11 Jan
11Jan

Primeira produção assinada pelo selo Marvel Spotlight – que significa que a produção não segue, necessariamente, a narrativa original do MCU e apresenta história independentes e fechadas – Eco retorna para as telas. A narrativa parte do exato momento em que a personagem nos deixou em Gavião Arqueiro: após ver seu pai assassinado por Clint Barton (Jeremy Renner) e ter apontado a arma para o Rei do Crime (Vincent D’Onofrio) e dado um tiro no olho dele, Maya Lopez (Alaqua Cox) retorna mais forte. A primeira temporada de 5 episódios não está preocupada em consolidar Maya como uma super-heroína e o conceito do time dos Vingadores também está bem longe daqui (ainda bem). Acompanhamos a personagem redescobrindo suas origens, sua infância e por onde que seu futuro irá conduzi-la. 

O primeiro ponto positivo dos episódios é que a série abandona aquela sensação de assassina sanguinária que os trailers nos apresentaram. Maya Lopez possui uma ancestralidade até então desconhecida por parte dela e acompanha-la retornando para Oklahoma, onde sua família surgiu, junto dos povos originários nos deu um arcabouço rico de possibilidades para esta narrativa. O segundo ponto positivo vai pra este time aqui: a diretora Sydney Freeland; design de produção de Melissa Jussufi; figurino de Ambre Wrigley e Stacy Caballero; fotografia de Kira Kelly e Magdalena Gorka; Rebecca Roanhorse co-assinando o roteiro e a showrunner Marion Dayre. Um grande e perfeito time de mulheres que dão “eco” às personalidades de tantas mulheres guerreiras e heroínas em seu próprio chão, com seu próprio povo. 


A descoberta de seus poderes 

Claro que o clichê do super-herói não ficaria de fora, contudo, com a origem de Maya estar ligada ao povo Choctaw deu a esta prerrogativa um novo sentido: sua força e seu poder está em você e faz ecos com as que vieram antes de ti com o propósito de defender e proteger sua família. Tanto é que o desejo de Maya em se tornar a Rainha do Crime não se consolida, pois este não é o propósito de sua vida. A temporada termina deixando um futuro de possibilidades e de novas narrativas que a personagem poderá empreender. A participação do Demolidor em poucos minutos num único episódio foi o suficiente para mostrar que a série é dela e que ela não depende de nenhuma presença masculina para garantir seu sucesso. 

Algo muito semelhante nós vimos no sexto episódio da segunda temporada de What... If?, que nos apresentou Kahhori, uma personagem também dos povos originários que precisou empreender uma jornada de busca e de descoberta, não só de suas origens, mas de sua força e seu poder. Kahhori e Eco são dois potenciais que, se o estúdio permitir, poderão ditar novos rumos para o futuro de uma franquia que já está esgotada, ultrapassada, desgastada e ridicularizada na crítica e nas bilheterias. Basta olharmos para o fracasso de Quantumania e de As MarvelsGrandes narrativas do MCU ou de qualquer outra franquia estão precisando de um respiro de qualidade, com ar puro e limpo: Eco se desponta com esta energia simples, ar puro, história curta e pequena, mas que se destaca com sua originalidade e relevância para o personagem e para quem acompanha do outro lado da tela. 

A representatividade é outro destaque muito bem avaliado no todo da obra. A diretora Freeland, de fato, revela a que veio: para contar uma história em sua inteireza e humanidade. Maya Lopez é uma jovem surda e com deficiência e a sagacidade de Freenland em dirigir cenas cruciais da personagem fez toda a diferença. O momento do acidente, onde descobrimos como que ela machucou a perna; os diálogos pela língua dos sinais, muito bem preservado e trabalhado. A magia dos ancestrais que não ficou como algo forçado e nem fora da narrativa, mas se complementou com o propósito de vida e a jornada de perdão que a personagem precisou percorrer junto de sua melhor amiga e de sua avó. 


A primeira e, quiçá, não seja a única 

Eco é a primeira série para adultos da Marvel; a primeira do Marvel Spotlight, e a primeira produção do estúdio a focar numa personagem nativo-americana. E, tomara que não seja a única. Temos uma grande torcida para um futuro promissor com Maya e Kahhori. A jornada aqui não é a do herói, mas a da mulher ferida e perdida que precisa reencontrar seu caminho de volta. O slogan da série pregado nos posteres, “nenhum crime ficará impune”, quase que perde sua relevância no decorrer dos episódios. Não é o mal que fez e nem o bem que deseja que são mais importantes, mas é o de onde veio, a que veio, para onde ir, quem sou que ganhou mais a relevância da narrativa. 

WandaVision e Loki são as outras duas únicas séries do MCU que, de fato, ganhou o título de melhores séries da Marvel. E, semelhantes à Eco, são trabalhos que se voltaram mais para seus personagens-título, empregando sentimentos, jornada pessoal, família e dramas íntimos. O Rei do Crime que se apresenta como “o elo parental de Maya” também não pesa na narrativa e a decisão em desfazer este elo parte da própria personagem, pois a jornada é inteiramente dela. Mais uma vez, é preciso exaltar a equipe de mulheres que cuidaram de cada detalhe desta obra fazendo com que ela se tornasse um verdadeiro trabalho sincero e respeitoso. 

Por fim, Eco se apresenta como um importante passo para a Marvel. Dentro ou não do MCU ela é o futuro. Kahhori pode se aliar a isso também. A interação de Maya Lopez com aqueles de quem ela se fez próxima foi guiada pela delicadeza e até mesmo pelas cicatrizes que o passado tentou apagar. Agora, é mirar num futuro em que sua nova jornada talvez possa se tornar aquela da super-heroína que precise lidar com o mal do mundo e das pessoas; buscar aliados e empreender uma narrativa próspera, sem se esquecer de sua origem.




Por Dione Afonso  |  Jornalista

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