18 Jul
18Jul

O mérito que não podemos tirar da produção de Erik Kripke é sua lealdade com as HQs que deram origem e identidade a The Boys. A sátira originária do quadrinista Garth Ennis não tem medo de esfregar em nossa cara o fracasso social de uma fajuta fraternidade humana que nunca existiu na vida prática, mas que sempre esteve entubada nos conceitos e nas regras humanitárias. Enquanto que as duas primeiras temporadas se ocuparam em nos manter bem informados sobre o que estávamos prestes a assistir, é na terceira temporada que entendemos a fundo do que esta série se trata na verdade: entre vilões e mocinhos, independentemente de sua intenção, explorar a fragilidade do outro é sempre um caminho que nunca estamos dispostos a não explorar. 

O quarto ano da série chegou e ela veio demasiado lenta e sem propósito: Billy Butcher (Karl Urban) está quase morrendo de um câncer no cérebro, mas, este “quase morrendo” nunca chega ao fim. Luz Estrela (Erin Moriarty) vestiu-se de uma incredulidade e chatice aguda que nos fez perder “o tesão por ela” e, tanto faz, tanto fez sua presença nesta temporada. O Capitão Pátria (Antony Starr) tenta uma conexão com seu filho Ryan (Cameron Crovetti) que também não rende muito e as narrativas dentre os episódios não se conectam e entregam apenas mortes cada vez mais nojentas e conflitos internos nada impactantes. 


Tudo em vista de um final grandioso 

Parece-nos que a grande sacada deste novo ano de The Boys está concentrada em construir o “Thanos” deles e nos entregar uma ameaça grandiosa no capítulo final. Esta quarta temporada é uma verdadeira enrolação de público afim de moldar um final grandioso. Victoria Neuman (Claudia Doumit) fez seu papel de política sensata e disposta a ceder às pressões de Capitão Pátria. Seu caminho, diante de nós, já estava meio que traçado, tanto que não nos surpreendemos com o seu final. Este núcleo politiqueiro nos rendeu uma narrativa mais densa e dramática, tendo que lidar com conceitos e teorias do gênero, mas foi muito bem costurada, a ponto de a série ter que alterar o título do episódio final depois do atentado ao candidato à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump

A inserção de uma “heroína mais inteligente do mundo”, Mana Sábia (Susan Heyward) também foi uma boa escolha. A sátira que sua personalidade carrega sobre todo este universo de heróis faz jus às empreitadas dos estúdios um pouco sem sucesso em franquias já saturadas pela indústria do entretenimento. É importante afirmar que nós não acreditamos que os filmes de super-heróis fazem parte de um gênero específico. Não. Não é uma caixinha que compete com as outras. Os filmes de super-heróis navegam sobre os outros gêneros como o terror, o romance, a comédia, o drama, etc... Mana Sábia pode representar muito mais do que os oito episódios tentaram nos mostrar. 

A conexão com Gen V, spin-off de The Boys também foi bem sutil e específica. Não houve aquele esquema piramidal em que um se faz necessário a partir do outro. Mas foi um toque extra que fará grande diferença para o capítulo final. A decadência – ou seria ascensão? – de Ashley (Colby Minifie) pegou-nos de surpresa. Injetar em si mesma o Composto V foi uma atitude desesperadora em garantir sua sobrevivência. 


Redenção ao Trem-Bala? 

Jessie Usher dá vida ao Trem-Bala. E a quarta temporada só faz sentido e só nos dá prazer em assistir por causa dele. É perceptível que entre mocinhos e vilões, entre medos e esperanças, há aqueles que transitam numa corda bamba tentando se definirem onde que se encaixarão no dia do “juízo final”. Trem-Bala é este personagem que pode mudar o rumo desta história. É alguém que pode colocar o equilíbrio de volta para uma humanidade que segue perdida e sem possibilidades de salvação. Com Billy, agora, um Super – esquece que ele estava pra morrer – que quase morto, não morreu em oito episódios, podemos esperar uma conclusão grandiosa para The Boys

O que será que acontecerá com Kimiko (Karen Fukuhara)? O Francês (Tomer Capone), ao que parece, está fora do jogo. E Leitinho (Laz Alonso)? Para onde o levaram? Com Luz Estrela voando furiosa para o horizonte, será ela a peça-chave para salvar todo mundo, assim como a Viúva Negra da Marvel fez depois de Capitão América: Guerra Civil? A quarta temporada nos deixa com muitas perguntas, muitas indecisões, muitas imperfeições e muita tristeza diante de uma série que teve 3 temporadas excelentes e grandiosas.



Por Dione Afonso  |  Jornalista

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