O conceito de literatura de massa nasce no auge do movimento capitalista e da ascensão da burguesia. Os motivos pairavam sob o desejo de terem escritos mais populares o que obrigou os romancistas romperem com o Classicismo fazendo surgir uma literatura mais acessível, inclusive na forma de publicação. Os escritos da atual escritora norte-americana Collenn Hoover (1979, 44 anos) encaixam-se no referido conceito. Seu livro É Assim Que Acaba, publicado em 2016 tornou-se um best-seller mundial quebrando rankings de vendas. Considerado uma das obras mais lidas durante o período da pandemia, o livro também é um dos mais intimistas da autora, a ponto de a protagonista principal da história ser inspirada na própria Hoover.
Dirigido por Justin Baldoni, a obra de Hoover ganha sua primeira adaptação para o cinema. Protagonizado por Blake Lively, que dá vida a Lily Bloom, a obra de Baldoni acerta em cheio na adaptação. Ao lado de Lively, Baldoni também estrela o filme, dando vida à Ryle; Brandon Sklenar é Atlas e Jenny Slate vive a irmã de Ryle e melhor amiga de Lily, Allysa. Ao lado deste quarteto, o público irá se encontrar com uma história poderosa sobre superação, coragem e recomeço. Ao mesmo tempo, suas emoções poderão se exprimir ao encontrar cenas e diálogos profundas e sensíveis sobre a vida, família, amor e amizade.
Mesmo o filme tendo recebido inúmeros pontos negativos nas redes, percebe-se que tais movimentos estão mais relacionados a fofocas de bastidores e produção do que com a qualidade da obra de Baldoni. Encontramos uma Lily disposta a virar uma página da sua vida que sonha em esquecer. Delicada, meiga, sensível e prudente, o público acompanha uma mulher que sonha em abrir sua floricultura. Lily não sonha em encontrar um grande amor, pois ela já o viveu... no passado... que marca seu presente e retorna no futuro. O filme é tão bem produzido e tão bem escrito que quem não leu o livro se conecta com toda esta sensibilidade de Lily. Conhecemos um Atlas que é o verdadeiro retrato do jovem que foi salvo do próprio ato de tirar a vida. Um jovem que precisou encontrar um sentido novo para viver.
Há no filme – e talvez nas páginas de Hoover isto, talvez, não seja tão explícito – um momento de virada de roteiro. A cena no restaurante em que o passado e o presente se encontram – Atlas e Ryle – e este encontro irá alterar o futuro de Lily é uma das melhores cenas de todo filme. Ali vemos o quão bem-feito foi o trabalho de direção. Vemos toda a potência que a história deste livro teve a intenção de contar e de ser recontada através das telas das salas de cinema. Ryle é ganancioso, o clássico homem machão que só busca prazer e sexo. Ao conhecer Lily, insiste em dizer que algo mudou para sempre em sua vida. Ryle é aquele retrato de homem na qual decidir por se relacionar com ele não seja uma decisão muito acertada.
Tudo o que vemos é genuíno, verdadeiro, acertado e direto. Para quem leu o livro e conhece a vida da escritora, sabe que o livro se inspira em sua própria vida, inclusive na relação que ela viveu com os pais. Hoover não sente medo de dizer a cada página o que sentiu, viveu, sofreu, amou e entregou por si mesma aos outros. É Assim Que Acaba não põe um ponto final, mas reconhece que o que acaba não é a sua vida, mas o que não a deixa viver. Para Atlas, “é assim que acaba” encontra um sentido novo para começar de novo, viver de novo. Para Ryle, “é assim que acaba” encontra um desejo novo para começar algo que ainda não experimentou. Para Lily, “é assim que acaba” põe um ponto final nesta página para começar uma nova história... ou... um livro novo, não é Hoover?
Mesmo sabendo que a narrativa do livro passa por episódios de violência doméstica e de negação familiar, o filme não se deixa privar por isso. A história de Lily está em primeiro plano e negar defender o pai no próprio velório para satisfazer a falsa alegria da mãe já é uma cena de abertura impactante. Ao questionar a mãe, que apanhava de seu pai, porque que ela insistiu em ficar, esta afirma que sair de casa era mais difícil. Ficar e suportar parecia ser a saída menos dolorosa. Atlas saiu de casa porque não suportou ver a mãe apanhar do marido e quando decidiu intervir na briga, ela o expulsou de casa. Os episódios se repetem no casamento de Lily e Ryle, quando este descobre a respeito do passado dela com Atlas. Lily se mostra uma mulher muito forte. Compreensível, mas verdadeira.
Lily diz não a um relacionamento abusivo e que não a fará feliz. Não é uma gravidez e nem uma sociedade julgadora que irão impedí-la de viver sua própria história. Sua melhor amiga, Allysa, também se mostra verdadeira e sincera ao dizer que Lily precisa pôr um ponto final nisso: “É assim que acaba”. O filme merece nossa atenção pela sua qualidade de produção e atuação. Temos um time de atores e atrizes que, de fato, se apaixonam pelos seus personagens e são verdadeiros com o que cada um viveu e vive. O filme tem um peso literário significativo, portanto, tal fidelidade às páginas, neste caso, faz toda a diferença. Os relacionamentos abusivos não é algo só de livros e filmes, pode estar do seu lado neste momento, só esperando você decidir como será o seu “É Assim Que Acaba”.
Por Dione Afonso | Jornalista