05 Mar
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“Assim que Monica vê Wanda e percebe que está de luto, ela reconhece suas experiências paralelas e que ambos estão enlutados. Então eu acho que Monica está lidando com [sua dor] da melhor maneira que pode. Não estou dizendo que é a forma mais eficaz e terapêutica, mas sinto que ela está tentando se reconciliar com sua própria dor ajudando Wanda com a dela. [Tudo isso] ... é épico e incrivelmente triste. Quer dizer, toda a série é incrivelmente triste para mim, mas estou juntando essas palavras”.    

[Teyonah Parris, em entrevista para o THR, fev.2021].   




WandaVision já é realidade entre nós! “Ou não, isso vai depender dela...” A primeira série produzida pela Marvel Studios sobre a coordenação de seu presidente, Kevin Feige chegou na plataforma de streaming Disney + no dia 15 de janeiro. A plataforma da Disney + liberou já logo no início os três primeiros episódios. E as expectativas nos surpreenderam. De um lado, vemos o casal vivendo algo que os cinemas não deram tela o suficiente enquanto de outro, vemos o humor, o carisma dos atores e a atuação impecável de Olsen e Bettany.

Para quem estava já engessado numa lógica do MCU sem surpreender, vai encontrar em WandaVision um novo mundo. Tudo totalmente novo e ousado, algo que a Marvel jamais fez (talvez, em 10 anos, nem tinham pensado). A ideia de expandir o MCU não parecia ser tão grandiosa até o advento desse projeto. Vale lembrar que, mesmo sendo tudo novo, estamos na Marvel e a Marvel pode fazer o que ela quiser que nós vamos comprar a ideia. Sua receita vem funcionando por mais de uma década e nunca decepcionou. 

Agora, o MCU se expandiu. O universo e a realidade de heróis, pessoas sobre-humanas, com poderes que vão além da humanidade se aproximam ainda mais de nós. Agora, a Marvel está na TV, no cinema, no celular, na sua plataforma virtual de streaming. O casamento consolidado com a Disney Plus vem para alargar nosso horizonte e nos oferecer muito mais do que esse Universo Marvel pode nos dar. 

(A partir daqui o texto segue com spoilers de toda a primeira temporada) 



Uma homenagem à história da televisão: “se é pra ousar, ousaremos com perfeição!” 

Quando vemos as primeiras cenas do episódio nos vem a grande surpresa: os dois primeiros episódios são característicos de novela em preto e branco. Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany) protagonizam uma sitcom inspirada lá dos anos 50. As referências literárias televisivas nos mergulham numa nostalgia e numa celebração gloriosa dos anos da TV. Mais que história, WandaVision nos presenteia com o melhor que cada década pode oferecer por trás dela pequena tela. Explorando esse estilo das sitcoms, o casal tenta emplacar uma vida conjugal normal numa cidade interiorana com humor e um pouco de insegurança. 

A cada episódio, as sitcoms vão seguindo as décadas de evolução da TV americana. As referências vão desde a Feiticeira até Modern Family. E vemos a referência à primeira sitcom lançada; a primeira série a cores veiculada; a série de maior sucesso... Enfim, é uma aula de história da televisão americana que bebeu todas as suas fontes no cinema e construiu o que Feige condensa numa séria de 9 episódios. 

Percebemos de início que o roteiro funciona e os eastes eggs nos dão uma saudadezinha “daquilo que já vivemos no cinema”. Wanda repete esse mantra continuamente, “nós só precisamos nos encaixar” e Visão dá a característica cômica da série. Estamos acostumados a ver Wanda como uma personagem sofredora que a cada aparição nos filmes da Marvel ela sofre uma perda até, de fato, perder tudo. Em WandaVision ela não está disposta a perder, mas seu sofrimento é explícito. Quem assina o roteiro é Jac Schaeffer e a direção está por conta de Matt Shakman. Eles criaram um início bem ao estilo de “Era uma vez...” querendo contar uma historinha, agora, resta saber até quando o conto de fadas vai virar pesadelo. 

Mais perguntas que respostas: como será esse promissor multiverso? 

Wanda fica grávida; Monica Rambeau (Teyonah Parris) perde a mãe naquele intervalo de cinco anos do estalo do Thanos; Agatha Harkness (Kathryn Hanh) surge como a vizinha bisbilhoteira, mas revela sua identidade de bruxa; o vilão não nos fica claro quem é e a aparição da S.W.O.R.D. com o retorno de Darcy Lewis (Kat Dennings) e de Jimmy Who (Randall Park). Tudo isso vai sendo apresentado na série deixando mais perguntas que respostas. WandaVision meio que “rebubina a fita” de nossas memórias e nos faz voltar no tempo buscando as referências de Era de Ultron; Thor; Thor e o Mundo Sombrio; Homem-Formiga e Vespa; Capitã Marvel... etc. Estamos no solo da Marvel e tudo está interligado. A ideia de multiverso, mais que expansão, simboliza conexão. Todas as histórias são uma história só! 

