15 Feb
15Feb

É inevitável não sentir receios antes de dar play na nova investida da Prime Video em recriar um grande sucesso de 2005 que gerou um dos casais mais famosos (e sensuais) de Hollywood. Sr. e Sra. Smith ganhou, pelas mãos de Brad Pitt e de de Angelina Jolie uma porta escancarada de boas cenas e de sucesso, tanto nas telonas, quanto na vida real. O filme de Doug Liman só tinha um material a ser explorado: uma conversa de consultório de uma terapia de casal. O resto você pode apelidar de “liberdade criativa”, ou de inteligência engenhosa, pois a história que se desenrola nas telonas é muito boa e muito bem feita. O clássico narra a vida do casal Smith que, de início, não passava de uma dupla comum, num casamento pacato, ambos com empregos chatos. Porém, tudo vira de cabeça para baixo quando ambos descobrem que, na verdade, eles são espiões de agências rivais e que, cada um recebe a missão para eliminar o outro. 

Agora, temos um novo John Smith e Jane Smith em nossas telinhas. A mesma inspiração do filme é adaptada numa série de TV nos apresentando um casal de estranhos solitários empregados pela mesma agência de espiões, no qual terão que fingir um casamento arranjado enquanto desenvolvem as missões secretas. A dupla é protagonizada pelo ator e rapper norte-americano Donald Glover e pela atriz que já foi indicada pelo Emmy, Maya Erskine. Toda e qualquer chance da série se confundir com o filme de 2005 cai por terra. E isso já é um forte ponto positivo para assistir a essa dupla que nos rendem boas cenas de comédia, suspense e um roteiro muito afiado e bem feito. 


O casamento é a pior missão 

Manter um casamento de fachada é quase que uma missão impossível. O Smith de Glover e de Erskine, ao contrário de Pitt e Jolie no filme, terão que fingir estarem casados e viverem como marido e mulher. A série consegue se sustentar em sua própria personalidade e tocar em temas como origem e identidade de pertença: a Jane de Erskine parece ter descendência asiática e o Smith de Glover também parece carregar raízes do outro lado do mundo. Aos poucos, enquanto o casal precisa conquistar a confiança de ambos e compartilhar informações necessárias, a dupla também tenta conquistar a confiança do público nos mostrando que aquela história ainda está longe de acabar. Os problemas de relacionamento vão surgindo com naturalidade e nada é forçado demais. Tudo se encaixa. 

Esta primeira temporada tem um trunfo bom nas mãos: consolidar o casamento da dupla de espiões. Mesmo sendo uma relação de fachada cumprindo ordens da Agência de Espionagem, eles começam a se relacionar mais do que esperavam e a atração acaba se tornando mais intensa e satisfatória. Ao contrário do filme, não teremos aquela cena apaixonada, mas teremos algo mais íntimo e que se encaixa melhor na história dando sentido e razão para a narrativa. Glover também assina a direção ao lado de Francesca Sloane e os dois conseguem manter o ponto cômico na medida certa e o suspense e seriedade da espionagem conforme deve ser. 


A complexidade de outros personagens 

A série abre desdobramentos que não nos incomoda e não nos tirou do foco da narrativa principal. É o que acontece com os personagens de Wagner Moura e de Parker Posey que dão vida a outra dupla de espiões, também chamados de John e Jane Smith. E isso é tão bom criativamente falando, pois a expressão, “eles também são um Smith” é um alerta para algo grande que pode ser revelado no futuro. O vizinho Hot Neighbor, interpretado Paul Dano também é um primor. Ao mesmo tempo em que ele levanta uma série de suspeitas sobre que papel ele pode estar desenvolvendo na série, vezes como o grande chefe da organização, vezes como um vilão em potencial, e, vezes, como simplesmente um vizinho bonitão, vendedor de imóveis. 

Donald Glover e Maya Erskine são os responsáveis pela série funcionar. A relação dos dois atores gera confiança em seus personagens e faz com que o público aceite o que está recebendo pela tela. Cada um consegue administrar suas fraquezas tanto pessoais como as que interferem no cumprimento das missões que recebem. A primeira tarefa que recebem se desenvolve de uma forma tão angustiante e tão boa de assistir, que o resultado dela com aquele bolo explodindo tudo e todos e muito bem feita. Wagner Moura rouba a cena com poucos minutos de tela e  nos faz querer ver mais dele em temporadas futuras. E, claro, Paul Dano ainda tem muito pra nos revelar – assim esperamos. A série merece sua continuidade e consegue fechar com chave de ouro seu último episódio da temporada deixando aquele desejo de “eu quero ver mais”!




Por Dione Afonso  |  Jornalista

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