao menos se recordar de como ela era; a “prisão” de Edwin com as amarras do Gato Rei (Lukas Gage) que, ao mesmo tempo, os criadores conseguem inserir ali uma narrativa secundária de descoberta da própria identidade. 

A união dos dois jovens parte de um interesse em comum: permanecer entre os vivos solucionando mistérios. Como eles têm acesso aos dois mundos, o trabalho da agência de detetives acaba conquistando por suas aventuras. Os garotos ainda utilizam de portais entre espelhos para viajar de um país ao outro, de um endereço ao outro e, quando esta habilidade é tirada de Edwin por conta de um bracelete imposto pelo Gato Rei, esta forma de “prisão” num único lugar serviu de âncora para sustentar toda a temporada. Tal iniciativa abre portas para explorar outras histórias em possíveis temporadas futuras. 

Em toda jornada, sempre há o antagonista, neste caso, quem protagoniza este posto é a bruxa Litty (Caitlin Reilly), que se alimenta de crianças para manter sua pele jovem, já que foi abençoada pela imortalidade, mas não pela juventude. Litty e seu corvo Monty (Joshua Colley) empreendem planos (muito fracos, por sinal) para aprisionar ou matar os garotos detetives que acabaram por destruir seus planos de roubar crianças na pequena cidadela em que vive. O crescimento da personagem é lento e pouco gradativo. A ameaça de Litty acaba por não nos assustando, mas é o aparato que Crystal encontra para descobrir a magnitude de seus poderes e de sua ancestralidade. 


Presença de Ruth Connell 

Já somos apaixonados pela bruxa Rowena de Supernatural, personagem de Ruth Connell. Vê-la de volta numa obra de mesmo cunho narrativo provocou grande alegria no público. Connell é uma espécie de vigia do inferno. A guarda da noite, ao perceber que algo estava fora do seu lugar, decide ir à terra afim de dar aos jovens detetives o destino que lhes cabia. Connell, com a sua mesma elegância que estamos acostumados a assisti-la em tela, é sagaz, poderosa, maldosa e muito perspicaz em cena. Ao usar a vidente Crystal para atrair os garotos, percebemos o quão grande é sua personagem e que o seu futuro pode ser rico. 

Além de Crystal, Nico (Yuyu Kitamura) e Jenny (Briana Cuoco) também acabam descobrindo a presença do sobrenatural em suas vidas. Enquanto Nico passa pela experiência de quase-morte ao ter seu corpo tomado por duendes; Jenny quase é explodida junto de seu açougue. Vale lembrar que aqueles que passam pela experiência de quase morte acabam conseguindo enxergar os dois fantasmas vagando pela terra. Ao mesmo tempo que este conceito é bom, ele tem suas falhas: então, todos aqueles que quase morrem podem ver os mortos? Argumento meio furado, não é mesmo? Contudo, esta problemática não nos atrapalha a continuar maratonando os episódios. 

Por fim, a agência investigativa Os Garotos Detetives Mortos encerra este primeiro ano com alguns acréscimos: a guarda da Noite recebe de sua superiora do Inferno a missão em acompanhar os jovens mortos na terra, devido ao grande serviço que eles prestam a favor das almas que precisam ser libertadas e fazer a passagem para o Além (do bem ou do mal). Jenny e Niko, saem da pacata cidade e decidem ir para o centro de Londres. Enquanto Crystal pode continuar ajudando nas investigações devido ao seu talento sobrenatural, Niko e Jenny precisam encontrar seus lugares nessa nova jornada de suas vidas. Um segundo ano, caso aconteça, pode nos inserir em novas ameaças e muitas risadas com este time.




Por Dione Afonso  |  Jornalista

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