24 Jan
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O último Zorro que temos gravado em nossas memórias é aquele que o ator Antonio Bandeiras protagonizou em dois longas-metragens (1998-2005). Depois disso outras tentativas fracassadas tentaram dar nova vida ao herói (latino?) nas telas, mas, nenhuma vingaram. Quase 20 anos depois o personagem retorna numa produção serial evocando o mesmo espírito original de quem o mascarado é, de fato. O lendário foi criado por Johnston McCulley na década de 1919, desde então, ele aparecia e fazia grandes sucessos na literatura e nos jornais e revistas da época. Em sua origem, Zorro aparece como um vigilante mascarado que defende e protege os plebeus e povos indígenas. Atrelar sua luta com a política e os modelos corruptos de governo era algo provável de acontecer, contudo, a essência do personagem é outra bem maior. 

Agora, nas mãos do ator Miguel Bernandeau, Diego de la Vega é o Zorro. Com os 10 episódios de sua primeira temporada, la Vega protagoniza um personagem misterioso, as vezes sarcástico, muito carismático, rico e com aquela aura de bom moço e generoso. De fato, Diego é tudo isso. A sua descoberta ao viver o mascarado noturno compõe uma jornada interessante quando o criador Carlos Portela confere uma aura mística e espiritual para a existência de Zorro. Aqui vemos que Zorro nunca morre, pois ele é maior que o homem que carrega seu nome, sua espada e seu chapéu. Zorro é um espírito forte e guerreiro, protegido pelos povos originários e amigo da justiça, do Bem Comum e da verdade. Nunca um espírito vingativo e sanguinário. 


Contexto e originalidade 

Portela acerta mais ainda ao manter a história na Califórnia durante o século XIX. O domínio espanhol e do México mantém aquela política não muito segura sobre o povo e vemos que há também a presença e o interesse dos chineses, dos alemães e dos norte-americanos dos EUA. É nesse contexto político e cultural que Diego de la Vega surge como um filho único herdeiro de toda a fortuna do pai, bem como propriedade e minas e, também, como Zorro: um mascarado que precisa lutar contra seus princípios e sua fortuna, sendo um homem branco e rico, terá que enfrentar os seus. Bernandeau consegue equilibrar esta postura dúbia de seu personagem e confere um carisma exemplar às cenas. O roteiro equilibra muito bem as disputas políticas e as paixões, deixando que a história consiga fluir e conquistar o público. 

A história começa com o assassinato de Alejandro de la Vega, pai de Diego, seguida, também, da morte de Zorro. Este, antes de Diego assumir a máscara, era um homem nativo dos povos originários. A sucessão de um homem indígena para um homem branco e rico gerou revoltas por parte daqueles que conhecem a identidade secreta do mascarado, mas, como afirmamos, ligar a existência de Zorro à mística espiritual foi eficaz para garantir esta sucessão que é anunciada por uma raposa (significado em espanhol da palavra “zorro”. Zorro, portanto, precisa lidar com as questões desta sucessão e com as ameaças que põe em risco a ordem e a lei na Califórnia. 

Destaques especiais merecem os personagens Lolita (Renata Notni) (amor antigo de Diego), prometida em casamento ao Capitão Monasterio (Emiliano Zurita); Lucía e Tadeo Marquez, (Elia Galera e Andrés Almeida) pais de Lolita, o amigo de família dos la Vega, Bernardo (Paco Tous) e o jornaleiro da cidade, Janus Carter (Peter Vives). Peças fundamentais para que a jornada de Zorro se consolide. Lolita se casa com o Monasterio guardando uma paixão proibida por Diego. Após descobrir seu segredo envolvendo o mascarado, ela se distancia ainda mais de seu antigo amor. Diego descobre que a morte de seu pai envolvia um clã secreto chamado de O Urso, cujo sua liderança estava nas mãos de Lucía, mãe de Lolita. 


O Zorro e seus próximos passos 

A primeira temporada deixa uma sequência em aberto, sobretudo quando surge uma dupla afirmando ser mãe e filho, cujo, o filho é meio-irmão de Diego. Eles chegam à Califórnia exigindo seus direitos de herança. Claro que Samael e Carmen de la Madrid (Joel Bosqued e Estibalitz Ruiz) não têm essa intenção. Além de fingirem o parentesco, eles ambicionam tirar Diego de circulação e herdarem tudo o que pertenceu a Alejandro. O futuro está nas mãos de Bosqued. Seu personagem pode se tornar um forte oponente para Diego e para o Zorro. Mais um forasteiro branco que almeja controlar a Califórnia, escravizar os pobres e os indígenas e massacrar os chineses e alemães que também lutam pelos mesmos interesses gananciosos. 

Os russos não apresentam tanta ameaça, mesmo colecionando para si uma série de assassinatos. Contudo, eles aproveitam a má fama de Zorro, ligando-o às mortes. Ato que poderá não se sustentar por muito tempo. A Marca Z cicatrizada em testas e bochechas daqueles que recebem a visita do mascarado representa certa nostalgia do que já conhecemos do herói em outras produções. Um desacerto dessa produção, pode ser, talvez, a demora em que o roteiro teve em explicar o porquê que Diego é a escolha mais acertada para levar adiante o legado de Zorro. Seus embates com a nativa Nah-Lin (Dalia Xiuhcoatl) foram, demasiados, prolongados. No final, atrelar sua personagem como uma futura ajudante de Zorro, foi uma boa aposta como a Serpente Vermelha. 

A produção segue promissora. Zorro tem um futuro positivo pela frente e muitas ameaças. A ida de Diego de la Vega a Nova York irá despertar novos sentimentos e inimigos ainda maiores e mais perigosos que ameaçarão o futuro da Califórnia e de seus povos. Zorro terá a árdua tarefa de manter a paz entre estes povos e lidar com Samael e seu espírito sanguinário que promete liquidar de vez com a existência de qualquer membro da família la Vega. Lucía, fugitiva da cadeia, une-se aos alemães e deverá instaurar uma nova era para o clã O Urso, dando mais problemas para Zorro e companhia.




Por Dione Afonso - Jornalista

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