06 Jan
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Criada por Byron Wu e Brad Falchuk, estamos em Los Angeles, onde uma família originalmente chinesa precisa lidar com o império bilionário erguido sob a tutela da máfia e da lavagem de dinheiro do outro lado do Meridiano: em Taiwan. Conhecemos os Dragões de Jade, uma facção de criminosos em que Charles Sun (Justin Chien) é um exímio lutador e assassino temido por todos e por todas as facções. Ao assistir uma tentado que quase mata seu pai, Charles se vê obrigado a ir atrás de sua mãe Mama Sun (Michelle Yeoh) e do irmão Bruce Sun (Sam Li), que desconhece todo este passado da família. Mama criou o jovem Bruce fora do mundo da máfia e tentou escondê-lo desse mundo, o que deu certo, até agora. 

A primeira temporada vai acompanhar a família Sun na importante investigação a respeito da organização que está atras dos Dragões de Jade e porque ameaça-os. Conhecidos como Boxeadores, eles têm o intuito de destruir todos os chefes das outras organizações e derrubar a Tríade, uma espécie de cúpula maior que dá sustento e consistência a todas as facções, afim de se manterem em paz e unidas. Michelle Yeoh mantém a tradição e, aos poucos suas camadas narrativas vão se desvelando, não como uma exímia lutadora, mas como mãe, como mulher oriental, como tradição e respeito pela sua cultura, pelo seu país e por sua família. Charles e Bruce desempenham um papel de rejeição e proximidade ao mesmo tempo. Dois irmãos com personalidades completamente opostas que tentam se ajustar. 


A ameaça ao império 

Há 15 anos, Mama Sun havia tomado a decisão de largar toda essa vida atrelada à máfia. Mediante um acordo feito com o marido, Mama Sun deixa Charles com o pai e vai recomeçar a vida com o pequeno Bruce. Hoje, ela, uma enfermeira e ele, um jovem estudante de medicina e aspirante a stand-up vivem em harmonia nos Estados Unidos até um corpo aparecer morto na cozinha e Charles ferido. A comédia acontece em grande parte por Bruce, pois destaca-se como o jovem bestalhão que não sabe lutar, não sabe se defender, quer ganhar a vida com shows de improviso e piadas, é virgem e não consegue nada com nenhuma garota. Tudo isso é equilibrado com a inteligência do garoto e sua profunda capacidade de memorização e criatividade. 

Mama Sun, também é cômica, com seu jeito antigo de resolver as coisas, desenterra seu antigo apelido enquanto estava na organização do marido, e a então Agenda se vê ameaçada quando descobre que os Boxeadores estão atrás dela. Com uma pergunta aqui, um presentinho ali, e uma visitinha lá, Mama Sun está de volta ao universo que havia deixado para trás e vai traçando estratégias para descobrir como colocar tudo no lugar novamente. Ação e comédia se entrelaçam na vida dos Sun. E é tudo muito bem equilibrado. A reviravolta acontecerá de forma surpreendente quando Mama Sun percebe que ela precisa voltar, mas não mais como a esposa submissa, mas como a líder da Tríade. 

É Michelle Yeoh quem equilibra os universos e faz a narrativa funcionar. Sua personagem fica entre as lutas de espadas do filho Charles e a proteção incalculável de Bruce. Uma visita dela a Taiwan, e na casa de sua mãe, revelam novas nuances e um poço de poder e riqueza orientais: Yeoh nos leva ao centro da sua tradição, indo ao cemitério chorar pela irmã que faleceu e fazendo suas orações conforme sua crença pede. Depois disso, ela volta transformada e disposta a enfrentar o ex-marido que se encontra em coma (ou, pelos menos, era o que achávamos).


Proteger a família 

A que custo? Qual é o limite? A masculinidade e a tradição que é vista como machista em certas tradições orientais é um perfeito escopo para que uma história como essa renda bons entretenimentos. Mas o pano de fundo da máfia chinesa é real e factual. As gangues, na maioria das vezes alimentaram o mercado, o comércio. Enriqueceram homens tornando-os poderosos e donos de tudo e de todos. Em poucas cenas, Mama Sun nos mostrou o que um homem tirano, machista e controlador é capaz de fazer dentro de um relacionamento e como ele pode controlar a mulher e os filhos. O dinheiro é tudo e é capaz de comprar esposas, filhos e o que mais quiser. 

Sendo orientais, vivendo no continente americano, a série não deixa de exalar aquela insegurança que essas famílias vivem neste mundo de luzes e cores dos norte-americanos. Da mesma forma, não abaixam a cabeça e tentam controlar até mesmo um país em que são a minoria. A virada por cima que Mama Sun nos concede quando decide enfrentar os homens e ser a primeira mulher a concorrer à cadeira de líder da Tríade é excelente. Sua vitória – mesmo que tendo sido realizada depois de um massacre sanguinário será um perfeito escopo para que uma segunda temporada explore ainda mais sobre o lugar da mulher e de uma mulher poderosa e com status. 

Os diálogos no mandarim, língua original também é um deleite pros nossos olhos (e ouvidos). Byron Wu e Brad Falchuk foram respeitosos aqui e conferiram credibilidade na produção que nos deram. O núcleo central da série é a dinâmica da família Sun e como que eles equilibraram suas personalidades tão distintas, mas, também, complementares e que fez tudo funcionar muito bem. 

Que venha a segunda temporada!




Por Dione Afonso |  Jornalista

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