WandaVision e o Universo Expandido do MCU conecta o antes com o depois no agora. Uma das referências que nos surpreende nos remeteu a uma daquelas realidades alternativas que a série Agents Of S.H.I.E.L.D. nos apresentou. Uma outra, e essa o tom misterioso, sério e perigoso da série nos remete de volta a uma realidade bem mais emblemática e confusa. Vale ressaltar que enquanto a Marvel faz da série uma linda homenagem à televisão, ao mesmo tempo precisamos levar em conta que é a Marvel. E, sendo a Marvel, nada está ali por acaso. Quando Wanda está conversando com Geraldine/Monica Rambeau após o nascimento de seus gêmeos ela cita seu irmão gêmeo, o Pietro/Mercúrio (Evan Peters) que conhecemos lá em Era de Ultron. E é aí que a maior cena acontece. Quando Geraldine cita o nome de Ultron, Wanda a questiona quem é ela?! 

O multiverso vai ficando cada vez mais claro e possível para nós, sobretudo com a presença dessa organização que é como um braço direito da S.H.I.E.L.D. A cada episódio vai ficando cada vez mais difícil imaginar quem será capaz de trazer Wanda de volta e impedir que essa realidade faça algo maior e pior. 


Linha temporal e o luto da Wanda 

Desde os eventos de Vingadores: ultimato, Kevin Feige afirmou que tudo o que for produzido a partir de então será pós o estalo de Thanos. Assim sendo, Homem-Aranha: de volta ao lar é contextualizado 8 meses após. O filme do “amigão da vizinhança” inicia contanto os impactos misteriosos do que foi chamado de “blip”, no qual quem voltou do estalo, voltou 5 anos depois e seus amigos estavam, naturalmente, cinco anos mais velhos. Em WandaVision também vemos o resultado do “blip”. Sabemos que Maria Rambeau, mãe de Monica estava se tratando de um câncer terminal. Monica, ao ser “blipada” e trazida de volta 5 anos depois, descobre que sua mãe faleceu nesse período. Vivendo um luto forçado, Monica retorna à organização que sua mãe havia criado, a S.W.O.R.D. 

Os eventos de WandaVision acontecem 3 meses depois de Ultimato. Ou seja, está entre os acontecimentos de Peter Parker e a “volta ao normal” de 50% das coisas vivas que Thanos havia dizimado. Esse contexto é muito significativo para nós. Enquanto os outros vingadores estão retornando suas vidas, reconstruindo seus lares, se reconectando com suas famílias, Wanda não tem ninguém. Não há com o que se reconectar. Sem seu irmão, sem seu amor, o Visão, Wanda não teve nem a oportunidade de um enterro. E aí, chagamos a WandaVision.  

A cada episódio sentíamos um soco no nosso estômago misturado a emoções e a risadas (de medo). O casal protagoniza uma realidade fantasiosa onde a mente de Wanda controla e impõe seus desejos e vontades. Após os eventos que envolveram Os Vingadores e a luta contra Thanos, o corpo-robô-morto de Visão é recolhido pela S.W.O.R.D. Wanda vai até a base e se despede numa cena de cortar o nosso coração. “Eu não sinto mais você”, uma referência dolorosa à uma das cenas entre o casal em Guerra Infinita, “é só você que eu sinto”. 

Wanda vai até a um vilarejo chamado WestView onde Visão havia comprado um terreno para morar com ela. A dor do luto é tão profunda e tão dolorosa que Wanda se descontrola. Libera seu poder e cerca toda uma cidade num campo magnético, controla a mente dos moradores e cria uma realidade perfeita com ela, Visão (vivo?) e seus filhos que vieram logo depois numa gravidez que durou umas 3 horas e seus gêmeos chegaram aos 10 anos em um dia. 


A Feiticeira Escarlate: “ninguém mais vai tirar tudo de mim” 

Para concluir essa breve análise, é muito importante termos em mente que WandaVision é um projeto, antes de qualquer coisa, de transição. Seria, antes de ligação, se a pandemia não estivesse atrasado os lançamentos dos filmes da Marvel. Viúva Negra sairia logo depois de Ultimato encerrando a Fase 3 e iniciando a Fase 4. Os planos mudaram e o primeiro projeto lançado foi logo o protagonismo da Feiticeira Escarlate. No entanto, precisamos de Viúva Negra para que as coisas continuem se encaminhando numa cronologia que faça sentido. 

Wanda é a Feiticeira Escarlate! E mencionar isso é, além de ser uma referência direta às HQs é um belo pontapé para o que está por vir. Mais do que uma experiência com uma joia do infinito, ela se torna o centro de um poder grandioso e que estará longe de ter seu ciclo encerrado nessa Fase do MCU. Como tudo na Marvel, as coisas se encerram deixando ganchos para que a história continue. Toda a realidade de Wanda desaparece. Os vilões da história ficam com um encerramento de portas abertas para possíveis retornos e novos personagens surgem para continuar o legado do MCU como Monica Rambeau que, possivelmente será a Fóton. 

Arcos esses que só com a chegada de Capitã Marvel 2 e Doutor Estranho no Multiverso da Loucura irão nos responder. Os adiamentos desses longas poderão trazer sérios problemas de cronologia para o que a Marvel construiu até agora. Pressões são feitas em cima dos estúdios da Marvel e de seu presidente para que os lançamentos aconteçam nas plataformas digitais. Afinal, até quando essa realidade (não a da Wanda) continuará presente entre nós? 



“Eu nunca vivenciei a perda porque... Eu nunca tive uma pessoa para perder. Mas, o que é o luto, se não o amor que perdura?

 (Visão, personagem de Paul Bettany no MCU. WandaVision, 2021. Disney +)



Por Dione Afonso 

Jornalismo PUC-Minas

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