11 Apr
11Apr

Em tempos de Resgate Implacável, de David Ayer e tantos outros filmes de ação povoando nossos streamings e tumultuando as salas de cinema, G-20 chega até nós como um sopro de esperança. Bons filmes de ação precisam a todo instante serem lembrados pela sua boa narrativa. Não se trata apenas de tiros, socos, bombas, artilharia pesada e boas lutas coreagrafadas. Tem que ter boa história, diálogos que fazem sentido e emoções que sejam tão verdadeiras quanto os tiros. Durante décadas filmes que têm o contexto bélico como pano de fundo têm garantido uma cadeira na Academia do Oscar e, com frequência, vencido premiações. G-20, é sobre guerra, e é sobre muito mais do que isso: é sobre política, sobre família, sobre poder e estratégia, sobre guerra e sobre terrorismo. 

Estamos diante de uma história com Viola Davis interpretando a presidente dos EUA e Antony Starr como o líder corrupto. Davis e Starr tem atuações impecáveis e protagonizam um embate perfeito diante das estratégias político-econômicas. O mercado da moeda digital com o surgimento dos bitcoins gera interesse ambicioso para Rutledge [Starr], enquanto que Danielle Sutton, ex-fuzileira de guerra e atual presidente, [Davis], é um caminho inseguro e que desestabiliza todo um sistema econômico mundial. O elenco ainda conta com ótimas atuações de Clark Gregg; Marsai Martin; Anthony Anderson e Ramón Rodriguez. A direção do longa está a cargo da cineasta mexicana Patricia Riggen, com roteiro de Caitlin Parrish e Erica Weiss. 


Não um líder, mas uma voz 

Starr se serve impecavelmente de um líder corrupto político-econômico que se usa de sua sagacidade para dominar o mundo através de poder e de muita arrogância. Também é um ex-fuzileiro, mas, ao contrário da personagem de sua rival, ele não conquista a mesma originalidade e status. A vida não parece ser tão bela e cheia de oportunidades para Rutledge. Tomado pela ganância e pela necessidade de se dar bem ele se aproxima das maiores potências mundiais e numa reunião da cúpula do G-20, realizada na África do Sul, Rutledge se autorrealiza através das sombras que o cercou. Talvez, o ponto fraco do filme foi levar o embate para um conflito mais pessoal do que deveria. Enquanto a guerra se ocupa de um interesse global, o filme é potente, forte, verdadeiro e cheio de relevância. A partir do momento em que Sutton e Rutledge entram na zona confortável da pessoalidade, o longa perde força. 

Talvez, o fato de não ter desenvolvido o elemento das cripto-moedas possa ter incomodado alguns espectadores. Contudo, por mais que fosse um elemento relevante, sobretudo partindo daquela chamada inicial do filme com uma cena muito bem-feita de perseguição, isso não compromete o desenvolvimento do filme. Não fez falta. O filme não se envergonha de se ter uma presidente mulher e negra comandando a cúpula global do G-20. Davis é honesta com sua personagem e não a entrega para ser manipulada por uma propaganda barata. O que vemos é como que, ao abandonar o sapato de luxo e de salto alto por tênis vermelho e com aparência surrada, Davis entrega uma atuação digna de presença. Este é o melhor filme sobre os deep-fakes que já vimos, pois, percebemos o que uma falácia pode gerar no mundo todo e como que um jornalismo maquiado e sem verdade pode destruir mundos.

Salvar o mundo ou a família? Proteger os filhos ou dar a eles a chance de se provar? E desconfiar da melhor amiga? O plot twist é real, verdadeiro e forte. A personagem de Elizabeth Marvel, interpretando a Secretária de Estado e mulher próxima da presidência retomou a potência da narrativa. A jornada de Danielle Sutton é forte, cheia de originalidade e com grande relevância. Não estamos ressaltando a beleza dos EUA ser representado por uma mulher negra, mas vai além. Viola Davis é mulher, forte, humana, poderosa, com garra e cheia de beleza, porque não se contenta em deixar alguém para trás. A história não deixa pontas soltas e ver o destino de cada personagem como reflexo de suas escolhas é satisfatório, assim como também é ver Sutton em duas capas da Revista TIME: a que deu a ela fama, nos tempos de guerra e a que deu a ela humanidade, como Presidente dos EUA. Uma troca do uniforme do exército para o conjunto sério da posição que ocupa.




Por Dione Afonso  |  Jornalista


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